Susana Romana

João Loureiro, a cocaína, o Grito e os Daft Punk

Rubrica "Partida, largada, fugida", de Susana Romana.

1

Vários especialistas escreveram esta semana uma carta aberta ao Governo a pedir a reabertura das creches e pré-escolar já no início de março. Como mãe de uma criança de três anos, compreendo a atitude. Era uma carta ao Governo ou meter diretamente os filhos numa caixa de cartão e mandá-los tipo encomenda. Vá, não revirem os olhos, eu juro que sou boa mãe. Obviamente que embrulharia primeiro o miúdo naquele papel com bolhinhas, para ele não se magoar.

2

Com mais um estado de emergência à porta, o Governo insiste que plano de desconfinamento só daqui a 15 dias. Apesar da pressão de várias entidades, do presidente à Oposição, o Governo não se descose com datas ou planos. O grau de secretismo deste desconfinamento está, portanto, ao nível do segredo de Fátima. Uma chatice que a Irmã Lúcia já não esteja por cá para se chibar.

3

Portugal pode atingir a imunidade de grupo mais cedo do que estava previsto nesta pandemia. O coordenador do Plano Nacional de Vacinação admitiu que 70% da população portuguesa pode estar imunizada no início de agosto. Nunca fez tanto sentido esse hino do cançonetismo nacional chamado “Depois entra agosto”, de Quim Barreiros. Também espero que não soframos nenhum desgosto.

4

Os alunos do Superior andam a procurar explicadores que lhes façam os seus exames online, denunciou esta semana o jornal “Público”. O online já não é o que era. Qualquer dia, um engate de Tinder já é “procuro licenciado alto, de cérebro bem definido, para me levar às nuvens com um 17 a Introdução à Semiótica”.

5

A Polícia Federal do Brasil apreendeu meia tonelada de cocaína num avião privado em que João Loureiro, ex-presidente do Boavista, se preparava para viajar, a partir da cidade de Salvador da Baía, com destino a Portugal. Loureiro está ainda no Brasil, a responder à Polícia, mas diz-se sereno. Eu também já tive chatices por tentar passar com um desodorizante de 150 mililitros no aeroporto. Estas coisas acontecem.

6

Numa altura em que milhões dos seus eleitores estão sem eletricidade e sem água, por causa de uma inaudita vaga de frio no Texas, o senador republicano Ted Cruz decidiu ir passar uns dias com a família a Cancún. Como deu molho, regressou em 24 horas. Se Ted Cruz estivesse à frente da Arca de Noé, tinha deixado os pandas e as zebras e as suricatas todos a levar com o dilúvio em cima para ir com a arca até às Maldivas. “Hum, estou com aquela sensação de que me esqueci de qualquer coisa.… Ah, bolas, foi do protetor solar.”

7

Uma frase, quase impercetível, escrita a lápis no canto superior esquerdo do quadro “O Grito”, de Munch, foi finalmente atribuída ao próprio e não a um ato de vandalismo. Na frase, analisada por especialistas, lê-se “só podia ter sido pintado por um homem louco!”. Menos mau, podia estar escrito “pôr EDP em transferência direta. Comprar leite de soja. Marcar dentista da mais nova”.

8

Acabaram os Daft Punk, banda francesa de música eletrónica com vários êxitos ao longo de 28 anos. Não estava à espera. Anda tudo de máscara, mas aqueles nem de capacete se safaram a esta fase letal.