Glúteos à Kardashian? Nem tanto, mas a moda está aí

Há várias opções e tudo depende do resultado que se pretende

As mulheres portuguesas procuram cada vez mais tratamentos com injeções e cirurgias às nádegas. Quais as soluções disponíveis, a que casos se aplicam, os riscos e os cuidados a ter.

O paradigma mudou. As mulheres portuguesas estão cada vez mais preocupadas com o rabo. Querem-no firme, com algum volume, empinado e sem celulite, uma moda que se vê há anos no Brasil, mas que tardava a pegar em Portugal. Nos últimos anos, a procura por tratamentos e cirurgias para melhorar a estética dos glúteos tem aumentado. E, porque cada caso é um caso e os desejos das pacientes também diferem, há uma enorme variedade de soluções disponíveis, mais e menos invasivas, mais e menos duradouras e também mais e menos dispendiosas.

Mas de onde surge esta moda do rabo volumoso? Rosália Pedrosa, diretora-geral da clínica Liberty, em Lisboa, atribui o fenómeno a Kim Kardashian, a socialite norte-americana que foi casada com o rapper Kanye West e impulsionou um novo ideal de beleza corporal. Já ninguém quer ser tão magra, como a supermodelo dos anos 1990 Kate Moss, “as clientes pedem os tratamentos da Kardashian, querem ter um rabo como ela”, explica a responsável.

Tudo mudou nas últimas décadas e a comparação com a forma de estar das portuguesas há 20 anos parece inevitável. “Quando éramos miúdas, escondíamos o rabo, colocávamos as camisolas à cintura para disfarçar”, recorda. Agora é exatamente ao contrário, há mais vontade de mostrar o rabo e a exposição crescente nas redes sociais também estará a contribuir para a mudança. “Antes, as fotografias que víamos eram da cara, agora as pessoas têm grande à vontade para se exporem de corpo inteiro, de biquíni, na praia ou na piscina, e com roupas mais reveladoras, daí a necessidade de se sentirem bem com os seus corpos”, analisa Rosália Pedrosa.

Cirurgias: com próteses ou gordura

Entre as várias soluções disponíveis há que distinguir entre tratamentos que fazem um “lifting” dos glúteos – com injeções, colocação de fios revitalizantes ou recorrendo a máquinas especiais – e cirurgia plástica aos glúteos, também denominada gluteoplastia. Esta é mais invasiva, mas tem resultados duradouros. Pode ser realizada com próteses de silicone (tal como as da mama, mas com tamanho e formato diferentes) ou com gordura retirada do abdómen, flancos ou coxas (chama-se lipofilling ou lipoenxertia), que são tratadas e injetadas nas nádegas. Ambas devem ser executadas por um cirurgião plástico, com anestesia geral ou epidural com sedação, implicam uma noite de internamento e requerem um período de recuperação entre duas a três semanas.

Não há uma melhor do que outra, há casos e casos. Por exemplo, o lipofilling não se adequa a pessoas magras ou que têm pouca gordura para retirar do abdómen ou coxas. Por outro lado, tem a vantagem de usar um enxerto do organismo, o que praticamente anula o risco de rejeição do implante.

Para o cirurgião plástico Ricardo Carvalho, ambas as técnicas têm vantagens e desvantagens, mas os resultados mais eficazes surgem quando é possível combinar as duas. Usando os implantes, “que dão mais projeção” porque são um enchimento mais duro do que a gordura, e a lipoaspiração à volta das nádegas. Assim, “consegue-se um duplo efeito, melhorando a proporção entre a cintura e a anca e acentuando o contorno das nádegas”, pormenoriza o médico que opera na Casa de Saúde Sanfil, em Coimbra. Por outro lado, a gordura da lipoaspiração pode também ser usada para atenuar o efeito de “socalco” provocado pelos implantes na parte superior das nádegas.

Riscos e novas regras

Ponto assente é que ambas as técnicas têm riscos e o paciente deve estar consciente e informado sobre os mesmos. Antes de qualquer cirurgia, o médico deve, por exemplo, calcular o risco de tromboembolismo, um efeito adverso grave que, há uns anos, levou à implementação de regras mais rígidas para a realização de lipoenxertias. Na prática, devido ao elevado número de eventos tromboembólicos registados nestas operações, alguns dos quais fatais, “passou a ser proibido injetar gordura dentro e por baixo dos músculos das nádegas, um procedimento que era comum”, frisa Ricardo Carvalho. Desde então, os cirurgiões só podem aplicar as injeções de gordura entre a pele e os músculos, o que reduz os riscos porque a zona não tem grandes vasos sanguíneos suscetíveis de entupir. Ainda assim, “os riscos continuam a existir e nem os cirurgiões muito experimentados estão isentos de risco, embora quanto maior a experiência e o conhecimento melhor”, acrescenta.

De resto, há medidas de segurança que podem e devem ser tomadas antes, durante e pós-cirurgia como a redução de peso e do consumo de tabaco, no caso de pacientes com aqueles fatores de risco, o uso de meias elásticas de compressão, a movimentação precoce no pós-operatório e a toma de heparina, um fármaco que reduz o risco de tromboembolismo venoso.

Há vários anos que estas cirurgias se fazem em Portugal e têm conhecido um crescimento da procura um pouco por todo o Mundo. Segundo a Sociedade Americana de Cirurgia Plástica, a gluteoplastia representa 4% de todas as cirurgias plásticas, mas de 2018 para 2019 conheceu um incremento de 28%. Em Portugal, não há números específicos desta cirurgia, mas a perceção é de aumento.

Tratamentos menos invasivos

“A Medicina Estética está a viver um auge em Portugal, aquilo que aconteceu há 20 anos no Brasil e na Colômbia está a acontecer agora aqui”, observa Carolina Garzón, colombiana, formada em Cirurgia Plástica no Brasil. Há cinco anos em Lisboa, a médica estética da Clínica Liberty encontra algumas diferenças no perfil da mulher portuguesa. “Não quer ter um rabo enorme, não é voluptuosa como a brasileira ou a angolana, mas tende a procurar ajuda para melhorar os glúteos”, sintetiza. Ao contrário da brasileira ou da colombiana, a mulher lusa prefere tratamentos menos invasivos, que não impliquem cirurgias, anestesias e outros riscos.

E quais são as opções? Há várias e tudo depende do resultado que se pretende.

Para o levantamento da zona das nádegas e melhorias no aspeto casca de laranja podem ser colocados fios revitalizantes (entre 80 a 120) com função biovitalizadora. Este tratamento é realizado por um médico, não requer anestesia e os resultados são imediatos.

A hidroxiapatita de cálcio, uma substância à base de cálcio diluída em soro, é outra opção disponível. A solução é injetada nos glúteos e, à semelhança dos fios, também permite o levantamento das nádegas e uma melhoria do aspeto casca de laranja. A injeção nos glúteos de uma solução à base de ácido polilático, para estimular a produção natural de colagénio da pele, uniformiza, densifica e dá um volume extra em duas sessões (um mês e meio), refere a clínica Liberty.

Ainda no campeonato das injeções, as ampolas de ácido hialurónico “aumentam o volume dos glúteos com resultados imediatos em apenas uma ou duas sessões”. Refira-se que os tratamentos com injeções perdem o efeito ao fim de um ou dois anos e, tal como as cirurgias, “é preciso cuidado”. “Os produtos têm de ser absorvíveis porque, caso contrário, podem levar a infeções graves e necroses da área”, alerta Carolina Garzón. A médica refere-se em concreto a injeções de substâncias como biopolímeros, hidrogel e colagénio, que são vendidas na internet ou em gabinetes de estética, e que podem causar graves sequelas. Refira-se ainda que o botox (toxina botulínica), muito usado em tratamentos faciais, não tem indicação para os glúteos.

Sem “picas”, mas com recurso a uma máquina, há ainda a termolipólise ou radiofrequência multipolar, que estimula a produção natural de colagénio da pele, uniformiza os tecidos e dá um efeito de lifting. Um pacote completo deste tratamento custa a partir de 750 euros na clínica Liberty, sendo mais barato do que as injeções – que podem custar até cinco mil euros – e do que as cirurgias. Uma gluteoplastia, seja com próteses ou enxerto de gordura, fica por cerca de oito mil euros e, na região de Lisboa, onde a procura é maior, custa pelo menos dez mil euros, assegura o cirurgião Ricardo Carvalho.