Igor morreu asfixiado pelo refluxo gástrico. Tinha 18 anos. Numa aula de dança, um espelho caiu em cima de Inês de seis anos. Teve morte imediata. Daniel morreu num acidente de carro aos 19 anos. O coração de Miguel falhou aos 27. Com a mesma idade, Tomás despediu-se da vida. Marlon foi assassinado com duas balas nas costas. Tinha 24. José perdeu a mulher grávida e duas filhas na estrada. O Mundo desaba, coração em ferida, alma fraturada. Sara, a menina da família Carreira, partiu há um ano. Ficam as memórias e as saudades.
Se pudesse, metia-se na máquina do tempo e mudava o rumo da história. Há dias em que se sente presa num pesadelo e quer acordar para abraçar o seu único filho. Tomás quis deixar de viver, foi encontrado no quarto em Leiria a 13 de abril do ano passado. Estava deitado no chão, frio, virado de costas. Tinha 27 anos, estudava Direito em Braga, queria ser juiz. “Uma mãe não está preparada para ver um filho partir.” Ana Ferreira fala com Tomás no pensamento, manteve as fotografias pela casa, sente necessidade de tocar em objetos dele, vai ao cemitério, deixou de ler o relatório da autópsia que não lhe trouxe paz – onde soube que o filho tinha medicamentos no estômago, sangue no esterno. “Sinto-me a pessoa mais impotente deste Mundo porque não consegui ajudar o meu filho a ultrapassar uma crise.”
Há duas Anas dentro de si, em conflito. A Ana racional que sabe que o filho não volta. A Ana emocional que não aceita a morte do seu Tomás, curioso, inteligente, cavalheiro. “Quando os seres que mais amamos partem antes de nós, perdemos o melhor que tínhamos.” Tomás era o seu maior apoio. “Pergunto-me porquê, porque não fui eu?” Vem a mágoa, a culpa, não ter entendido a tristeza, não ter chegado a tempo. “Penalizo-me todos os dias.”
Inês tinha seis anos, olhos escuros, cabelo liso, adorava andar atrás dos animais da avó, destemida, vivaça, brincalhona, escondia bolas nos treinos de futsal do irmão mais velho. Há 14 anos, numa aula de dança, um espelho de 95 quilos caiu-lhe em cima. Partiu a coluna, teve morte imediata. “Ela gostava tanto de dançar. Estava marcado, aquele acidente pareceu-me programado por alguém de uma força maior”, diz António Augusto, o pai. “É certamente a dor mais avassaladora e terrível de todas, não tem explicação possível.”
Morrer por dentro, sobreviver por fora, encarar a realidade, deixar o choro acontecer. “Perdemos uma filha, o nosso filho perdeu a única irmã. É uma dor tão profunda que não passa.” Agarram-se às recordações de Inês, à família, aos dois netos que sabem que a tia é uma estrelinha no céu. “A morte deixa uma dor que ninguém pode curar, mas o amor deixa memórias que ninguém pode apagar. A Inês era uma força da vida e uma coisa é certa: aqueles que amamos nunca morrem.”
Amor de mãe não conjuga os verbos no passado. Carla Gomes fala com lágrimas que não consegue conter. “Falo muitas vezes do Daniel presente, vivo, não é o Daniel que partiu.” Daniel tinha 19 anos, trabalhava no McDonald’s em São João da Madeira, turno da noite, mete-se no carro, tem um acidente, não sobrevive. São cerca de seis da manhã do dia 14 de janeiro de 2019. Carla Gomes sabe da notícia no hospital da Feira. José António, o pai, acorda com a GNR a bater à porta de casa dos pais.
“O Daniel era o menino dos abraços e dos beijos. O Daniel foi feliz o tempo que aqui viveu”, assegura José António. Jogava futsal, começou no futebol, queria ser guarda-redes, tocou viola, experimentou o hip-hop. Há fotografias pela casa, o seu quarto está como era. “Ele está sempre presente, às vezes, penso que foi para melhor”, confessa Carla, que guarda boas recordações, as idas ao cinema com o Daniel e a filha mais velha, a viagem que os três fizeram a Marraquexe, as coisas que só os dois entendiam, a cumplicidade que os unia. “Não estamos programados para isso, morre-nos um filho e a nossa cabeça não está ali”, comenta José António. “Dor maior do que perder um filho não há, o resto é um mal menor. Não há dias bons, há dias melhores”, acrescenta Carla.
Igor tinha 18 anos, estava a terminar o curso de Informática, queria ir para o Exército, gostava de banhos prolongados, rapaz de muito alimento nos seus 1,90 metros de altura, sociável, alegre. Morreu em abril de 2006 nos braços da mãe, asfixiado pelo refluxo gástrico, durante umas férias em Gouveia. Nessa noite, depois de um dia em cheio, Linhares da Beira, lanche na Guarda, jogaram cartas, galhofa, deitaram-se com a ideia de subir à serra da Estrela na manhã seguinte. Pouco depois das três da manhã, Ana Paula Vieira acordou com o que pareciam gargalhadas do filho, pensou que estava a ter um sonho lindo, o pai foi espreitá-lo, viu vomitado na almofada. Arfava, tinha os olhos arregalados e vidrados, tentaram acordá-lo sem sucesso, respiração boca a boca, massagem cardíaca, chamada para o 112. “Não sabia o que tinha acontecido, mas sabia, uma mãe sabe, que aquele tinha sido o seu último suspiro.”
O INEM chegou rapidamente. Ana sabia o que os médicos lhe iam dizer, a meia hora de espera no hospital de Gouveia foi uma eternidade, gelada por dentro. Inquérito da GNR nessa manhã, aos pais, à irmã, à avó, separadamente, autópsia na Guarda, levar o corpo para Lisboa. Ana reviu aquele filme milhares de vezes. O choque, a dificuldade de digerir, um ano à espera do relatório da autópsia. “Li e reli e a expressão morte violenta entrou em loop, relembrava a agonia dele, aquela morte a que assisti impotente. A quantidade de coisas que vamos buscar para consolidar a nossa culpa é uma coisa do outro mundo.” Reprimiu emoções, ocupou a mente com trabalho. “A sociedade espera que sejamos produtivos e nada de lamechices. Mergulhei de cabeça, tronco e membros no trabalho.” Dores na coluna, sentia-se a desfazer, baixa, bateu no fundo. Até que quis largar a medicação, lidar com as emoções, abrir a mente para a raiz do problema, reconstruir a sua identidade. “As prioridades mudam, agora não adio o que quer que seja que acho importante, não abro mão da minha indignação, o que é desconfortável, reconheço o que estou a sentir, a minha relação com o pai dos meus filhos tornou-se mais forte do que nunca. Faço os possíveis para honrar a vida do meu filho, aproveitando ao máximo a minha.”
Maria do Nascimento, Menta como é tratada, sempre gostou de escrever e continua a fazê-lo para o filho, poesia e prosa, passando para o papel o que lhe vai na alma na sua casa em Peniche, com o mar a entrar-lhe pelas janelas. “Escrevo muito para ele, é uma maneira de me ajudar no meu luto.” Miguel tinha 27 anos, era estudante universitário em Lisboa, tocou no botão do elevador, caiu de costas, morte súbita, hipertrofia no ventrículo soube-se depois. Menta recebeu a notícia pela irmã, desmaiou, voltou a si segundos depois. “Foi um turbilhão tão estranho. Nunca me tinha passado pela cabeça perder um dos meus filhos. É a coisa mais dolorosa que pode haver.”
Hoje, 16 anos depois, continua no Grupo de Pais em Luto do Oeste, em Torres Vedras. Por si, pelos outros, pelos seus. “Ele nunca saiu de mim, está cá dentro, há um fio que nos liga e, haja o que houver, nada nos vai separar.” Nunca deixou de sentir o seu cheiro, fala com ele, tem saudades da sua ternura, recorda a casa cheia de amigos, os sacos-camas espalhados pelo chão, as fatiotas e as cabeleiras de Carnaval dele e da irmã mais velha. “Tenho saudades de tudo dele, do prato que estava ali e já não está.”
O choque, a raiva, a culpa, a conformação
José Eduardo Rebelo perdeu a mulher grávida e as duas filhas, uma com um ano e outra com sete, num acidente de carro em 1992. “Quando sofri a minha tragédia, comecei a procurar nos livros respostas.” E nunca parou. Tirou um mestrado em Psicologia da Saúde e de Intervenção Comunitária, criou a associação APELO – Apoio ao Luto, abriu um espaço de luto em 2010 em Aveiro, fundou a SPEIL – Sociedade Portuguesa de Estudo e Intervenção do Luto e o OLP – Observatório do Luto em Portugal, escreveu vários livros sobre o assunto, abriu o único curso para formar conselheiros do luto. Biólogo marinho, doutorado em Biologia, professor na Universidade de Aveiro, criou a palavra defilhados para os pais que perdem os filhos. “Havia uma certa orfandade, uma falta de identidade, de não se poder nomear a pessoa em luto pela perda de um filho. Acabei por criar essa palavra e ficou, ainda não está nos dicionários, mas já faz parte do léxico da língua portuguesa.”
Como lidar com tamanha perda no imediato? “Vivenciá-la, deixar-me levar, usei todas as armas, descobri a solidão.” Escavou, mergulhou na Psicologia, voltou à Biologia, percebeu que não existia abertura para expressar vulnerabilidades, que era preciso fazer mais. Investir no trabalho comunitário, criar especialistas do luto, e aquilo a que chama “falar com nervo” da questão tão sensível. É o que tem feito nas últimas décadas depois de dez anos de luto intenso. “O futuro não existe, é uma fantasia. Quando se perde um filho não se perde o futuro, perde-se o presente. Temos de viver o presente em função da experiência que o passado nos dá. Cada filho é um filho único. Quando se perde um filho, perde-se um filho único.”
Marlon Correia morreu com dois tiros nas costas no Queimódromo do Porto, num assalto à mão armada, na madrugada de 4 de maio de 2013. Tinha 24 anos, era finalista do curso de Desporto, estava na bilheteira da Queima das Fitas. Morreu no local, os culpados não foram encontrados, o processo corre na Justiça. “O futuro arrancou-me o que poderia ter sido, o que não vai acontecer nunca.” A mãe, Lídia Barbosa, mantém o quarto do filho como estava. “Não estou preparada para que alguém se deite naquela cama, que toque no que é dele.” Guarda as cinzas em casa, por vezes, parece que ouve a sua voz, ainda hoje revê o vídeo dos últimos momentos de Marlon. “Vejo as imagens e queria atravessar o ecrã, agarrar o meu filho, tirá-lo dali.” São anos em luta, sem paz, sem os assassinos na cadeia. “A minha mente vai-se habituando a que não está cá fisicamente, enquanto estiver no meu coração, está aqui, comigo. Era um miúdo especial que tinha um futuro brilhante pela frente.”
“O luto? Queria responder-lhe, mas… o luto é cumprir com o nosso dia, o Marlon já não está, ele partiu, a gente ficou cá, o que se há de fazer? Um luto complicado como o meu ainda não começou.” Jacinto Correia sente um novelo na garganta que não se desenleia. “Um pai projeta a vida em que o filho fique, neste caso não foi assim. Nunca pensei que ia vê-lo partir.” Agarrou forças para continuar a trabalhar na sua lavandaria em Canelas, Gaia, não quis apoio psicológico, garante que o procurará se precisar. “Continuei a trabalhar, fechar-me em casa a olhar para uma fotografia não é vida. Uma ferida cura-se, mas ficam as cicatrizes”, admite.
No dia do funeral, Lídia não quis medicação, queria estar ali, seguir os detalhes, depois não conseguia dormir, não conseguia comer, tornou-se mais dura, deixou de temer a morte. “Não estou tranquila, até posso mostrar que estou, mas a procissão vai por dentro”, desabafa. Jacinto também sofre, também chora. “É uma dor muito grande, sem um adeus, sem um até amanhã. E o futuro era enorme.”
Ana despediu-se de Tomás no chão no quarto da casa da tia-avó, onde ele morava. Fez-lhe festinhas, os carinhos possíveis. Cinco dias depois, o funeral, caixão fechado devido à covid-19. “Não pude velar o corpo e isso não me ajuda, em nada, no processo de luto. Não sei se enterrei o meu filho ou outra pessoa.” Ana está desempregada, de baixa, tem ajuda especializada. “De uma dor no coração passou a uma dor na alma que é uma dor constante e permanente.” Quer que o filho perdure vivo. “O Tomás continua vivo dentro de mim e faz-me tanta falta. O que tenho mais medo é de perder as memórias, todos os dias lembro-me de qualquer coisa do Tomás.”
Menta tentou reagir o melhor que conseguia. “Mas depois caiu-me tudo aos pés.” Pensou que não ia aguentar, porquê o Miguel?, zangou-se com Deus, a zanga passou depressa, fechou as janelas, correu as cortinas, encheu-se de porquês e “ses”, agarrou-se à capa negra da faculdade do filho. “Fazia parte da tuna, tocava, cantava, morreu feliz e isso, para mim, tem-me ajudado a viver o meu luto.” Sentiu que precisava estar bem, pela filha, pelo neto, por si também. “Ficam as grandes saudades e as grandes dores de não estar com ele. A gente aguenta. Pelos nossos filhos vamos ao fim do Mundo.” Menta entendeu que não há porquês e não há “ses”, assevera que o tempo suaviza a dor. “E não queremos que tenham pena de nós, precisamos de pessoas que nos incentivem a viver.”
O luto, o amor, as histórias, as recordações
“O luto é uma reação sadia a uma perda pessoal profunda”, define José Eduardo Rebelo, que construiu um modelo de vivências do luto. Para que se faz o luto passou a ser uma pergunta importante. As relações, as expectativas emocionais, os laços afetivos que garantem a sobrevivência e o legado, a essência da vida de perpetuar a espécie.
Não há fases, há vivências. O choque, a negação e a verificação. “Nega-se com o coração e verifica-se com os olhos.” A descrença da perda, a busca da pessoa perdida nos lugares, nas fotografias. O reconhecimento da perda que gera frustração e desespero que se manifestam em situações episódicas de raiva, tristeza, culpa, depressão. Como uma cicatrização. “A perda provoca uma desorganização emocional, há uma reação chamada luto que conduz a um novo equilíbrio físico e mental.” A superação da perda é aceite nas perdas expectáveis, já nos pais que perdem os filhos há conformação. “Aprende-se a viver com a ausência do ente querido, mantendo-o presente na nossa vida. Os filhos fazem parte de nós, acompanham-nos toda a vida, aprende-se a viver com esse equilíbrio físico e mental.” Como apoiar o luto? “Ouvir e não ajuizar, ajudar a encontrar o seu caminho de luto”, responde José Eduardo Rebelo.
Ana Paula Vieira é consultora do luto e hipnoterapeuta, depois de anos na banca e no setor farmacêutico. Tinha perdido o pai, a mãe, um bebé no útero antes de Igor nascer e uma nova perda fetal dois anos depois de o filho morrer. “Após uma perda violenta, inesperada, a nossa vida fica virada do avesso, tudo aquilo que era suposto ser deixa de ser, mal conseguimos sair de casa. Ninguém passa impune por uma experiência destas.”
“O luto existe porque existe amor. Se há amor, há dor, choramos quem amamos”, afirma Cristina Felizardo, assistente social, conselheira do luto. Qualquer luto é um luto individual, não há fórmulas para aplicar, há sim várias teorias, os terapeutas conhecem os trilhos dessa montanha e ajudam a encontrar caminhos, a perceber como o luto se faz. Não há “lutómetro” que meça a intensidade do sofrimento. “Cada pessoa tem de encontrar dentro de si as estratégias individuais que mais lhe fazem sentido”, sublinha.
A perda de um filho é a dor maior. “Um coração partido dói, dói muito, mas regenera, pacifica. A perda de um filho é algo disruptivo, é uma alma fraturante que nunca mais emenda”, sustenta Cristina Felizardo. O luto é um processo natural para encontrar um novo equilíbrio, o tempo para uma nova felicidade, uma batalha entre a razão e a emoção, depois de um turbilhão emocional. Puxa-se uma cortina para não ver o que se passa, mas, quando a cortina cai, entra a solidão, a dor de estar só, enquanto os dias passam e a vida continua lá fora, enquanto o sofrimento se instala e a saudade rói. “As estratégias individuais, para encontrar os mecanismos adaptativos, dependem do momento, da caminhada que já se fez para adaptar-se à dor.” A agonia é o pior sintoma, esse desassossego interior, como um buraco no peito, onde não há calor e o ar não chega. Os mecanismos adaptativos podem ser benéficos, como fazer desporto, dedicar-se a focos de interesse, leitura, cinema. Ou prejudiciais como consumo de estupefacientes, excesso de álcool, excesso de trabalho.
António Augusto e a mulher Ana frequentam o Grupo de Pais em Luto do Oeste, em Torres Vedras. “A gente ri, a gente chora, a gente canta, a gente fica em silêncio. Estamos ali juntos pela mesma dor, todos na mesma sintonia, todos a viver os seus lutos, uns de uma maneira, outros de outra.” Quantas vezes António Augusto, então camionista de veículos pesados, agora aposentado, chorou ao lembrar-se da filha. “O tempo não ajuda, a gente vai-se afeiçoando a lidar com a dor. A vida é como uma peça de teatro, não permite ensaios, não estamos preparados para nada. Rimos, choramos, vivemos intensamente até que nos fecham uma cortina.”
Carla e José António reaproximaram-se, vivem juntos, voltaram a ser um casal, apoiam-se um no outro, falam do Daniel todos os dias, vão-lhe comprar mais uma miniatura de Harry Potter para o Natal. “A perda é enorme, mas as recordações são todas muito boas”, refere Carla. “Temos de lidar com a situação e todos os dias se aprende, o tempo vai apaziguando”, adiciona José António.
Porque morreu o meu filho? Não há uma resposta. “É preciso criar uma nova história, um novo filho para o filho que partiu, para superar a dor da perda”, considera Carlos Céu e Silva, psicólogo clínico, presidente da Laços Eternos – Associação de Apoio a Pais e Irmãos em Luto, com sede em Lisboa “Há pais que sentem muita necessidade em estar em grupo, falar e ouvir outros pais, e também há situações específicas, em que o momento de estar em grupo é muito duro, cruel, nem querem partilhar a sua história, nem ouvir outras.”
O luto de uma mãe e de um pai é diferente. Não bate certo. Não faz sentido. “A dimensão é trágica. Quando se vê um filho partir, procuram-se todas as explicações e como se vai sobreviver”, repara o psicólogo. “Há sempre aquele beijo que não se deu, aquela despedida que não se fez.” Há o apoio inicial da família, amigos, colegas de trabalho, vizinhos, que pode durar dois, três meses. A vida continua e os pais continuam a ter dificuldades em lidar com a perda, sofrem, choram, procuram memórias boas, têm agora 20 dias de luto parental. “Vivem numa luta de perpetuar o nome dos filhos. Há um futuro que não vai ser cumprido, criam uma angústia que só com o tempo conseguem serenar.” Os casais procuram estratégias, encontradas ou desencontradas, unem-se ou afastam-se, falam ou não falam, distanciam-se emocionalmente ou fortalecem-se. Com as emoções à flor da pele. Haverá outros momentos depois. “Quando a perda foi assimilada e aceite, os pais já riem, falam dos filhos com orgulho, com uma saudade bonita.”
Perpetuar a memória de Sara ajudando o próximo
A 5 de dezembro do ano passado, Sara Carreira morreu num acidente de carro na A1, aos 21 anos. A família Carreira tem mantido recato e discrição na dor, fundou a Associação Sara Carreira para ajudar crianças e jovens com poucos recursos a concretizarem os seus sonhos. Há dias, foi apresentado o hino da associação “Leva-me a viajar”, tema original de Sara interpretado por vários artistas musicais e figuras públicas, e na próxima quarta-feira, dia 1, é exibida a gala da associação na SIC. São formas de perpetuar a memória de Sara. “Ajudar o próximo, lançar sementes de talentosas crianças carenciadas, homenageando o modo de vida generoso da Sara”, como se lê no site. Todos os dias e para sempre.