Luísa Castel-Branco: “Nesta nova realidade, o amor fragiliza-nos”

Luísa Castel-Branco foi fotografada no salão Dello Clinique, em Lisboa

O "Espelho Meu" da escritora.

Vejo bem

  1. Com óculos.
  2. Mas gosto de olhar as pessoas que não conheço e adivinhar-lhes a vida.
  3. Vivo sempre resvés esse outro mundo ou outra realidade, onde a magia e o sonho se misturam.
  4. Por isso gosto tanto, mas tanto de crianças.
  5. E se adoro o riso limpo dos mais pequenos, no tempo restante preciso do silêncio.
  6. Como preciso dos que amo.
  7. Do verde do campo.
  8. Do espanto que é a Natureza.
  9. Já fui outra, mas agora resguardo as palavras dentro de mim.

Vejo mal

  1. Não sei lidar com a realidade. A injustiça, a inveja, a falta de valores. Cada vez me é mais difícil aceitar isto em que nos tornámos.
  2. Não sei lidar com isto em que me tornei. Alguém que vive com medo de tudo.
  3. Nesta nova realidade, o amor fragiliza-nos. Estou sedenta dos beijos e abraços dos meus netos e não posso sequer pensar nisso.
  4. Mas penso, e a tristeza aperta-me a alma de tal forma que não vivo, apenas conto os dias.
  5. Sinto que nada faz sentido. Será da minha idade que já não me permite assimilar tanta confusão, tantos destroços, tanto desconhecimento do que aí vem?

Escritora
66 anos