Francisco Ramos: experiente e otimista

Francisco Ramos é coordenador do Plano de Vacinação Contra a Covid-19 (Ilustração: Mafalda Neves)

Professor calmo, gestor “rigoroso e competente”, defensor convicto do serviço público de saúde. Prefere o desafio e a ação à rotina. O responsável pelo Plano de Vacinação Contra a Covid-19 é teimoso, pragmático e decidido.

Em 2018, uma grave lesão na cervical, provocada por uma queda aparentemente vulgar, revelou a resiliência e o otimismo de que é capaz. Durante longos meses, viveu a incerteza e a reabilitação dolorosa sem perder o sentido de humor, fazendo o percurso do SNS, como qualquer outro utente – do INEM no Alentejo ao internamento no Hospital de Santa Maria, Lisboa, e daí ao Centro de Alcoitão, onde conviveu com dramas pesados durante dois meses. A fisioterapia, parente pobre do sistema, ajudaria a devolver-lhe dias normais.

A cara do Plano de Vacinação Contra a Covid-19 defende com convicção o serviço público de saúde. “É das pessoas com melhor e mais profundo conhecimento do sistema”, diz Sandra Gaspar, membro do Conselho de Administração do IPO de Lisboa (presidido por Francisco Ramos entre 2012 e 2018). Sua aluna na Escola Superior de Saúde Pública (2008), recorda o professor calmo, “as exposições claras e muito consistentes e a permanente disponibilidade para ouvir”. Colaboradora direta na Secretaria de Estado da Saúde (2008), lembra “o líder com espírito de equipa”. Justifica a escolha para a liderança do plano de vacinação tal envergadura: “É um bom comandante de tropas, assim as tropas o ajudem. No caso do IPO, a última entrega de vacinas falhou apenas dois minutos”.

Os colaboradores relevam o gosto “pelo desafio e pela ação”. Irrita-o a incompetência, avisam. “E pessoas sem opinião, incapazes de se comprometerem com ideias ou soluções, ainda que o contradigam”, acrescenta Teresa Carneiro, chefe de gabinete de Francisco Ramos, na segunda passagem pelo Governo como secretário de Estado. “É pragmático, simples nos processos, muito decidido e por isso foi escolhido para esta tarefa”, afirma. “A sua competência e a sua credibilidade são reconhecidas por todos os agentes da saúde.”

João Almeida Lopes, presidente da APIFARMA, concorda. Participaram em muitas reuniões, em lados opostos. Farmacêuticas versus a política de saúde governamental. As revisões anuais de preços eram matéria delicada. “Durante os muitos anos que leva de exercício de tarefas públicas de grande responsabilidade, tivemos a oportunidade de conhecer um negociador duro, porque é um profundo conhecedor dos dossiês, sempre na defesa do interesse público, mas, em simultâneo, soube sempre manter abertas as vias de diálogo e compromisso.” Conclui: “É reconhecidamente um servidor público de referência e, com toda a certeza, um dos maiores especialistas, em Portugal, das políticas de saúde”.

Graça Freitas, diretora-geral da Saúde, salienta a “experiência profunda como gestor hospitalar e a capacidade de gerir equipas” e realça “o amigo do seu amigo, dono de uma gargalhada contagiante”.

Quem trabalha com ele não estranha os breves retiros que antecedem por vezes as reuniões mais complicadas. Nem o hábito de enrolar uma mecha de cabelo no dedo quando está concentrado.

Levanta-se muito cedo, chega ao ministério às 7.30 horas. É das poucas rotinas. Sportinguista, “vibra com o futebol”. Reservado, preferiu não prestar declarações. Mas é sabido o quanto gostava de Egas, o cão rafeiro de que ainda hoje sente a falta.

Francisco Ventura Ramos
Cargo:
coordenador do Plano de Vacinação Contra a Covid-19
Nascimento: 03/12/1956 (64 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Lisboa)
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