O combate à pandemia é feito a diferentes velocidades. Avança-se e recua-se. Fecha-se e abre-se. Confina-se e desconfina-se. Agora aposta-se tudo na vacinação. No Reino Unido, fala-se em liberdade, em Malta abre-se com cautela, em Israel ainda se usam máscaras em espaços fechados. Os nossos emigrantes contam o que veem e o que sentem nos dias que passam devagar.
Pedro Almeida ainda guarda a pequena folha A5 arrancada de um caderno escolar pautado em que escreveu nome, data de nascimento e email, debruçado numa mesa de piquenique montada numa pequena garagem, anexa a uma igreja da comunidade afro-americana, num dos centros comunitários de registo de vacinação em Rhode Island, Estados Unidos da América (EUA), onde vive. Um funcionário do departamento de saúde inseriu os dados no sistema informático e devolveu-lhe aquele pedaço de papel mal cortado. “Levantei-me, dobrei a folha em quatro, meti-a ao bolso e vim-me embora. Estava feito.” Em menos de dois minutos tinha a primeira dose agendada para daí a oito dias.
Primeira toma em abril, segunda no início de maio. “No dia da primeira dose, fui com amigos à arena desportiva onde iríamos receber a vacina. Um destacamento da Guarda Nacional encaminhava as pessoas para o interior do pavilhão, onde fomos recebidos por dezenas – não exagero: dezenas – de voluntários e voluntárias, que a cada grupo que ia chegando davam as boas-vindas, sorriam, gritavam ‘chegou finalmente o dia!’, aplaudiam e davam os parabéns”, recorda. Emocionou-se, era difícil isso não acontecer. “Foi um dos raros momentos em que tive a nítida perceção de que estava a vivenciar um episódio histórico, e todos sabíamos disso.”
Pedro Almeida, 33 anos, de Santa Maria da Feira, vive há oito anos nos EUA, é estudante de doutoramento em Estudos Portugueses e Brasileiros na Brown University, em Providence, foi leitor na Universidade da Califórnia em Santa Bárbara. Neste momento, está tudo a funcionar. Comércio, restaurantes, bares, discotecas, espaços culturais. Quem tem a vacinação completa há mais de 14 dias não precisa de usar máscara, mesmo em espaços fechados, como determina a lei estadual. Não se pedem comprovativos de vacinação, não há controlo à porta, acredita-se que todos cumprem o princípio, uso de máscara apenas para os que ainda não foram vacinados ou não têm a vacinação completa. Biden não conseguiu atingir a meta de vacinar 70% dos adultos até 4 de julho, Dia da Independência dos EUA. Por agora quase metade da população está inoculada, são mais de 160 milhões, e as campanhas continuam. Há autocarros em bairros, centros a oferecer cerveja, marijuana e dónutes, a Disneyland na Califórnia reabriu.
Malta lidera a vacinação a nível mundial, quase 81% da população está completamente inoculada. Foi o primeiro país da União Europeia a anunciar que tinha atingido a imunidade de grupo em maio, quando já tinha vacinado 70% da população adulta. Mesmo assim, o regresso à normalidade está a ser feito com cautela. Ainda há limite de pessoas em espaços fechados, mede-se a temperatura à entrada, desinfetam-se mesas e cadeiras com frequência, eventos de massa ainda não têm data de regresso.
Vera Azevedo vive em Malta desde setembro de 2017, é de Lisboa, trabalha num banco. Tem 32 anos, está grávida de sete meses e, por isso, será vacinada seis semanas depois do nascimento da filha. O país já está a imunizar jovens entre os 12 e os 15 anos e pessoas que vivem em Malta e que não têm cartão de residente ou não tinham, por algum motivo, sido vacinadas. Não é preciso marcação.
Desconfina-se aos poucos e controladamente. “No dia 1 de julho, passou a ser permitido que quem esteja completamente vacinado ande na rua sem máscara, desde que esteja sozinho ou só com mais uma pessoa. Grupos de três ou mais pessoas, independentemente de estarem vacinados ou não, têm de andar com máscara em espaços públicos”, relata Vera. Há duas semanas, houve mudanças.
“O número de novos casos voltou a disparar, muito provavelmente em resultado do enorme fluxo de turismo e de todas as liberdades que voltaram. Malta voltou a alterar algumas regras: as escolas de línguas fecharam, dado terem sido consideradas um foco de casos, e as regras de entrada e saída do país foram alteradas. Se antes era preciso um PCR, agora na maior parte dos casos é exigida a vacinação completa ou quarentena à chegada.” A medida tem sido contestada. “Mas entrou em vigor menos de uma semana depois da sua publicação.” Restaurantes, piscinas, ginásios, museus, cinemas e teatros, bares e casinos. Tudo aberto. “Os espaços foram reabrindo e a possível normalidade foi regressando.”
Israel foi o primeiro país a vacinar em massa. Em março o Governo de Benjamin Netanyahu anunciava que metade da população tinha recebido duas doses. Neste momento, mais de 11 milhões de doses foram administradas, quase 60% da população tem a toma completa. Diana Setton, natural do Estoril, vive há 23 anos em Israel, está a 15 quilómetros de Telavive, é vice-presidente de uma companhia de novas tecnologias, já viveu em África. Tem 43 anos, foi vacinada em fevereiro, a filha de 16 anos tem as duas doses, a do meio, de 13, tomou a primeira e a segunda está agendada para o final deste mês, a mais nova, de dez, ainda não entra no plano de vacinação. “Muito bem organizado, com horário, não houve atrasos, nem horas de espera.”
As campanhas de vacinação não param de circular pelos média, está tudo a funcionar, restaurantes, comércio, cinemas, teatros, as máscaras são obrigatórias em espaços fechados. “A vida cá é muito dinâmica, as pessoas voltam ao normal muito facilmente.” Fala-se em aumento de casos e numa terceira dose. Diana Setton olha com otimismo para o futuro, o confinamento trouxe-lhe mais tempo em família, sossego e tranquilidade, outras dificuldades também. “Ainda há muita coisa boa para viver”, diz.
Na última semana, os Emirados Árabes Unidos tinham mais de 70% da população totalmente inoculada, mais de 80% com uma dose, continuam a liderar a vacinação à escala global. Neste momento, o uso de máscara ainda é obrigatório na rua e em todos os espaços públicos fechados, a única exceção é durante a prática de exercício físico ao ar livre. As campanhas de sensibilização são constantes, não esmorecem. “A prioridade ainda passa muito por continuar a alertar para os perigos de contrair o vírus e para sensibilizar a população a ser prudente e responsável nas decisões que toma no dia a dia, de forma a evitar o aumento do número de casos”, conta Daniela Camacho, de 32 anos, que vive no Dubai há oito anos, onde é assistente de bordo numa companhia aérea. Está vacinada com duas doses, primeira em abril, segunda em maio. A mensagem tem sido inocular ao máximo. “E incentivar e educar as pessoas para perceberem as vantagens de ter uma população maioritariamente vacinada, com o objetivo comum de voltar à normalidade o mais rapidamente possível.”
Liberdade britânica, intermitências francesas
O Reino Unido é o primeiro país do Mundo a desconfinar totalmente, a aliviar a maioria das restrições, quase tudo a funcionar como antes da pandemia, as discotecas reabriram 16 meses depois. A partir de segunda-feira passada, 19 de julho, sem máscaras, sem distanciamento social. Chamam-lhe o “dia da liberdade”. Boris Jonhson, primeiro-ministro, pede cautela e bom senso no regresso à normalidade – mesmo assim, tem sido alvo de críticas de vários setores da comunidade científica internacional.
Lara Silva é assistente de geriatria, mora em Manchester, está há oito anos no Reino Unido, é do Porto. Não notou grande diferença de domingo para segunda-feira, “dia da liberdade”. Já quase ninguém usava máscaras nos locais públicos, nos espaços fechados já havia pouca gente a fazê-lo, quase tudo aberto, pubs inclusive. Os britânicos andavam ansiosos. “Com as regras mais facilitadas, há gente que já não usa máscaras”, revelava há uma semana, domingo passado, 30 graus em Manchester, um dos dias mais quentes do ano. “A cidade é muito grande, há muita zona verde para andar.”
Lara nunca parou de trabalhar, veio a Portugal no final de junho, teve de fazer teste PCR antes de partir, cento e tal libras, mais teste quando regressou, mais 60 euros em Portugal, mais dois testes durante a quarentena. Contas feitas, os testes ficaram mais caros do que a viagem. Apesar de estar vacinada, primeira dose em março e segunda em abril, não lhe pediram o certificado de vacinação.
Antes do alívio, as medidas foram bastante rigorosas, tudo fechado, máscaras em todo o lado. “A vacinação está a ser um processo rápido para todos os grupos etários.” Mais de 54% da população está totalmente vacinada e são 36 milhões, mais de 82 milhões de doses. “Aqui as pessoas não podem parar, são muito impacientes e querem abrir. Agora estão mais calmas, já se nota essa diferença”, garante.
Ana Gonçalves trabalha num supermercado em Londres, onde vive há seis anos. Há pouco tempo, antes do “dia da liberdade”, contou cinco pessoas num corredor estreito do supermercado, era a única a usar máscara. Em abril, cruzou-se com uma manifestação antimáscaras. “Tão grande e tanta gente.”
Nunca parou de trabalhar durante o confinamento e notou bastante movimento no supermercado quando quase tudo estava fechado. “Havia gente a passear três vezes por dia no supermercado só para ir buscar um pacote de leite. Mais velhos e mais novos”, realça. Tomou a primeira dose há mais de um mês, a segunda será a 8 de agosto, esperou que a chamassem, foi simples. “A normalidade vai voltar aos poucos, mas os casos estão a aumentar”, comenta. É um facto. Dois dias antes de o Reino Unido levantar a maioria das restrições, contaram-se quase 55 mil novos casos, o número mais elevado desde 20 de janeiro. “Nunca percebi a cena de não usar máscara, não consigo usar de pano, uso a cirúrgica. Aqui há de tudo, quem quer e quem não quer ser vacinado.”
Ana tem 28 anos e aguarda, com alguma apreensão, o que vai acontecer. Lara Silva, de 35 anos, também. “A normalidade está a ser esta, o que tanto ansiavam. Estamos a voltar, de certa forma, ao que era, mas este processo tem sido muito lento. Os casos estão a aumentar e as pessoas estão a ficar mais retraídas”, frisa Lara. O confinamento foi pesado, saudades da família e dos amigos em Portugal, de viajar, da vida mais movimentada. Quantas vezes, foram muitas, saía de casa para trabalhar e quase ninguém nas ruas.
França também esteve assim, vazia, os casos estão a aumentar, as restrições endurecem novamente, máscaras nos espaços fechados, exigem-se testes negativos ou vacinação completa. A 12 de maio, o país abriu a vacinação para toda a população, mais de 63 milhões de doses dadas até ao momento, mas ainda na casa dos 40% com o processo completo. E também já se fala num dose de reforço.
Daniel Rodrigues, 51 anos, trabalha na área dos seguros e das finanças, mora em Paris, está em França há sete anos. 2021 tem sido duro. “Sete meses muito complicados com as restrições, quase como uma tortura chinesa.” Quando, no ano passado, se vislumbrava um raio de Sol, o país voltou a confinar no início de 2021. Neste momento, é testar, e qualquer teste é gratuito, e vacinar ao máximo. “A progressão tem sido muito lenta.” Há meses que não vê colegas de trabalho a não ser em reuniões virtuais. “O desgaste tem sido tão grande que as pessoas começam a não acreditar que vai haver um final feliz.” A perceção da realidade mudou. “A nova normalidade é acharmos isto normal. A nova normalidade anormal.” Daniel Rodrigues está a tratar de ser vacinado.
Vacinação com música e paredes de selfies na Holanda
Beatriz Cunha foi vacinada à meia-noite num pavilhão em Utrecht, Países Baixos, edifício grande semelhante à Exponor ou à FIL. É um centro de vacinação que não fecha, aberto toda a noite. Dois DJ no meio, luzes e música, paredes para tirar selfies, oferta de um chocolate no final e de folhetos com eventos em que era preciso estar imunizado para entrar. “É a estratégia para os jovens serem vacinados, poderem ir a festas, a discotecas.” Mas, entretanto, os casos aumentaram e as discotecas fecharam.
Beatriz Cunha tem 21 anos, acabou o mestrado em Gestão Internacional, arranjou um estágio em Utrecht, e vai ficar. Chegou em agosto do ano passado e nunca teve uma aula presencial. Tudo fechado, máscaras em todo o lado, recolher obrigatório às nove da noite. O país desconfinou aos poucos, agora está tudo aberto, as máscaras são obrigatórias apenas nos transportes públicos. Foi o último país da União Europeia a começar a vacinar, apanhou o ritmo, chegou a estar bem posicionado na lista mundial. “Está tudo normal, mas os casos subiram nestas últimas semanas.” Para viajar, basta estar inoculado, o teste PCR já não é necessário. E as campanhas estarão a resultar. “Não conheço ninguém à minha volta que não queira ser vacinado.”
A vacinação decorre a bom ritmo na Dinamarca. Não é obrigatória, nem mesmo para o pessoal que trabalha na saúde. Depois dos maiores de 50, a atenção está agora nos jovens. Em março de 2020, todas as empresas e escolas entraram em trabalho remoto. O Governo sugeriu, não obrigou. Antes, durante e depois das festividades, Natal, Páscoa, fechou tudo. Neste momento, o uso de máscaras é obrigatório apenas em transportes públicos, em pé, sentado não. Crianças com menos de 12 anos nunca precisaram de usar máscara. A 1 de agosto, cai o uso de máscara na Dinamarca. Cristina Teixeira, 31 anos, de Braga, mora em Copenhaga há ano e meio, já tinha estudado e vivido na cidade entre 2014 e 2017, é vice-presidente de um grupo de empresas farmacêuticas, frequenta um mestrado, e conta o que se passa. “A vida voltou à normalidade há algum tempo. Porquê? A Dinamarca criou centros para teste à covid no ano passado. Os testes são gratuitos e funcionam como um drive-in (estilo McDonald’s).” Entra-se, dá-se o número único de identificação, número de telefone, um profissional faz o teste, em meia hora o resultado chega por mensagem, app, pela via que se escolher. “Há testes espalhados pelo país todo, pequenas e grandes cidades.” Os resultados têm validade para três dias e são necessários para entrar em restaurantes, cinemas, clínicas, ginásios.
Vítor Lucas Lindegaard, de Lisboa, já viveu em vários países, em vários continentes. Morou em Copenhaga, há dez anos que está em Svendborg, no sul da Fiónia, ilha dinamarquesa. Tem sido professor de português para estrangeiros, tradutor, agora está a tirar um curso para trabalhar em saúde e cuidado a idosos. Entrou de férias há pouco mais de uma semana, partiu em direção ao sul. “As fronteiras abriram e nós aproveitamos. Vamos escolhendo o destino em função das condições meteorológicas e da incidência de covid nos vários países, como fizemos no ano passado.”
Entre um ano e outro, poucas diferenças. “Se se pode falar agora de regresso à normalidade na Dinamarca – e creio que se pode, de facto -, também se podia falar de regresso à normalidade faz hoje um ano. Mas a normalidade desapareceu de repente e é muito natural que volte a desaparecer. Ou então não, dado que, em populações com elevados níveis de vacinação, a variante Delta que agora se espalha rapidamente não parece ter o mesmo temível efeito de provocar internamentos de urgência, se bem que tenha outras consequências terríveis.”
Vítor Lindegaard tem 62 anos, está vacinado, a mulher, dinamarquesa, também, bem como as suas filhas de 19 e 17 anos. “É certo que as restrições na Dinamarca foram e são menos severas do que em muitos outros países, mas, ao contrário do que eu já vi afirmado por aí, isso não é sinal de que o Governo da Dinamarca encara as medidas de prevenção da pandemia de forma diferente do Governo português ou outros governos.” E acrescenta: “Decorre apenas de os números de contágio terem sido mais baixos na Dinamarca do que noutros países. Em zonas onde o contágio foi muito alto – de facto, não se deve analisar a evolução da pandemia a nível nacional, mas sim a um nível mais localizado -, também foram introduzidas medidas severas, como a proibição de viajar de uma comuna para a outra”.
Cristina Teixeira acaba de ser vacinada, esse processo está a ser rápido. Na Dinamarca, a cultura de responsabilidade social está entranhada, não há muitas campanhas, confia-se no Governo e nas entidades. Recebe-se um email ou uma carta, acede-se a uma página na Internet, escolhe-se local e hora.
Os dinamarqueses, na maioria, cumprem regras. Apesar das restrições, há algum ar fresco, segundo Cristina Teixeira. “Foi sempre permitido andar na rua, exercitar, cruzar concelhos, ir a praias, florestas, etc.. A saúde mental é muito importante nos países nórdicos. Ficar ‘presos’ em casa era e é visto como um fator que baixa performance, aumenta hábitos sedentários. E, no final, tem efeitos mais nefastos que a covid”, assinala. “Apesar de pagarem imensos imposto, foi clara a utilização do dinheiro nos centros de teste e a missão dos políticos em fazer o melhor que podiam, com o que sabiam.”
Tantas regras, voltar à rua, nascer de novo na Alemanha
Carina de Castro mudou-se de Portugal para Münster, Alemanha, há oito anos. É auxiliar de enfermagem, faz domicílios, recebeu a primeira dose em janeiro, a segunda em fevereiro. Nunca parou de trabalhar, a filha de nove anos nunca deixou de ir à escola, tal como restantes filhos de profissionais de saúde. Já antes da pandemia, andava com álcool-gel no bolso, de máscara, e vários pares de luvas. Agora, na cidade, a vacinação é feita sem marcação e está aberta a crianças a partir dos 12 anos. A máscara é obrigatória em espaços fechados, é necessário teste ou certificado de vacinação para entrar em cafés, restaurantes, bares. Os testes são gratuitos. Durante algum tempo, pouco, houve recolher obrigatório. “Chegou uma altura em que ficámos tão baralhados por causa das alterações repentinas. Num dia, estão a proibir, no outro a abrir o mundo novamente”, refere.
Carina trabalha com idosos, acamados, pessoas que vivem sozinhas, vulneráveis, que precisam de medicação. Sentiu de perto o que o novo coronavírus pode fazer: “Vi o que a doença faz, a debilidade que provoca. No tempo em que houve mais casos, era mesmo perigoso sair à rua. Fazia questão que os meus velhos, as minhas pessoas, os meus doentes, não saíssem de casa”. Uma senhora cumpriu à risca, nove semanas fechada em casa e, depois, uma frase que ficou. “Quando saiu, essa senhora disse-me: ‘Parece que nasci de novo, parece que não conhecia nada mais do que quatro paredes’.”
Os números estão a subir novamente em Münster, cidade com mais de 315 mil habitantes. Alemanha não brinca em serviço, a vacinação não é obrigatória, em maio estava a acelerar o plano, em junho começou a vacinar crianças maiores de 12 anos, a meio deste mês mais de 38 milhões estavam totalmente vacinados e quase 50 milhões tinham recebido a primeira dose. “É um país que cuida muito bem do que é seu.”
Do outro lado do Atlântico, nos EUA, pouco depois de ter sido vacinado, Pedro Almeida juntou-se a uma equipa de voluntários numa clínica de vacinação num bairro de elevada densidade populacional e baixos rendimentos. O seu espanhol foi bastante útil para comunicar com quem não dominava o inglês. Recebia, encaminhava para enfermeiros, monitorizava sintomas imediatos, ajudava com o agendamento da segunda dose, acompanhava à saída. “Senti que era o mínimo que podia fazer para retribuir o que recebi do Estado desde o começo da pandemia.” Há um antes com Trump, que menosprezou recomendações da comunidade científica, e um depois com Biden. O ritmo da vacinação disparou em poucas semanas, o exército saiu às ruas para assegurar a logística das clínicas de vacinação montadas em escolas, salas de concertos, estádios de basquetebol, pavilhões desportivos, associações de bairro, entre outros espaços.
Voltar às aulas, sem máscara, nos Estados Unidos
No verão do ano passado, ao viajar do Porto para Providence, Pedro Almeida sentiu que estava a regressar aos primeiros dias da vida pandémica. Trump ainda era presidente dos EUA. “Quando, em Portugal, já tínhamos assimilado e integrado ao quotidiano as regras de segurança e higiene, de repente, usar máscara era um ato político e era necessário, ainda, falar sobre isso.” A então governadora de Rhode Island, Gina Raimondo, agora secretária do Comércio dos EUA, adotou medidas que contrastavam com as orientações de Trump. Máscara obrigatória no exterior e no interior, estabelecimentos de diversão noturna e bares encerrados, testes PCR gratuitos e ilimitados.
Perto de sua casa, numa rua historicamente de emigrantes cabo-verdianos e açorianos, Pedro viu um novo sinal de trânsito que dizia, assim, em português, “As máscaras faciais devem ser utilizadas o tempo todo”. “À minha volta, os números de contágio mantiveram-se reduzidos e a atitude geral relativamente às medidas de contenção da pandemia foi quase sempre militante. Era necessário exteriorizar que se acreditava que o vírus era real, para se demarcar da atitude do presidente e daqueles que o seguiam”, lembra. Agora, quando abre a aplicação da Uber aparece uma mensagem que pergunta se quer ir para um centro de vacinação e permite marcação imediata.
No Dubai, no início da pandemia, medidas restritivas em todo o lado, atenuadas com o tempo e imunização. Daniela Camacho fala da vacinação. “Surpreendeu-me imenso pela positiva o rápido início da campanha de vacinação, que foi oferecida a quem quisesse tomar, independentemente da idade, e das inúmeras campanhas de divulgação de combate à pandemia e de sensibilização para as melhores práticas a ter para conseguirmos todos, em comunidade, ultrapassar esta fase menos boa.”
Por estes dias, nos EUA, poucos sinais lembram o passado duro e complexo da pandemia. Há um mês, Pedro Almeida ouviu a sua universidade anunciar que 90% dos estudantes e professores estavam vacinados e todas as restrições às atividades presenciais foram imediatamente levantadas. “É difícil descrever a sensação que tive ao voltar a entrar, sem máscara, numa sala de aula com alunos. Creio que de alguma maneira, como todos nós ao longo destes meses, aprendi a saborear pequenas coisas que tinha como naturais, como poder sorrir para alguém e ser compreendido”, observa. Todos os dias, a universidade transporta estudantes a centros de vacinação num autocarro à disposição, a qualquer hora. Uma vez por semana, no mínimo, a universidade testa alunos, docentes e funcionários no principal pavilhão desportivo, sob pena de incumprimento do código de conduta académico.
No Dubai, em todo o lado, há desinfetantes para uso público, de caixas de supermercado à porta de restaurantes e cafés. Daniela Camacho tem dois dispensadores de álcool-gel junto aos elevadores do prédio onde mora. “Também foi sempre uma prioridade disponibilizar um acesso rápido e fácil a testes PCR, a um preço bastante acessível, tendo sido montados vários centros de realização, que não necessitam de marcação prévia e que podem ser feitos de forma walk-in e drive-thru, ou até mesmo ao domicílio.” Portugal continua a inocular, mais de dez milhões de vacinas já foram administradas, mais de 64% dos portugueses foram imunizados, cerca de 46% com vacinação completa. A Europa quer chegar ao final do verão com 70% da população imunizada e António Costa, primeiro-ministro, fala na “libertação total da sociedade” nessa altura. Em França, conta Daniel Rodrigues, Portugal tem sido olhado nos extremos. “Oscila entre o bom aluno e o mau aluno muito rapidamente.”