Marcas apostam em coleções sem género, com propostas para todos os estilos que vestem homens e mulheres sem qualquer distinção. Sem (pre)conceitos. Focadas em pessoas.
A moda sem género ganha terreno num tempo rodeado pela incerteza e pelo debate em torno dos Direitos Humanos e justiça social, marcando uma posição pela igualdade entre pessoas. Como conceito base ou através de coleções-cápsula, são muitas as marcas e designers que vão dando o exemplo, focando as criações no ser humano, sem distinção entre mulheres ou homens, afirmando o “genderless” como o caminho a seguir. Com propostas variadas (algumas descritas como unissexo, pela ausência de silhueta), discretas ou mais excêntricas, sugerem diferentes estilos à medida de todos os gostos, cumprindo o princípio eclético na sua plenitude.
Lançada há quatro anos, a THE Nº º55 sempre se direcionou para o andrógino. A diretora criativa, Elia Lé, assume que “a missão é mudar mentalidades para uma nova visão de como usar e adquirir moda”. Assim, “a mesma modelagem é usada por homem e mulher” e ela própria veste as peças que tem no guarda-roupa. Elia inspira-se na “silhueta clássica”, e no “clássico intemporal com toque contemporâneo”.
O designer Hugo Costa foi dos primeiros a descrever-se como autor “no gender”. Embora tenha começado por usar as suas criações em modelos masculinos, sublinha que sempre desenhou “roupa para pessoas, sem quaisquer preconceitos”. “O facto de trabalharmos ‘oversize’ facilita-nos o processo”, reconhece, revelando que partilha o armário com a mulher.
Já Inês Torcato vê e apresenta a moda sem género como a “libertação de estereótipos enraizados, até porque “devemos todos ser livres de vestir aquilo que nos representa enquanto indivíduos e aquilo que transmite a nossa identidade para os outros”.
Promover a autoexpressão
No ano passado, a Gucci lançou a categoria MX, com vestuário “genderless” para promover a autoexpressão. Além de roupa, tem sapatos, bolsas e acessórios fiéis à grife e para todos. Mesmo sem linha específica, por cá, o designer Gonçalo Peixoto não esconde que também tem peças que vestem os homens – basta quererem -, “como os blazers ‘oversize’ e, agora, os conjuntos de calções e blusas de linho”. E a prova é que os mesmos conjuntos já foram usados por ele próprio e pela influenciadora Anita da Costa.
Ativista pela igualdade, o stylist Mário de Carvalho defende que “a roupa ‘no gender’ é para quem a quiser e só não a pode usar quem não tiver dinheiro para a comprar”. Desejoso que se entre numa loja que não esteja dividida por secções para homem ou mulher, lançou recentemente as sapatilhas “Out of box”, no âmbito do projeto “No gender by Mário de Carvalho”, depois de duas coleções-cápsula de roupa. Para o criador, “tudo passa por ser feliz”, sem os espartilhos de ideias preconcebidas ou ditadas pela história, afirmando personalidade. Sem julgamentos, olhares de esguelha ou discriminações.