Jorge Manuel Lopes

Os dias azuis de Joni Mitchell

Jorge Manuel Lopes, editor-adjunto da Cultura do Jornal de Notícias (Foto: Artur Machado/Global Imagens)

Crítica musical, por Jorge Manuel Lopes.

O outono tem trazido esplêndidas notícias de uma criadora para todas as estações. Depois da inauguração em outubro de 2020, acaba de chegar o segundo volume das caixas que revelam os fios com que se tece a incandescente carreira de Joni Mitchell. “Archives – Volume 2: The Reprise years (1968-1971)” encontra a cantora e compositora e pintora canadiana no ponto em que a carreira começa a levantar voo. Nos anos abrangidos por este lançamento, Mitchell assinou contrato com a editora Reprise e lançou os primeiros álbuns, num crescendo de inspiração: “Song to a seagull” (1968), “Clouds” (69), “Ladies of the Canyon” (70) e o clássico “Blue” (71).

Tal como em “Archives – Volume 1: The early years (1963-1967)”, o tomo mais recente é uma arca de material pouco ou nada conhecido, num objeto de design limpo que inclui um livro onde prossegue a conversa entre Mitchell e o cineasta e escritor Cameron Crowe. São cinco CD com maquetas caseiras, sobras de sessões de estúdio, atuações radiofónicas e televisivas e registos de concertos. Há canções familiares cujo corpo vai sendo esculpido em privado, alguns inéditos e declinações em palco do seu repertório. Uma das pérolas reside no disco 2, uma atuação de Joni Mitchell em Le Hibou Coffee House, Otava, Canadá, a 19 de março de 1968. A gravação foi efetuada por Jimi Hendrix e dada como desaparecida pouco tempo depois, reemergindo há pouco numa coleção privada entregue à Library and Archives Canada, que a reencaminhou para a autora. Outro ponto alto reside na estreia de Mitchell no Carnegie Hall, em Nova Iorque, a 1 de fevereiro de 69, concerto gravado pela editora para um lançamento futuro. Um futuro que esperou 52 anos.

A prestação de 29 de outubro de 1970 para o “In concert” da BBC fecha “Archives – Volume 2”, num alinhamento parcialmente partilhado com James Taylor e que desagua num dos futuros standards de Joni Mitchell: “Big yellow taxi”.