Durante as epidemias de gripe, pessoas com diabetes são até seis vezes mais suscetíveis de serem hospitalizadas. O foco das associações é apelar a melhores acessos aos cuidados de saúde e o alerta é reforçado no Dia Mundial da Diabetes.
Não é por acaso que os doentes com diabetes estão incluídos nos grupos de risco. Infeções virais ou bacterianas – como é o caso da gripe – representam um perigo acrescido para diabéticos, que enfrentam uma condição crónica em que o corpo não produz insulina suficiente ou não a consegue utilizar.
“Há muitos anos que percebemos que as pessoas com diabetes apresentam um risco acrescido para as formas mais graves de gripe”, alerta João Raposo, diretor clínico da Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP) e presidente da Sociedade Portuguesa de Diabetologia (SPD). O médico ressalva que o perigo aumenta com condições agravantes associadas. Obesidade, diabetes pior compensada, idades mais avançadas ou outras patologias são fatores que acumulam riscos para os doentes diabéticos.
João Raposo explica que, durante as epidemias sazonais de gripe, apesar de os doentes diabéticos “não terem maior risco de ser contagiados, têm propensão acrescida para desenvolver formas graves da doença”. Pneumonia é o caso mais comum.
E os números confirmam os alertas do especialista. Além de, em picos da gripe, pessoas com diabetes serem três a seis vezes mais suscetíveis de serem hospitalizadas, portadores da variante do tipo 2 contagiados com gripe apresentam 57% mais casos de pneumonia comparativamente com as pessoas sem diabetes.
Para o especialista em endocrinologia e nutrição, o essencial é a prevenção, começando pelos cuidados de higiene respiratória. “Como mostrámos no ano passado, com o início da crise de covid-19, os cuidados resultam. Também com a gripe.”
Os grupos de risco são há muito sinalizados para a necessidade anual da vacinação da gripe. “Em Portugal temos uma das melhores taxas de vacinação da gripe relativamente à Europa, mas temos sempre como fazer mais e melhor”, afirma João Raposo, que considera necessário dar a conhecer à população a especial necessidade de vacinação no caso dos diabéticos. O médico refere ainda que, aos profissionais de saúde, deve haver a manutenção da mesma indicação. “É consensual nas pessoas mais velhas, mas a vacinação, mesmo com diabetes associada, é mais desvalorizada em pessoas novas.”
Prevenir é cuidar da saúde
Viver com diabetes é ter “um apoio continuado das equipas de saúde durante todo o ano e toda a vida”, e não apenas durante os tempos mais preocupantes da gripe, mas tratar as causas de agravamentos é premente. João Raposo indica que tudo o que for feito para melhorar a alimentação, o peso e os índices de glicemia, entre outros fatores, são formas de prevenir situações graves. A ideia é “melhorar tanto a diabetes como outras consequências associadas”, remata o especialista.
“O que queremos para as pessoas com diabetes é que sejam pessoas ativas, com qualidade de vida.” A APDP e a SPD escolheram marcar o presente ano com uma mensagem focada no acesso aos cuidados de saúde, assinalando também o Dia Mundial da Diabetes a 14 de novembro. Desde medicação, tecnologia, inovação, equipas de saúde treinadas e equipadas, programas de prevenção e tratamento psicológico, o doente diabético deve ter acesso facilitado a prevenção, controlo e tratamento, “de maneira a reduzir o peso que a incapacidade provoca nestas pessoas”.
