Roberto Roncon: “Vejo mal a procrastinação, porque viver é decidir”

Coordenador do Centro de Referência ECMO do Hospital de S. João, no Porto, já tratou centenas de doentes covid-19 muito graves. Fotografado na unidade onde passou milhares de horas no último ano

O "Espelho Meu" do médico intensivista, professor da Faculdade de Medicina do Porto.

Vejo bem

  1. A verdade, mesmo quando é dura e cruel.
  2. Quando me consigo rir de mim próprio e das minhas manias.
  3. O trabalho, mesmo quando me sinto derrotado pelo cansaço.
  4. Estar sentado no sofá a ler e ser constantemente interrompido pelos meus filhos.
  5. A coragem de lutar pelos meus doentes e pelos meus ideais.
  6. Não ter de acordar cedo nos poucos fins de semana livres.
  7. Não conseguir dizer que não a um amigo.
  8. Jogar futebol no campo da Afurada (agora só depois do desconfinamento…).
  9. O brilho nos olhos de um jovem médico interno quando sente que aquela vida também foi salva por si.
  10. O almoço de domingo em casa dos meus pais em que bebo religiosamente uma cerveja belga.

Vejo mal

  1. A mentira, mesmo quando é inocente e piedosa.
  2. Ao longe, por isso, uso óculos.
  3. A procrastinação, porque viver é decidir.
  4. As multas por mau estacionamento durante as férias.
  5. Não reconhecer o mérito.
  6. As discussões entre os meus gémeos por causa do futebol (o Manuel é benfiquista e o Roberto é portista).
  7. A falsa modéstia, vaidade suprema.
  8. Não fazer todas as vontades à Maria João e à minha filha Rosarinho.
  9. A preguiça disfarçada de inteligência.
  10. A reforma do King Roger.

Médico intensivista, professor da Faculdade de Medicina do Porto
43 anos