Palmatória: dói só de olhar

A Palmatória em exposição na Sala Educação do Museu Histórico Emílio da Silva, Jaraguá do Sul, Brasil

Os professores não a dispensavam, os alunos fugiam-lhe a sete pés. Memórias de um objeto anacrónico.

Se a imagem lhe causa calafrios, dispensa as apresentações. Para os menos familiarizados, aqui vai ela: eis a palmatória, menina dos cinco olhos, férula ou Santa Luzia. Formada por uma haste e um círculo, feita de madeira, adotada nas escolas algures no século XIX e usada durante grande parte do século XX, a palmatória foi um aliado indispensável para os professores e o terror de muitos alunos. Os mais ariscos que o digam.

Em relação à origem, conta-se que terá sido primeiramente usada pelos jesuítas, como forma de disciplinar os indígenas resistentes à aculturação, e perpetuada depois pela escravidão africana, antes de migrar para o contexto escolar, com um ritual bem conhecido. Joelho no chão, a mão estendida e a malvada a atingir dolorosamente a palma da mão (embora houvesse quem também a aplicasse nos nós dos dedos). Para aumentar a crueldade, uma boa parte delas continha furos no círculo. Ao ajudarem a vencer a resistência do ar, aumentavam a velocidade do golpe. A dor também. Acreditava-se então que a violência física auxiliava no processo educativo da criança.

Hoje, tudo isto soa anacrónico. E é. A palmatória foi sendo progressivamente arrumada a partir do último quarto do século passado e, em Portugal, foi definitivamente banida do contexto escolar em 2007, quando o país se juntou à lista de estados (no ano passado eram já 63) com legislação que proíbe castigos corporais a crianças em qualquer ambiente. Mas as exceções resistem. Em 2018, uma escola da Geórgia (EUA) foi notícia por introduzir um novo método punitivo físico para disciplinar os alunos. Nada menos do que três golpes com palmatória.