Jorge Manuel Lopes

Os Pet Shop Boys à escala humana


Opinião de música de Jorge Manuel Lopes.

Em 1994, os Pet Shop Boys percorriam as últimas etapas daquilo que então ficou conhecido como a fase imperial. Uma expressão que, curiosamente, foi inventada na década anterior pela própria metade cantante da dupla, o ex-jornalista de música Neil Tennant, e que desde então é empregue para identificar aquele momento na carreira de um artista ou banda em que tudo o que fazem é automaticamente um sucesso.

O final da fase imperial dos Pet Shop Boys teve a forma do álbum “Very”, de setembro de 93, explosão de cores e plástico e realidade virtual, uma feira popular em canções que inclui êxitos como “Can you forgive her?”, “I wouldn’t normally do this kind of thing” e, sobretudo, a versão de “Go west” dos Village People. A embalagem original do CD, uma caixa opaca cor de laranja com relevos que a assemelham a uma peça de Lego, é uma obra-prima criada pelo designer industrial argentino Daniel Weil (e pode valer quantias interessantes nos mercados da arte e dos discos).

Para promover “Very”, assim como o álbum de remisturas “Disco 2”, saído em setembro de 94, Tennant e Chris Lowe, a metade orquestral da banda, encetaram uma digressão que passou apenas por países em que não haviam ainda atuado. À tournée chamaram, naturalmente, Discovery, e em menos de dois meses percorreram Singapura, Austrália, Porto Rico, México, Colômbia, Chile, Argentina e Brasil.

No Rio de Janeiro, em três noites no Metropolitan, registaram o espetáculo que se vê e ouve em “Discovery – Live in Rio 1994”, acabado de editar numa embalagem com dois CD e um DVD. Um espetáculo que revela uns Pet Shop Boys à escala humana (o que quer que isso queira dizer no seu caso), ladeados de percussionistas, a cantora Katie Kissoon e dançarinos não profissionais. Além dos hits sísmicos (“Domino dancing”, “Suburbia”, “West End girls”, por aí fora), atiram-se a um punhado de versões, de “Rhythm of the night” dos Corona a “Girls and boys” dos Blur. O livreto desta edição é especialmente precioso, pois contém uma entrevista de outubro de 94 a Neil e a Chris, seguida de um detalhado diário da digressão escrito por Neil Tennant. Uma fase imperial merecidamente embrulhada em festivo papel verde e amarelo.