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Horta Osório: o “Sir” xadrezista

Fotos: Ilustração: Mafalda Neves

Horta Osório é economista, professor e banqueiro

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Descrevem-no “muito organizado, mas nada maçador”. Exigentíssimo, mas cordial, por vezes informal, incapaz de deixar um email sem resposta. Um lisboeta de gema, apreciador da nossa gastronomia, que troca a bica pelo chá. Muito competitivo, dentro e fora dos bancos.

Coleciona tabuleiros de xadrez, apaixonado por um jogo que nega a sorte e as coincidências. Horta Osório, mestre em estratégia e tática, condensa em si, definem adversários, o necessário para ser um competente praticante. “O António tem qualidades que estão à vista: inteligência e serenidade, mundo e liderança. Mas tem outras que são menos visíveis: é uma das pessoas mais metódicas e disciplinadas que conheço”, diz Paulo Portas, parceiro de muitas partidas. “No fundo, o xadrez é a soma disso tudo.” Conheceram-se no Colégio São João de Brito. A formação jesuítica deixou marcas na personalidade e no caráter de António Horta Osório, “knight bachelor”, título concedido pelo Governo e pela rainha de Inglaterra em reconhecimento de especiais serviços prestados ao país de que é também cidadão – agora, é Sir Horta Osório.

Liberal de pensamento, up to date, nada saudosista, “conserva, porém, o sentido de serviço e uma generosidade de que não faz alarde”, dizem colaboradores próximos. Descrevem-no “muito organizado, mas nada maçador”. “Exigentíssimo, mas cordial, por vezes informal, incapaz de deixar um email sem resposta.” Estela Barbot, que com ele trabalhou no Banco Santander, acrescenta: “Uma mente cartesiana, bem arrumada, rigorosa e apreciadora de regras, mas também flexível”. Um lisboeta de gema, apreciador da nossa gastronomia que troca a bica pelo chá, que é como quem diz um latino muito britânico.

Muito competitivo, dentro e fora dos bancos. No ténis, é adversário temível. Quando há uns anos partiu o braço direito, não descansou enquanto não aprendeu a jogar com o esquerdo. E conseguiu-o a tal ponto que a eficácia esquerdina no court foi falada no “Financial Times”.

Filho de um campeão de ténis de mesa, tem raízes no Douro. É da avó duriense um dos pratos favoritos, mimo que Bernardo Reino lhe oferece no restaurante Gigi, em almoços regulares na Quinta do Lago. Receita simples: pescada cozinha, grelos e ovos, tudo mexido. “E ele conhece bem os peixes. Sabe tudo porque fez muita caça submarina”, revela “um amigo da vida inteira”. O dono do Gigi fala de “uma pessoa tranquila, avessa a manteigueiros e a graxistas”. Nos encontros à mesa conversam sobre a família (três filhos, duas raparigas e um rapaz). Versejam: “Dinheiro antes de trabalho só no dicionário”. Juram trabalhar até sempre.

“Quando ele chegou ao Santander, profetizei que à sua frente veria apenas a linha do horizonte. Quando foi para o Lloyds, vaticinei que ia acabar sir”, diz Bernardo Reino do banqueiro a quem sempre entregou o dinheiro. Um banqueiro “que inspira confiança”, concorda Estela Barbot. Anti-comissionista, Horta Osório sabe que o que faz depende de uma palavra: credibilidade. Assiste por isso com desagrado e “muita tristeza” à queda de banqueiros e bancos nacionais.

Estudou na Universidade Católica, onde lecionou. Concluiu o MBA no INSEAD, merecedor do Prémio Henry Ford II para o melhor aluno. Passou pela Goldman Sachs, criou a partir do zero o Banco Santander de Negócios Portugal. Em 2010, foi nomeado presidente do Lloyds Banking Group, mantendo o lugar de administrador não-executivo do banco inglês, a título pessoal e com muito orgulho. No rescaldo da crise financeira e perante um Lloyds intervencionado, Horta Osório, atual chairman da farmacêutica Bial e do banco Credit Suisse, comprometeu-se a recuperar o negócio e a devolver o dinheiro aos contribuintes ingleses. Cumpriu a promessa com juros. A polémica de que foi alvo, quando a imprensa britânica noticiou que se subtraíra ao corte de pensões dos funcionários do banco, por si decretado, não ficou na memória. O esgotamento violento, em resultado dos primeiros tempos em Londres, esse, faz parte da história.

António Mota de Sousa Horta Osório
Cargo:
economista, professor e banqueiro
Nascimento: 28/01/1964 (57 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Lisboa)