Tecnologias. Como domar o bicho-papão que cresceu na pandemia

Vivem com o telemóvel na mão ou no bolso. O confinamento aumentou as horas que os mais novos passam agarrados aos aparelhos eletrónicos. Há perigos e potencialidades. Proibir não é solução. É um cordão umbilical que não se rompe.

No primeiro confinamento, Sónia Morais Santos, mãe de quatro – Manuel de 19 anos, Martim de 16, Madalena de 11, Mateus de seis – vestiu a pele de mãe do Ruca, da série infantil de desenhos animados, que não ralha, não se enerva, não castiga. Organizou imensas atividades em família, jogos de cartas e de tabuleiro, tempo de qualidade, sem muita tecnologia. No segundo confinamento, a mãe do Ruca perdeu o fôlego e os ecrãs voltaram a ganhar espaço.

Manuel, o mais velho, anda pela Internet para se informar, vai ao Twitter, aprecia matérias políticas partilhadas e discutidas no mundo virtual. Mateus, o mais novo, é mais apegado aos aparelhos tecnológicos, vê vídeos de futebol, partidas antigas, joga com os amigos. Vai pesquisando e os pais vão acompanhando. Martim pega no telemóvel muitas vezes ao dia, ouve música, pesquisa acontecimentos bizarros e, por vezes, descobre coisas interessantes que partilha com a família. Mais resistente à leitura, a informação chega-lhe sobretudo via online, ampara-se na Net. Madalena não joga, é mais Instagram, TikTok, dança, muita dança, curiosidades, e tudo o que tem a ver com Harry Potter porque é grande fã.

Sónia Morais Santos, jornalista, autora do blogue “Cocó na Fralda”, com vários livros publicados, confessa que tinha uma visão muito negativa do uso das tecnologias. Os receios foram desatados quando ouviu o psiquiatra Daniel Sampaio falar sobre o assunto, dessa ligação constante, permanente, diária. A tecnologia é uma janela aberta para o Mundo. Como viveriam os mais novos sem essa possibilidade durante o confinamento, quando não podiam sair de casa? Como aprenderiam? Como comunicariam com os amigos e com a família?

Sónia mudou o chip, começou a olhar para essa realidade de outra perspetiva, mas sem facilitar. “O que tento fazer, nem sempre com sucesso, é dosear”, conta. “Há dias em que ganhas, há dias em que perdes. É a vida.” Proibir esteve sempre fora de questão. “Não podemos diabolizar as tecnologias, elas não se vão embora, não vão desaparecer. Diabolizar esta ferramenta é uma tontice”, refere. E viver numa bolha, confinados, significa que os mais novos procuram coisas de que gostam e com as quais se identificam. No último confinamento, houve mais ar livre, mais contacto com a Natureza em família, mais corridas, mais quilómetros, mais passeios de bicicleta.

Clara Wessel acabou de fazer 13 anos, anda no 7.º ano, entrou recentemente no Instagram porque as amigas estão lá, vai ao YouTube, ouve música e vê vídeos, pesquisa todo o tipo de artes manuais para dar asas à sua veia artística e criativa para fazer postais, aproveitar rolhas para objetos decorativos, peças velhas a que quer dar uma segunda oportunidade. Não é muito de jogos. Durante o confinamento, além das aulas online, usava a tecnologia para se ligar a uma amiga e juntas, mas à distância, faziam receitas na cozinha, exploravam dotes culinários. Entretanto, desativou o TikTok porque achou que era demasiado tempo por ali. “Chateei-me comigo mesma e desliguei”, revela.

A família de Sónia Morais Santos aproveita as potencialidades e as janelas que se abrem
(Foto: Rita Chantre/Global Imagens)

Sara Martins tem 12 anos e também tem consciência do uso que faz das tecnologias, redes sociais, videojogos, plataformas para jogar e falar com as amigas, ouvir música, estudar para os testes. “É uma forma de estar ligada aos amigos, conversar com a família que está longe.” No confinamento, admite que ficou mais agarrada ao telemóvel. “Foi o hábito de estar em casa”, confessa. A irmã, Inês Martins, de 18 anos, sente o mesmo, mais horas nas redes sociais, no telemóvel, no computador. “Durante a pandemia, há uma grande utilização das tecnologias para matar as saudades da família, dos amigos. É um grande instrumento e sem ele não seria a mesma coisa.”

O admirável mundo novo das novas tecnologias fascina as crianças desde muito cedo. “Não admira”, observa António José Osório, professor do Instituto de Educação da Universidade do Minho, membro do Departamento de Estudos Curriculares e Tecnologia Educativa, investigador do Centro de Investigação em Educação, coordenador de vários projetos de investigação nacionais e internacionais nesta área. “Veem um telemóvel, um teclado, um ecrã, e interagem com eles. Veem teclas, letras, números, luzes. E veem os adultos a interagir. Têm feedback, desenvolve-se uma interação que se pode prolongar no tempo. Veem um vidro com textos, imagens e sons. E até têm interlocutores do outro lado, passivos ou ativos.”

Há esse outro lado e as irmãs Sara e Inês estão cientes disso. “As redes sociais estão a tornar-se uma aplicação muito perigosa, as pessoas estão mais agarradas, não estão a aproveitar tanto a vida lá fora. Há muita gente a expor-se na Internet. A utilização está a tornar-se muito tóxica, há pessoas que só se sentem bem a gozar com os outros”, constata Sara. Inês fala dos convites feitos no Instagram, ratoeiras embrulhadas em ofertas de sonho para miúdas. “Há muitos perigos, os mais novos não têm noção e devem ter atenção com as coisas que leem e veem. É preciso cuidado, bloquear.” Inês reconhece que sente falta do tempo em que via desenhos animados na televisão, sem Net ligada. “Tenho saudades do tempo das não tecnologias.” É um tempo que não voltará.

Sempre ligados. Uso ou abuso? Eis a questão

O mundo online é capaz de dar dez a zero ao mundo offline. O ecrã tem muita vida, muita coisa interessante, muita emoção, muita interação. É tudo fácil sem grande esforço. Agarra e vincula. Ivone Patrão, psicóloga, docente no ISPA – Instituto Universitário (Lisboa), coordenadora do projeto “Geração Cordão”, que há 11 anos pretende ser uma resposta na promoção e gestão saudável do uso das tecnologias, está preocupada com a utilização abusiva dessas ferramentas que, muitas vezes, são baby-sitters virtuais dos mais novos. “As crianças e jovens têm a tecnologia ao colo e curvam-se sobre ela. E nós, adultos, estamos a pactuar com isso. A supervisão parental é muito escassa”, realça. Durante a pandemia, um estudo mostrou que 15 a 20% dos adolescentes e jovens dos 12 aos 18 anos estavam na dependência máxima em relação ao online. “O contexto pandémico veio normalizar o uso das tecnologias. Temos as famílias todas a olhar para o ecrã”, acrescenta a psicóloga.

Margarida Gaspar de Matos, psicóloga clínica e da saúde especializada em jovens, psicoterapeuta, professora catedrática na Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa, separa três coisas. Uma é o uso das tecnologias de informação e comunicação que, em sua perspetiva, “é excelente e tornou-se providencial nestes tempos, para aprender, para divertir e para socializar”. Outra coisa é o abuso. “O que se torna preocupante pelos problemas percetivo-visuais e auditivos, motores, cognitivos e emocionais – cansaço, irritabilidade – , de postura e, sobretudo, pelo foco excessivo nas tecnologias e pelo empobrecimento que tal pode acarretar sobre a vida diversificada e o desenvolvimento pessoal e social otimizado de cada um.” Outra coisa é a dependência, bem mais séria. “Esta é uma situação grave a exigir tratamento profissional.”

São, na verdade, dinâmicas diferentes, nem sempre uma leva a outra e não há fronteiras definidas, como em outros campos da saúde mental. “A dependência tem critérios que têm a ver com o estreitamento da vida e dos interesses, com sintomas de ‘privação’ quando não há tecnologias ou acesso à Net por perto”, adianta Margarida Gaspar de Matos. “O que me assusta é este estreitamento de interesses, o empobrecimento das relações, a ligação compulsiva a estímulos visuais muito intensos e absorventes que levem ao ‘abandono da vida’ e ao ‘recolhimento’ no virtual”, sublinha.

Sónia Barbosa é educadora de infância e mãe de dois filhos, Ivo com nove anos e Gabriel com 15. Tem lido bastante sobre o assunto e a sua postura é clara. Não proibir. “Deve haver um equilíbrio no tempo de uso e no tipo de dispositivos.” Defende o uso com conta, peso e medida. “Os benefícios acabam por ser maiores.” Informação na hora e na palma da mão, contacto com realidades desconhecidas, acesso a curiosidades. Tem também noção dos perigos, do acesso a conteúdos indevidos. “O uso abusivo leva a menor envolvimento social”, repara.

O filho Gabriel usa a tecnologia para falar com os amigos, agora mais ao fim de semana, redes sociais, YouTube. “Um pouco de tudo, o que me apetecer”, diz. O telemóvel faz parte da sua vida, se é chamado à atenção, não reclama, percebe que há tempo para tudo. O irmão Ivo não usa muito a tecnologia, vê sobretudo vídeos, anda pelo TikTok, pelo YouTube, e pelos tutoriais dos jogos que faz questão de ver. A mãe vai estando atenta. “A tecnologia existe para ser utilizada e para se tirar o melhor proveito dela. Com equilíbrio tudo se consegue”, conclui Sónia Barbosa.

Sónia Barbosa e os filhos Ivo e Gabriel gerem o tempo de forma equilibrada, com conta, peso e medida
(Foto: Pedro Correia/Global Imagens)

Rui Martins é pai de Sara e de Inês, professor de Matemática e Ciências, presidente da Confederação Independente de Pais e Encarregados de Educação (CNIPE), e sempre explicou às filhas os riscos da utilização das tecnologias. A base de tudo, garante, é uma relação de confiança. “É algo que não se pode evitar ou deixar de usar, não nos podemos fechar em casa e não usar estas coisas.” A atenção é constante e já disse várias vezes às filhas que o que escrevem no telemóvel ou na Internet nunca mais se apaga. “Elas têm de saber os riscos que correm quando abrem as redes sociais.”

Não foram criadas regras de utilização, pede-se equilíbrio no tempo, nada de exageros, partilha de dúvidas. E a educação é fundamental. “O princípio de saber estar e saber ser neste Mundo.” Usar, sim, como um bem. “Aproveitar recursos da melhor maneira e de forma mais eficiente e, acima de tudo, respeitando os outros.”

A chucha, a baby-sitter, os presentes quadrados

Dulcineia Wessel, professora do Ensino Superior, investigadora, coordenadora de projetos de investigação na área da Química Alimentar, é mãe de Clara. Nunca disse à filha para não usar a tecnologia, pede uma utilização moderada e acompanha de perto essa ligação: “Participo no que pesquisa, no que vê, na música que gosta de ouvir, nalguns jogos que gosta de jogar”. “Ser companheira e não ficar excluída”, sustenta. Clara partilha imensa coisa com a mãe, as músicas que ouve, peças manuais, conselhos que encontra para, por exemplo, otimizar o tempo.

Os especialistas recomendam zero ecrãs até aos dois anos de idade, a partir dos três já se pode usar tecnologia. Crescem e passam a andar com um telemóvel, que é um computador, 24 horas por dia no bolso do pijama ou das calças. Como os adultos. O que fazer? “Podemos fazer tudo, depende essencialmente de nós”, responde António José Osório. De todos nós: pais, tios, primos, avós, irmãos, professores. Todos importam. Punir não é a melhor via, é necessário aprender com as situações, observar, tentar compreender, em função de cada projeto de vida.

Aqui está um ponto importante da questão. O projeto de vida. O que os pais querem para os filhos, a atenção que estão dispostos a dar entre tudo o que existe à volta, sejam brincadeiras ao ar livre, sejam jogos em casa. “E definir uma intervenção o mais natural possível.” Atividades no exterior, ler, fazer exercício físico. Não há uma solução única. “Desenhar interações, conceber formas de envolver os vários membros da família, a escola, desde crianças mais pequenas às mais velhas, todos terão de desenhar atividades que envolvem os jovens.” Proibir é uma ilusão.

O contexto pandémico e suas circunstâncias explicam a maior ligação dos mais novos aos aparelhos eletrónicos, mais horas em frente a todo o tipo de ecrãs. No entanto, esta realidade não é de hoje. Há estudos que demonstram essa ligação. Portugal participa no Health Behaviour in School-aged Children (HBSC), estudo realizado em colaboração com a Organização Mundial da Saúde, que revela que em 2008 os jovens dos 11 aos 15 anos viam televisão e ouviam música nos seus tempos livres. Dez anos depois, em 2018, estavam na Net e ouviam música no smartphone. O tempo excessivo online tornou-se uma grande questão ainda antes da pandemia. Para Margarida Gaspar de Matos, coordenadora do HBSC no nosso país, este exagero tornou-se uma “inevitabilidade” com o confinamento.

As irmãs Sara e Inês têm noção dos riscos das redes sociais e da Internet. O pai, Rui Martins, está atento
(Foto: Pedro Correia/Global Imagens)

De facto, em casa, os mais novos agarraram-se à tecnologia. “Mas o que vão fazer? Regar as plantas e arrumar a cozinha cinco vezes por dia? Ainda bem que há crianças cujas famílias as deixam interagir com estas coisas”, destaca António José Osório. Em seu entender, é como viver numa cidade, onde há carros, onde se pode ser atropelado, onde é preciso aprender a viver. “Não entremos em paranoia e que o Mundo está perdido. Se há um problema, não é por causa das tecnologias.” Não é um bicho-papão no mau sentido. “É um bicho-papão fofinho que nós controlamos, papa algum tempo para nos alimentar, temos de aprender a domesticar esse bicho-papão.”

Os pais, salienta Ivone Patrão, têm aquela ideia mágica de que os filhos sabem mexer na tecnologia toda. O problema é que o nível de literacia digital não se adquire de uma hora para a outra, não basta avisar que não se deve falar com estranhos e desconhecidos e já está. A tecnologia que anda no colo é usada como uma chucha, como uma baby-sitter, e os aparelhos são aqueles presentes quadrados ou retangulares que se dão nas festas e que não vêm acompanhados de avisos e conversa. E é preciso conversar sob o risco de inibir a comunicação, abafar competências, afetar a própria relação familiar.

Os sinais de alarme, não deixar andar

“Devemos estar preocupados, sobretudo olhar para situações em risco de dependência, e não fechar os olhos”, avisa Ivone Patrão. Só que há o deixa andar, está no quarto, está sossegado, já não quer ir à escola, e as notas baixam. O alarme deve soar perante uma criança mais introvertida, menos social, com baixa autoestima, mais reservada, que deixa de ter interesses fora da escola para estar mais horas online. Então, pára tudo porque é preciso procurar ajuda.

O que está em jogo, para Ivone Patrão, é uma mudança. Um caminho lado a lado, pais e filhos, falar dos riscos, das particularidades, das potencialidades, dos perigos. “Precisamos de uma intervenção precoce”, defende. “Não temos de andar com a tecnologia ao colo e quando a tecnologia é a recompensa, isso é preocupante.” Ou então quando tecnologia é usada para adormecer e quando se dorme com ela ao lado para responder a mensagens durante a madrugada.

O uso excessivo das tecnologias é um dos assuntos abordados nas consultas de Bárbara Ramos Dias, psicóloga clínica com 20 anos de experiência com famílias, crianças e adolescentes, que acaba de publicar mais um livro intitulado “Guia de cabeceira para pais desesperados”. É mãe de três filhos de 14, 12 e oito anos.

Os pais queixam-se que os filhos só jogam e não saem do quarto, os filhos queixam-se que quando saem há sempre discussão. “O mais importante, neste momento, é estabelecer uma relação de confiança com as crianças e adolescentes”, sugere a psicóloga. Aproveitar o tempo para reestruturar relações familiares, estabelecer regras e limites firmes com amor, negociar contrapartidas, encontrar alternativas que agradem a todos, incentivar pela positiva, não enveredar pela crítica e pelo castigo, valorizar o esforço e a dedicação. “Se entrarmos no mundo deles à séria, é muito fácil compreendê-los”, assegura.

O exemplo, as regras, os limites, as alternativas

É necessário chegar a um equilíbrio para que os mais novos não estejam sempre a jogar, mas quando isso é um exagero, quando interfere no dia a dia, quando deixam de fazer coisas, atenção, muita atenção. “Os pais têm de ajudar os filhos a perceber o que podem fazer de diferente e é importante que cumpram o que combinam com os filhos”, vinca. “Dar liberdade para jogar, mas com responsabilidade. Quanto mais proibir, pior”, frisa Bárbara Ramos Dias. Em sua casa, não há jogos de agressividade, investe-se em atividades em família, passeios, jogos, cozinhar, andar de bicicleta.

Para Margarida Gaspar de Matos, em qualquer circunstância, é necessário construir uma vivência agradável e tentar que o uso excessivo das tecnologias em família “seja uma questão a gerir e não um problema a esgrimir”. As regras devem ser, por isso, poucas, claras e firmes construídas em casa e na escola, desde cedo. “Devem vir acompanhadas da construção de alternativas agradáveis.” E não basta olhar de cima para baixo, é preciso olhar ao espelho. “O que se aplica aos mais novos aplica-se também a todos nós. Todos nós podemos fazer uma reflexão sobre o tempo que passamos na Net, ligados às redes sociais, e sobretudo o que deixamos cair quando ficamos colados ao ecrã tanto tempo. Nós ilustramos muito bem a diferença entre abuso no uso das tecnologias, que assola muitos de nós em teletrabalho, e a dependência no uso das tecnologias”, considera.

A psicóloga e professora escreveu o livro “Liga-te na boa a uma internet segura”, ilustrado por Rita Pereira, lançado no ano passado, para contribuir para este debate, promover um diálogo entre gerações, encontrar soluções em família sobre o uso das tecnologias, e algumas soluções que passam por monitorizações, contratos, reflexões em conjunto.

Ivone Patrão participou na génese do “Missão 2050”, jogo de tabuleiro para o uso pedagógico e saudável das tecnologias. Salta-se para uma cidade de 2050, conhecem-se riscos e potencialidades, os jogadores são colocados em cenários de mudança, gestão de danos, dilemas, aventuras. Aprende-se e analisam-se erros que não se querem repetir. Para jogar em família.

António José Osório assegura que nada ficará como era. “Não se pense que depois desta experiência podemos voltar a um regime de funcionamento como dantes havia. Aprendemos com esta experiência e temos de tirar partido das novas tecnologias com mais senso, perceber as necessidades dos jovens, fazer muitos ajustes e muitas alterações.” Vai ser fácil? “Não, não vai ser fácil.”