Jorge Manuel Lopes

O princípio do prazer


Crítica de artes plásticas, por Jorge Manuel Lopes.

Faz hoje 30 anos que Touko Valio Laaksonen partiu. O Mundo conhece-o como Tom of Finland, e esse Mundo conhece-o surpreendentemente bem tendo em conta a obra produzida. Uma obra homoerótica, povoada por homens musculados, em uniformes, influente no imaginário da cultura popular dos últimos 50 anos.

Numa entrevista de 1985, Laaksonen falava do seu percurso como uma reação mais ou menos consciente ao clima social e familiar conservador em que cresceu, na Finlândia dos anos 1920 e 30. Desde miúdo que tinha fantasias eróticas com homens da vizinhança, a que juntou um fetiche por couro, da roupa ao calçado, num tempo e espaço em que esse era material quotidiano e não afirmação estética. São elementos que nunca abandonou na produção artística, como se percebe pelos milhares de ilustrações que deixou. Igualmente perene é a sua fixação por uniformes, que chegou mais tarde, já soldado do Exército finlandês na II Guerra Mundial.

Laaksonen agarrou-se aos lápis e a um estilo fotográfico q.b. e não mais os largou. Começou a publicar em revistas americanas na década de 1950, acumulando essa arte com o trabalho numa agência de publicidade durante décadas. Só a partir de 1973 conheceu um sucesso mais mainstream que lhe permitiu dedicar-se a tempo inteiro a uma obra que atravessa amiúde a fronteira rumo à pornografia, sem perder o humor agreste e o poder sugestivo dos olhares cruzados entre personagens. Em 2021, contra muitas probabilidades, Tom of Finland gera livros (os da Taschen são especialmente recomendáveis), um filme biográfico, até uma popular coleção de selos dos correios finlandeses.