Luvas: uma história de faraós e de amor

A partir do século XVI, começou a apostar-se em tecidos mais suaves e elegantes, como a seda, o cetim, o veludo, o algodão e o linho

Já no túmulo de Tutankhamon foram encontrados restos de luvas, objeto que foi símbolo do status quo.

Foi há uns milhares de anos, algures no Antigo Egito, que os faraós “estrearam” as luvas. No túmulo de Tutankhamon, por exemplo, faraó da XVIII dinastia egípcia que se tornou famoso depois de o seu sepulcro ter sido encontrado intacto em 1922, repleto de tesouros, foram encontrados restos de luvas decoradas com desenhos alusivos a reis anteriores. Note-se que os primeiros exemplares não tinham quaisquer divisórias entre dedos.

E desengane-se se pensa que o significado delas se esgota na utilidade que hoje lhes conhecemos. Durante séculos, as luvas, enquanto acessório de moda, foram elemento indissociável dos trajes de oficiais de altas patentes, membros da igreja, realeza e das cortes reais. Acabaram por ser particularmente relevantes para as mulheres, que as usavam para se proteger das doenças e para procurar manter as mãos macias e femininas, num tempo em que as mãos suaves eram sinal de que a mulher provinha de família de classe alta.

Primeiro, o material dominante era o couro. Depois, a partir do século XVI, começou a apostar-se em tecidos mais suaves e elegantes, como a seda, o cetim, o veludo, o algodão e o linho. Já as luvas cirúrgicas, de borracha, só apareceram no século XIX, à boleia de uma história de amor. Isso mesmo. William Stewart Halsted era um eminente cirurgião da Universidade Johns Hopkins de Baltimore (EUA), Carolina Hampton, além de sua companheira, era a enfermeira-chefe prestes a abandonar a profissão por causa de um intenso eczema desenvolvido ao mergulhar as mãos na solução de formol, a solução preconizada na altura para desinfetar as mãos. Desesperado, William encomendou à Goodyear a confeção de luvas finas de borracha (na foto) para proteger as mãos da amada. Não só a salvou, como deixou uma herança importantíssima.