Roupa de luxo em segunda mão

Há pouco mais de um ano, Gi Santos abriu no Porto a Closet Uup, onde apresenta sempre as últimas coleções de grandes marcas (Foto: DR)

Em nome da sustentabilidade ambiental e da poupança, o negócio do luxo em segunda mão alavancou. Em lojas físicas ou online, artigos de marcas famosas exibem-se como novos, a preços mais baixos e sem mácula.

A economia circular já chegou ao luxo. E a pandemia foi o rastilho para novas práticas de consumo e um negócio alimentado pela crise económica e uma maior consciência para as questões ambientais. O primeiro confinamento inspirou arrumações que evidenciaram a acumulação de roupa e de outros objetos sem utilidade. Coincidência ou não, na mesma altura, de acordo com o relatório da The RealReal, houve um aumento na venda de artigos premium e um incremento da economia circular. Segundo a consultora Boston Consulting Group, o negócio do luxo em segunda mão está a crescer 12% ao ano e já representa globalmente um volume de 25 mil milhões de euros. Gucci, Chanel, Prada, Valentino e Louis Vuitton estão entre as grifes encontradas, sempre com garantia de autenticidade dada por quem as volta a colocar no circuito comercial.

“Comprar o melhor ao melhor preço” é o mote da Closet Uup e a proprietária Gi Santos procura ter “sempre artigos das últimas coleções das melhores marcas”. Foi em dezembro de 2019 que abriu o espaço no Edifício Aviz, no Porto, depois de testar o sucesso do projeto na página do Instagram e que, ainda hoje, é montra do negócio, principalmente quando não pode ter a porta aberta por causa do confinamento. Se preciso for, Gi vai a casa da cliente com o artigo pretendido ou envia pelo correio. Além de continuar a aceitar peças à consignação até arranjarem novos donos.

Amante de moda e sempre a par das últimas tendências, a influenciadora Ione Omena gosta de estrear novidades, mas assume, sem complexos, que compra “muita coisa em segunda mão há muitos anos”. E também vende pelos mesmos canais. Com o dinheiro ganho, por norma, troca por outro artigo, o que lhe permite “ter sempre coisas novas”. “É uma forma consciente de consumir e de renovar.” Recorre principalmente à plataforma Vestiaire Collective, mas também a outras lojas que existem no Porto, “nomeadamente a Le Petite Coquette”, na Rua de Ceuta. Ainda na Invicta, na Rua Pedro Homem de Melo, a Quartier Latin é outra das referências, até porque foi pioneira neste nicho de mercado.

Redes sociais como motor

Já em Lisboa, junto ao Mercado de Campo de Ourique, a Du Chic à Vendre tem sobretudo malas, pois “são intemporais”, e a dona, Monique Geallad, percebeu que “as pessoas procuravam mais esse tipo de artigo”. Só funciona “à consignação, o que dá mais trabalheira, mas também acarreta menos riscos”. Quando começou, há dez anos, foi para encontrar uma ocupação após o divórcio. Aos 62 nos, por causa da pandemia, lançou com a ajuda da filha o site que leva, desde dezembro, o negócio ao digital. Até porque, “se conseguia vender malas através do Instagram”, nada a faria parar.

É também nas redes sociais que Inês Silva promove o que disponibiliza no site The Vogue Closet. Formada em Design, que nunca exerceu, a influenciadora era marketing manager e relações públicas num grupo de restauração, em Lisboa, mas já tinha um negócio online de artigos de luxo em segunda mão. No ano passado despediu-se para se dedicar em exclusivo ao que, até então, era part-time. Isto porque “as pessoas compraram bastante durante o outro confinamento”. Seni, como Inês é tratada, “já tinha experiência como cliente e comprava em segunda mão para vender em segunda mão”, inicialmente sem se expor, mas agora é sem filtros que posa para publicitar malas, sapatos e acessórios que comercializa.

Em prol do desapego e também para combater o desperdício, já há quem não passe sem as oportunidades em segunda mão. As grandes plataformas também já aderiram a este segmento de negócio. É o caso da Farfecht, que aposta na revenda através da plataforma Second Life, onde os clientes podem trocar as suas malas usadas por crédito em compras no site líder no segmento de luxo. E até as marcas, como a Gucci, que se juntou à The RealReal (que inclui também a Burberry, Stella McCartney ou Jonathan Cohen), investem numa nova vida para as suas peças.

Especializada em moda de luxo, Ione Omena compra peças em segunda mão “há muitos anos” e vende o que já não usa (Foto: DR)
Inês Silva começou por ser cliente e agora tem a loja online The Vogue Closet, com promoção nas redes sociais (Foto: DR)
Monique Geallad despertou para o negócio após um divórcio. Abriu a Du Chic à Vendre, em Lisboa, e agora vende também online (Foto: Leonardo Negrão/Global Imagens)
Du Chic, loja de artigos de luxo em segunda mão (Foto: Leonardo Negrão/Global Imagens)