
São dela algumas estreias: é a primeira mulher a presidir à Câmara de Matosinhos e a primeira a garantir a presidência da Associação Nacional de Municípios Portugueses, cargo a que concorre como candidata única. É otimista por natureza.
Ano houve em que foi a melhor aluna de todas as escolas do concelho de Matosinhos. Porém, apesar de “corrida” a 19 e 20, saía do caixilho que em regra emoldura os mais aplicados estudiosos. Luísa era irrequieta, arrapazada e aventureira, espirituosa e acelerada. Motoqueira de cabelo sempre muito curto e resposta na ponta da língua. Foi o tempo das discotecas – das matinés no Griffon’s, no Brasília, ao Lá-lá-lá, no Dallas, passando pela Indústria, pelo Swing e pelo Batô. Sempre gostou de dançar. Guns N’Roses, por exemplo, banda que revisita com frequência. A música é presença constante em casa, não fosse o marido, também advogado, tocar saxofone, bateria e guitarra. “E bem”, sublinha. A filha de ambos e Flash, um buldogue inglês, concordam.
O tempo ainda das primeiras intervenções na política, membro interventivo de um conselho de jovens da Câmara de Matosinhos de Narciso Miranda. Não muito depois, já com a política nos objetivos, confessaria a amigos que gostaria de ser a Margareth Thatcher portuguesa, no que a britânica teve de inovador: a primeira mulher em Downing Street. Já são de Luísa Salgueiro algumas estreias: é a primeira mulher a presidir à Câmara de Matosinhos e a primeira a garantir a presidência da Associação Nacional de Municípios Portugueses, cargo a que concorre como candidata única, escolha de António Costa enquanto secretário-geral do PS.
O maior elogio que lhe podem fazer veio dos eleitores de Matosinhos. “Estou muito grata, ainda mais porque vim substituir um presidente muito querido da população como foi Guilherme Pinto.”
Com os anos foi ganhando “o espírito do consenso, capacidade para ouvir os outros”. Manteve a “energia” que a faz continuar “com a mesma vontade”. E a impaciência, “traço de personalidade que nem sempre é bom”, diz. Mantém a desilusão com o direito penal, primeira paixão. “Sempre quis ser advogada de barra, mas a maioria dos casos tinham a ver com droga e eu não me sentia bem. Não aguentava aquele ambiente.”
Para Lara Ramos Alves, amiga antiga, duas frases de Luísa traçam-lhe o retrato na perfeição: “É preciso fazer, faço já; é preciso ir, vou já”. Luísa “é voluntariosa e muito cuidadora”. A empresária, de 42 anos, conhece-a desde sempre. “A Luísa comove-se com a mesma facilidade com que solta uma gargalhada. Ela e o pai fazem a festa.”
É otimista, sempre. “Vai ficar tudo bem”, garante aos colaboradores quando estes desanimam. Ou aos amigos. Acredita na modernização, na sustentabilidade ecológica e na crescente coesão social do concelho que lidera. Ao prazer da mesa não corresponde o gosto pela confeção. Não precisa. Fechada num quarto a recuperar de covid, descobriu que tem em casa a solução. “A minha filha cozinha muito bem e de resto tenho ao meu dispor o melhor peixe do Mundo.”
Gosta do F. C. Porto – saída da faculdade prestou apoio jurídico à então poderosíssima Associação de Futebol do Porto – e do Leixões. E do seu Infesta, clube de que o pai foi dirigente. Gosta de sol e de mar, mas também gosta de estar com os amigos de sempre. Que não troca por votos. Na primeira eleição, adversários aproveitaram politicamente o facto de não morar em Matosinhos. Aconselhada por colaboradores a trocar de morada, recusou. “Não podia aceitar. Moro numa rua projetada pelo construtor para ser uma rua onde vivessem os seus filhos e os seus amigos. Ele foi, depois do meu pai, a grande referência na minha educação e crescimento. Por isso, foi ali que o meu pai me comprou um terreno, foi ali que com muito gosto e orgulho fiz a minha casa. Não sou menos cidadã de Matosinhos por morar na Maia.” A rua tem o nome do seu construtor: Manuel Ramos. Lara Ramos Alves, uma das netas, considera que o episódio “define a Luísa”. A Luisinha do seu avô.
Luísa Maria Neves Salgueiro
Cargo: Candidata única à presidência da Associação Nacional de Municípios Portugueses
Nascimento: 02/01/1968 (53 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (São Mamede de Infesta, Matosinhos)