Margarida Matos Rosa: proativa e poderosa

Margarida Matos Rosa é presidente da Autoridade da Concorrência

Gosta do que faz tanto quanto aprecia empenho nos colaboradores. Saboreia o tempo de preparar o jantar para a família. Frequenta o ginásio, faz menos caminhadas do que devia. “Para a frente é o caminho”, frase roubada ao avô materno, é lema de vida.

A um ano de terminar o mandato, a presidente da Autoridade da Concorrência (AdC), recordista na aplicação, em Portugal, das maiores multas de sempre, continua a pensar “no muito que ainda quer fazer”. Defensora acérrima da autonomia do organismo que lidera, não desarma: “Há muitas situações com as quais queremos ainda lidar”.

Basta uma notícia de jornal para que a proativa Margarida Matos Rosa, 48 anos, mande avançar. Que o diga a diretora do departamento responsável pela investigação. “Sempre que deteta a possibilidade de uma infração à lei da concorrência, reage. E pressiona para que o façamos também”, diz Ana Amante. Exige “rigor e posição robusta”, acusações que colham em caso de querela judicial.

Trata-se de uma equipa pequena – 85 elementos no total -, incentivada pelo lema da líder: “Podemos sempre fazer mais e melhor”. Recentemente, foi de 9,2 milhões de euros a multa aplicada a quatro das principais cadeias de supermercado e a um fornecedor de produtos alimentares (Super Bock, Continente, Auchan, Pingo Doce e ITMP), acusados de alinharem preços durante mais de uma década, em prejuízo do consumidor.

Proativa e poderosa. “Se alguma coisa a deixa muito irritada, são os casos de violação da lei”, salienta Ana Amante. Descreve alguém capaz de reagir com ponderação “à adversidade, mais focada na solução do que no problema, colocando como objetivo a melhoria continua”.

Para boas condições do trabalho grandes responsabilidades. Margarida confessa-se “exigente com a qualidade das investigações”, que devem ser “objetivas e isentas, de forma a avançarmos com toda a segurança”, frisa. Os colaboradores consideram-na talhada para o cargo. “Pela independência e pelo foco permanente nos resultados”, defende Ana Amante. Na AdC desde 2004, a diretora recorda a primeira reunião com a líder. “Pareceu-me muito acessível, tranquila, com um discurso muito claro.”

Ana Sofia Rodrigues, economista-chefe da AdC, na casa desde 2006, estava presente. “Pareceu-me muito afável, muito objetiva, muito interessada.” Com o dom de “saber ouvir e capacidade de decisão”. Estava-se em 2016. Depois de uma passagem pela J.P. Morgan, BNP Paribas, UBS Bank e Santander Investment – os bancos declinaram um comentário uma vez que correm recursos contra a AdC -, Margarida Matos Rosa vinha do departamento de supervisão da gestão coletiva de investimentos da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, onde mostrara, diz quem se lembra, “boa preparação”. Era então “uma jovem fechada e determinada”, com grande gosto pelos assuntos europeus.

Interessa-a a História e a Geopolítica. “Se há algo que me caracteriza é ser europeísta convicta, intrinsecamente defensora da construção europeia, essencial para a Europa do pós-guerra.”

Nasceu em Lisboa – cresceu em Benfica – e mudou-se para Bruxelas aos 14 anos. Estudou na Escola Europeia, depois na Universidade de Louvain, onde se formou em Ciências Económicas. Estagiou na Comissão Europeia e defendeu tese de mestrado na prestigiada Princeton (MPA).

“A concorrência sem regras”, sublinha, “prejudicaria a inovação, o emprego, o mérito, os consumidores”. Gosta do que faz tanto quanto aprecia empenho nos colaboradores. Pontual e viciada em chá, saboreia o tempo de preparar o jantar para a família. Frequenta o ginásio, faz menos caminhadas do que devia. “Para a frente é o caminho”, frase roubada ao avô materno, é outro dos lemas de vida. O profissional ficou traçado no 9.º ano, nos primeiros contactos com os temas da economia. Mas, tal como o avô, “também podia ser professora”.

Margarida Matos Rosa
Cargo:
presidente da Autoridade da Concorrência
Nascimento: 03/01/1973 (48 aos)
Nacionalidade: Portuguesa (Lisboa)