As festividades natalícias e de final de ano são propícias a desregulação e maus hábitos alimentares. É essencial manter o equilíbrio durante todo o ano, mas há dicas imprescindíveis para as festas não arruinarem a saúde e o bem-estar físico.
“É só este mês e em janeiro começo a dieta.” Já muitos disseram ou ouviram esta frase, numa tentativa de justificar a cedência às tentações que as festas de Natal e de final de ano trazem. Mas, no meio de um mês associado a excessos alimentares, a saúde pode ficar em jogo. Há a consoada, o almoço de Natal, a passagem de ano, toda a semana entre as duas festas e ainda os dias de preparativos e de arrumações.
É uma época de correria e de excesso, em que a alimentação saudável fica, muitas vezes, esquecida. “É necessário fazer um controlo de danos”, começa por explicar Renata Miguéis. A nutricionista da Diet Academy esclarece que “abdicar do Natal não é uma hipótese, ainda para mais numa época em que passamos tanto tempo longe dos familiares”, mas é necessário haver um meio-termo.
Só nas entradas, com uma fatia de queijo, duas de presunto, quatro castanhas, metade de um pão, compota e nozes, rapidamente se ultrapassam as 600 calorias. Renata Miguéis lembra que o prato natalício – peru, bacalhau ou polvo – não é calórico. O problema está na confeção, como a quantidade de azeite utilizada. “É um prato saudável, mas com molho excessivo é calórico.” No fim das contas, com entradas, prato, molhos, fritos, sobremesas, e “ainda uns chocolates perdidos”, uma pessoa come mais do que mil calorias numa única refeição. “A isto juntam-se ainda as bebidas alcoólicas.”
Mas, apesar de ser necessário pensar na saúde, mesmo em tempo de festa, um controlo excessivo também não é a solução, afirma a nutricionista da clínica lisboeta. “Se nunca comeu de forma saudável e vai agora começar uma dieta muito rígida, será algo que facilmente não vai durar, o que causará frustração.” Por vezes causando o efeito contrário, espoletando compulsões alimentares, alerta.
O ideal é o equilíbrio entre a tradição e algumas dicas para controlar os excessos. “É uma fase de controlo. A pessoa não deve comer tudo e mais alguma coisa, mas as privações têm de ser bem feitas.” As primeiras regras mencionadas por Renata Miguéis recaem sobre o planeamento das refeições festivas. Reduzir a quantidade de receitas, cortar nas porções ou optar por alternativas mais saudáveis são as principais dicas no momento de confecionar os pratos tradicionais. A tradição portuguesa pede uma mesa farta, que, por vezes, acaba por ser “em quantidades desproporcionais ao número de pessoas”.
Um dos mitos que a nutricionista Renata Miguéis quer desfazer é que “tudo o que é caseiro ou artesanal é saudável”, quando, na verdade, as calorias continuam a estar nos pratos e nos doces. Existem receitas alternativas que podem resultar para quem não abdica de ter uma mesa diversa. Reduzir a quantidade de açúcar e gordura, substituir açúcar por adoçante ou assar em vez de fritar são algumas das estratégias. Já durante a refeição, usar pratos menores, servir-se apenas uma vez e intercalar as bebidas alcoólicas com ingestão de água são ajudas que podem ser adotadas em simultâneo.
Para quem faz o Natal na própria casa, as tentações e a ansiedade aumentam, mas há também formas de as controlar. A nutricionista recomenda distribuir as sobras pelos convidados ou congelá-las e “não deixar as tentações expostas”, escondendo-as ou colocando em recipientes opacos.
Mas o cuidado e o bom senso começam ainda na época que antecede o Natal. Para Renata Miguéis, “organizar as listas e os dias de compras de Natal, seja de supermercado ou centro comercial”, é essencial. Evita-se, assim, as comuns refeições fora de casa, menos saudáveis, ou saltar refeições. “Ir às compras apenas depois de almoço ou jantar ou ter algum snack por perto” são formas de contornar as tentações que os dias de compras apresentam.
E até as prendas devem ser pensadas com atenção aos cuidados alimentares. “Devemos evitar oferecer chocolates ou bebidas alcoólicas”, alimentos e bebidas calóricas e abundantes nesta época, sublinha a nutricionista. “Se somos a pessoa que tem problemas de saúde ou peso, avisamos a família que não queremos receber essas coisas.”
A procura por consultas de nutrição reduz significativamente no fim do ano, nota Renata Miguéis como um problema geral sentido pelos profissionais de nutrição. “Depois aumenta bastante em janeiro e fevereiro, só voltando a cair no período de verão.” Quem ainda não começou uma alimentação saudável, conta a nutricionista, “tem o pensamento de ‘aproveito agora e começo no próximo ano'”, quando o equilíbrio alimentar deve ser mantido de forma regular, independentemente das festividades ou acontecimentos especiais.