Rui Nabeiro: o senhor do café

Rui Nabeiro é fundador e presidente do Grupo Nabeiro - Delta Cafés

Raramente diz que não a quem lhe pede ajuda. “Porque ninguém faz nada sozinho.” Gosta de acarinhar. “Emprego dou, porque quando chega para mim, chega para os outros.” Ao longo do caminho, ouviu muitas vezes a palavra não. Nunca desistiu.

Nunca é o homem da festa, é o homem da luta e do trabalho. Assim comentou a celebração dos 85 anos (2016), organizada pelos filhos, pelos netos e por alguns amigos. Hoje, ao cumprir 90, continua certamente a poder afirmar o mesmo. Rui Manuel Nabeiro não vive sem um objetivo, um propósito. Reage mal à preguiça. Prefere a “luta na fábrica à praia, ao cinema, ao estrangeiro”, costuma dizer. É, será sempre, a alma de um grupo que fundou em 1961 e a que chamou Delta, “nome simples que até os chineses sabem dizer”.

Sessenta anos de um império sustentado no café. Tomou o primeiro, aos 14, torrefacto que a família fabricava na altura. Gente humilde. Mal terminou a escola primária, foi ajudar o pai, cavador e motorista de um médico, a mãe, na pequena mercearia, os tios, na torra do café. A terra onde nasceu, Campo Maior, como toda a zona raiana, vivia o rescaldo da Guerra Civil espanhola, que recorda bem – os gritos dos refugiados capturados na fronteira, obrigados a retornar, “gritos de arrepiar” -, e o contrabando, expediente que, apesar de ser ainda um miúdo, conheceu bem, contribuindo para o sustento familiar.

Um de cinco irmãos, não teve tempo para ser criança nem adolescente. Quando aos 17 anos, por morte do pai, assumiu os destinos da pequena torrefação, tomou a liderança, incentivando a venda de café aos espanhóis. E, mais tarde, se vendeu a quota aos familiares foi para criar empresa própria, recorrendo a uns depósitos a prazo que fora fazendo, à boa vontade de uma pequena casa de câmbios de Elvas, e à matéria-prima colonial (café de Angola), o negócio que lhe traria fama e fortuna.

A sede ficaria para sempre na terra alentejana onde é conhecido por comendador (Ordem Civil do Mérito Agrícola, Industrial e Comercial Classe Industrial e Ordem do Infante D. Henrique) e tem estátua. Ali foi presidente da Câmara, por duas vezes ainda em ditadura, por mais quatro, em eleições democráticas. Ali foi recebido de braços abertos, “dias que não se podem esquecer”, depois de uma temporada em Badajoz, sob mandato e acusação de fuga ao Fisco.

Ali lhe reconhecem generosidade e gratidão. Em 2007, inaugurou o Centro Educativo Alice Nabeiro, resposta às necessidades extraescolares das crianças de Campo Maior. E com o patrocínio da Delta, a Universidade de Évora criou, em 2009, uma cátedra destinada à promoção da investigação, do ensino e da divulgação científica na área da biodiversidade.

“Nasci socialista”, costuma dizer, recordando que o pai “trabalhava tudo e não ganhava nada”. Raramente diz que não a quem lhe pede ajuda. “Porque ninguém faz nada sozinho.” Gosta de acarinhar. “Emprego dou, porque quando chega para mim, chega para os outros”, afirmou há uns anos, em entrevista.

Hoje, sessenta anos depois da fundação da Delta Cafés, o grupo emprega cerca de 3 500 colaboradores, está em vários pontos do Mundo, com investimentos também na vitivinicultura, na distribuição alimentar e de bebidas, no retalho automóvel, no comércio imobiliário e na hotelaria. Ao longo do caminho, ouviu muita svezes a palavra não. “Mas nunca desisti.” E é isso que vem ensinando a filhos, netos e bisnetos.

Manuel Rui Azinhais Nabeiro
Cargo:
fundador e presidente do Grupo Nabeiro – Delta Cafés
Nascimento: 28/03/1931 (90 anos)
Nacionalidade: Portuguesa(Campo Maior)