Filha de um funcionário da IBM e de uma auxiliar de enfermagem, tinha 13 anos quando o pai emigrou para Inglaterra. Patrícia ficou em Portugal com o resto da família. Em criança queria ser médica-veterinária, mas o atletismo acabaria por ser mais forte.
Na última semana de janeiro, começaram os sintomas: “Tive-os todos, mas o que mais me assustou foram as dores musculares. Não tinha força nem para comer. Estar deitada era igualmente complicado, queria dormir e não conseguia. Senti-me mesmo muito mal”. Duas semanas mais tarde, fez o primeiro treino. “Uma simples corrida, que não foi além de 15 minutos, provocou-me muitas dores nas pernas e na anca. Um, dois, três, quatro, cinco treinos assim. Não foi fácil.”
Um mês e meio depois de ter contraído covid-19, Patrícia Mamona conquistou a medalha de ouro do triplo salto e o título de campeã da Europa em pista coberta. À NM, a atleta define a carreira em duas palavras: “Paciência e suor”. Explica: “Sei que não tenho um talento excecional. Faço atletismo há 20 anos e só há quatro ganhei destaque. Por isso, trabalho muito e por muito tempo”.
A primeira voz emocionada a chegar a Torun, na Polónia, palco da prova, foi a de Patrício Mamona. “Consegui, pai”, respondeu à euforia paterna. “O meu pai foi a pessoa com quem mais falei no último mês, esteve sempre confiante.” Tão confiante quanto o atleta do Benfica, Diogo Antunes. “Eu sabia”, afirmou, por telefone, à namorada. “Mesmo sabendo que não gosto de falar antes das provas, sempre disse que eu ia conseguir”, reage, agora, Patrícia.
O terceiro telefonema apanhou-a na sala de controlo antidoping, zona interdita a telemóveis. “De repente, entra um dirigente com um na mão e diz-me ‘fala’.” Reconheceu a voz, de imediato. “Larguei logo as análises, disse-lhes que tinham de esperar porque era uma chamada muito importante.” Ri. “Fiquei tão atrapalhada.” De São Bento, Marcelo Rebelo de Sousa agradeceu-lhe “mais uma alegria para Portugal”.
Filha de um funcionário da IBM e de uma auxiliar de enfermagem, tinha 13 anos quando o pai emigrou para Inglaterra. Patrícia ficou em Portugal com o resto da família. Em criança queria ser médica-veterinária, resultado de uma paixão de sempre pelos animais – de que Phoenix, o seu “gatinho lindo”, é testemunha -, mas o atletismo acabaria por ser mais forte. Entre 2002 e 2010, representou o Juventude Operária do Monte Abraão. Em 2011, chamou a atenção do Sporting, o clube que desde então representa.
Tem 32 anos, sente-se no “pico da forma”. A meio de uma semana de descanso, fala já em regressar. “Estou preparada para sofrer mais um bocadinho”, diz a sorrir e a pensar nos Jogos Olímpicos. “Ainda mais agora. Sei muito bem que este título traz responsabilidade. Os portugueses esperam de mim que esteja bem. É uma pressão adicional.” Não se queixa: “É uma pressão boa e muito motivadora”.
Partiu para a Polónia preparada para o pior. “Não gosto de falhar, é claro, mas as circunstâncias eram particulares.” Vê o copo meio cheio. “Encaro cada resultado menos bom como uma oportunidade para melhorar”, sublinha, considerando apenas as críticas que tentam fazer dela “melhor atleta”.
Aos que a mandam “para a tua terra” responde que a terra dela é a freguesia de São Jorge de Arroios, Lisboa, Portugal. Mas, ainda que tivesse nascido longe, “lutar pela seleção nacional, sentir orgulho e comoção perante uma bandeira o que é senão amar muito um país?”, pergunta a bela Patrícia Mbengani Bravo Mamona.
Patrícia Mbengani Bravo Mamona
Cargo: atleta
Nascimento: 21/11/1988 (32 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Lisboa)