Marco Alves: o missionário

Marco Alves é chefe da Missão de Portugal aos Jogos Olímpicos Tóquio 2020

Houve um tempo em queria ser arquiteto. Acabaria por vencer o desporto, o curso que o levou das Caldas à capital. E aí, em 2009, ao Comité Olímpico. Doze anos depois, pela primeira vez no COP um técnico da casa é chamado a assumir as funções de chefe de missão.

Confiaram-lhe a missão de chefiar a embaixada portuguesa aos Jogos Olímpicos de Tóquio, a melhor representação de sempre no maior evento desportivo do Planeta: trouxemos do Oriente quatro medalhas – duas de bronze, uma de prata e uma de ouro. Competia-lhe zelar pelo conforto dos atletas, com igual empenho do primeiro ao último dia e disponibilidade igual para os grandes problemas logísticos – o agendamento e reagendamento de viagens em tempo pandémico, a chegada a bom porto dos enormes e essenciais contentores – e para os do dia a dia. “Perdi a chave do quarto, esqueci-me do saco no treino, falta-me uma peça do equipamento, dói-me a barriga”, afinação que permite a tranquilidade essencial a quem vai competir.

“Conseguiu. O Marco é alegre, muito trabalhador, sabe ajudar nos bons e nos maus momentos, é bastante comunicativo e soube liderar uma missão, num papel de muita responsabilidade. Fez um grande trabalho, está de parabéns”, diz o canoísta Fernando Pimenta. “É muito simpático, sempre muito atencioso, aposto que foi dele a ideia de staff e equipa me receberem com palmas na aldeia olímpica”, acrescenta a também medalhada Patrícia Mamona.

Não gosta de falar dele próprio, mas admite: “Sou comprometido com o que faço”. Agradece a confiança e devolve aos atletas a dedicação recebida.

“Gostava muito que as pessoas conhecessem o que está por detrás daquele esforço. Que soubessem o quanto parece impossível saltar 15,10 (Mamona) ou 17,98 (Pichardo). Estar dez minutos a fazer força máxima (Jorge Fonseca) ou remar 1000 metros em 3,22 minutos (Pimenta)”.

Nem sempre foi a pessoa extrovertida que o canoísta descreve. “Em criança era reservado, quase tímido. Mas o desporto transformou-me.” No Sporting das Caldas praticou ginástica e ténis de mesa. E voleibol: “Uma modalidade coletiva vive do companheirismo e isso marcou-me”.

Pedro Mil Homens, diretor do Benfica Campus é conterrâneo de Marco Alves. Umas décadas mais velho, foi seu professor na Faculdade de Motricidade Humana e também ele jogou vólei no mesmo clube. “Lembro um aluno organizado, responsável, alguém com um caminho seguro na área da gestão desportiva, sempre discreto e competente.”

Marco Alves sabia a missão que o esperava. No Rio de Janeiro (2016), como elemento da missão, fez de tudo. “Fomos canalizadores, eletricistas, descarregamos contentores.” Já então, José Manuel Constantino, Presidente do Comité Olímpico de Portugal, votou no nome do técnico para chefe da missão. “Tive razão antes do tempo”, lembra hoje. Na altura, encontrou resistências internas. Porém, nos anos seguintes, não desistiu de convocar Marco Alves para contextos mais exigentes. Nunca saiu defraudado.

“Pelo contrário. Fui ficando cada vez mais convencido da minha razão. O Marco é trabalhador, competente, dedicado. Não era a pessoa com mais experiência, mas era a pessoa mais bem preparada e por isso deixou descansada a comissão executiva.” Confessa: “Fui abordado mais do que uma vez por clubes e outras instituições no sentido de deixar sair o Marco, mas nunca deixei. Coisas que nem ele sabe”.

Houve um tempo em queria ser arquiteto. Filho de uma professora primária e de um comerciante de coelhos, passava horas e horas a montar Legos e a braços com os Playmobil. Acabaria por vencer o desporto, o curso que o levou das Caldas à capital. E aí, em 2009, ao Comité Olímpico. Doze anos depois, pela primeira no COP um técnico da casa é chamado a assumir as funções de chefe de missão. Pela primeira vez, de uns Jogos sem público. “Essa será sempre a pior recordação”, reconhece.

Chegado a casa, o primeiro prazer: ir buscar o Manuel, 3 anos, à escola. Seguem-se, dentro de dias, “o silêncio das férias na montanha”, e “muito tempo à mesa, com os amigos” em almoços e jantares que gosta de organizar. “Tenho o hábito de organizar e de cuidar.” Não por acaso, na escola, foi eleito ano após anos delegado de turma. lm

Marco Ruben Rodrigues Alves
Cargo:
chefe da Missão de Portugal aos Jogos Olímpicos Tóquio 2020
Nascimento: 02/11/1982 (38 anos)
Nacionalidade: portuguesa (Caldas da Rainha)