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Os ossos frágeis que matam silenciosamente

Após o diagnóstico, o caminho é tratamentos farmacológicos e não farmacológicos (Foto: Freepik)

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Sem sintomas até à ocorrência da primeira fratura e com inúmeros casos por diagnosticar, as associações exigem maior conhecimento e atenção para a doença. A plataforma Ossos Fortes lança uma nova minissérie informativa a propósito do Dia Mundial da Osteoporose.

Ao longo da vida, os ossos ficam mais frágeis e quebradiços, devido à perda de massa óssea. Uma simples queda pode ter como consequência uma fratura que chega a significar um aumento da mortalidade em 20%. Mas nem todos têm a mesma predisposição para a osteoporose, doença sem sintomas e pouco conhecida, mas para a qual existem formas de prevenção ou adiamento.

“Não podemos esquecer que a osteoporose mata tanto como um enfarte ou um AVC e não lhe dedicamos a mesma atenção”, alerta Andréa Marques. A Presidente da Associação Portuguesa dos Profissionais de Saúde em Reumatologia (APPSReuma) foca o maior problema relativamente à doença que provoca 40 mil fraturas por ano em Portugal na falta de literacia de saúde para a área. De profissionais e cidadãos. “Não há sensibilidade dos profissionais para aconselhar e guiar as pessoas, nem conhecimento na sociedade para perguntarem sobre ela.”

Atualmente diagnosticados são cerca de 800 mil os doentes em Portugal. No entanto, Andréa Marques ressalva que há muitos casos desconhecidos. “Como não conhecem, não têm medo da patologia.” A enfermeira fala ainda dos casos em que, mesmo após uma ou várias fraturas, não se associa à osteoporose. E o conhecimento não parece ser maior nas camadas mais jovens. “Mesmo quando alguém mais novo acompanha os pais a uma consulta, temos de explicar o que é, porque não conhecem a osteoporose.”

Maus hábitos de vida, não praticar exercício físico e não obter cálcio e vitamina D na quantidade aconselhada são fatores que aumentam o risco de sofrer de osteoporose e, consequentemente, de apresentar fraturas em quedas simples e pouco aparatosas. E a prevenção deve começar na infância, para que, por volta dos 25 anos, o pico de massa óssea seja o mais elevado possível, atrasando a idade em que os ossos atingem uma situação preocupante.

Associações como a APPSReuma têm um papel fundamental na divulgação de informação, mas também na aplicação de medidas práticas. A mais recente é a criação de Consultas de Fratura de Fragilidade, coordenadas com as direções hospitalares e já em ação em sete hospitais públicos do país. A medida, que funciona sinalizando os doentes acima dos 50 anos que sofreram fraturas, garante que é dado o tratamento adequado, com uma equipa multidisciplinar, desde médicos, enfermeiros, dietistas e profissionais de reabilitação.

Andréa Marques indica que apenas 14% dos doentes com mais de 50 anos que fazem uma fratura da anca, a mais comum, iniciam tratamento à osteoporose. A causa? A falta de um serviço exclusivo para identificar estes pacientes, em que a enfermeira aponta a responsabilidade para a “falta de normativas a nível nacional que digam que é necessário intervir nestes doentes em particular”. E é exatamente na pressão política para a importância da osteoporose que as associações focam também o seu trabalho.

Andréa Marques é presidente da Associação Portuguesa dos Profissionais de Saúde em Reumatologia
(Foto: DR)

Já em doentes diagnosticados ou em pessoas acima dos 50 anos, uma das principais preocupações a ter é a prevenção de quedas. Todos os espaços da casa bem iluminados, objetos de uso quotidiano numa posição acessível, sem necessidade de escadote ou banco, e tapetes bem fixos ao chão são algumas das indicações mais práticas dadas pela Ossos Fortes, iniciativa criada em 2019 e apoiada pela APPSReuma e pela Sociedade Portuguesa de Reumatologia, entre outras associações.

A Ossos Fortes não quer deixar o Dia Mundial da Osteoporose (20 de outubro) sem assinalar a importância de estar atento para a doença e lançou uma minissérie sobre os riscos que podem ser encontrados no dia a dia. “A queda não mora aqui” é constituída por cinco episódios, cada um alusivo a um perigo que pode ser encontrado pela casa. Na plataforma, que a presidente da APPSReuma destaca pela “informação pertinente” para sensibilizar a população, há ainda materiais informativos e educativos, de linguagem simples, e disponibiliza uma avaliação do risco osteoporótico, um teste de 20 perguntas rápidas.

Olhando para os últimos dez anos, a enfermeira Andréa Marques gostaria de ter assistido a uma maior evolução. “Temos evoluído muito nas ferramentas para diagnosticar, mas em termos de aumento de tratamento e literacia, apesar de termos os fármacos e estratégias não farmacológicas, não há ainda uma especialidade que olhe para estes doentes.”

Após o diagnóstico, o caminho é tratamentos farmacológicos e não farmacológicos, como ensinamentos para prevenir quedas ou para uma alimentação rica em cálcio. A reabilitação é também parte fundamental, principalmente quando, após uma queda, é imperativo trabalhar na recuperação de mobilidade.

A presidente da APPSReuma lembra ainda a importância de garantir que as pessoas aderem a este plano terapêutico, porque, “como não apresenta sintomas, há o risco de desleixe e de esquecimento que a doença está lá, mesmo não dando sinais”.