Tinha quatro anos quando os pais a levaram ao Estrela e Vigorosa, carismático clube portuense. Logo se destacou. Um pouco mais tarde, inscreveram-na no Sport Clube do Porto. Logo se destacou. Tem sido assim até hoje.
“A ginástica chamou por mim. Creio que me escolheu de muitas maneiras.” A declaração é de Dominique Moceanu, americana de ascendência romena, uma das mais promissoras ginastas dos anos 1990 e referência de Filipa Martins. De resto, a portuguesa, que no último Mundial da modalidade ganhou lugar no restritíssimo clube das sete melhores do Planeta, bem podia ser a autora do testemunho. “Em criança, havia em mim uma energia, uma hiperatividade que me impelia para os saltos e para as cambalhotas”, diz.
Tinha quatro anos quando os pais a levaram ao Estrela e Vigorosa, carismático clube portuense. Logo se destacou. Um pouco mais tarde, inscreveram-na no Sport Clube do Porto. Logo se destacou. Aos dez anos, escolhida entre miúdas de todo o Mundo para um estágio em Itália, já nada a demovia de responder sim ao apelo.
“Uma menina com talento, que aprendia rapidamente, muito promissora”, recorda José Ferreirinha, o atual treinador, que a conhece desde então. À semelhança da mulher, Joana Carvalho: “Sempre muito determinada, soube desde criança o que queria”. A dupla reconhece que o foco esteve sempre lá: “Estava nos treinos para treinar”. Treinos dolorosos e arriscados, com o perigo de lesão presente, exigindo permanente temeridade. “Somos obrigadas a convencer-nos de que não vamos morrer”, afirmou Simone Biles, a americana que é expoente máximo de uma disciplina em que o movimento, a precisão e o timing obrigam a procurar nunca menos do que a perfeição.
Quando o treinador manda parar é o alívio. “Para a Filipa, não. Desde miúda que pede para continuar. Para repetir, para insistir”, frisa Joana Carvalho, numa alusão ao caráter e à personalidade da ginasta, marcados por desafios diários, que a obrigam a estar preparada a todo o custo.
“A ginástica fê-la crescer muito depressa. Ganhar maturidade antes de tempo”, afirma o pai. António Martins, fisioterapeuta, descreve a adolescência da filha: “Começava às oito da manhã, na escola, saía às cinco da tarde, a correr para o treino, que durava até às nove da noite. Chegava a casa, tomava banho, fazia os trabalhos da escola e jantava”. Para José Ferreirinha “a capacidade de sacrifício também se educa”. Filipa Martins faz nove treinos por semana, cerca de 27 horas de trabalho no ginásio, de segunda a sábado.
Em adversidade “é ela quem nos incentiva e acalma”, nota o treinador. “Nós ficamos nervosos, ela não. É uma pessoa muito serena”, acrescenta Joana Carvalho. Pontos fortes: “A consciência do corpo. Conhece-o muito bem e aplica esse conhecimento aos movimentos gímnicos”. A professora, responsável pela coreografia no solo, prefere vê-la na trave. A ginasta escolhe as paralelas. Joana ressalta a elegância e a simpatia. Filipa admite: “Há quem me acha arrogante em competição, porque estou com um rosto fechado”. O pai defende que ainda que fosse um pouco arrogante havia razão. “Porque ela sabe o que quer.” Aponta à filha a “virtude da determinação”. E até “os amuos que por vezes faz têm desculpa”.
Fernando Barros, presidente do Acro Clube da Maia, casa da ginasta, fala de uma “rapariga muito trabalhadora, muito dedicada e muito afável”. “Ainda não a cumprimentei pelo excelente resultado, mas não tardará”, confessa. As vitórias comemoram-se com muitos abraços, muito apertados. “Era um feito impensável há uns anos”, realça José Ferreirinha. Com o pai vivem dois amores da ginasta: os cães Lucky e Pipoca. Com o pai faz caminhadas e jantares longos. “Adora uma boa francesinha e um bife com cogumelos.” Os Jogos Olímpicos de 2024 são agora um objetivo. António pensa que a filha pode ir ainda mais longe. E que mais longe iria se tivesse nascido num país com maior tradição gímnica. E com mais apoios. Filipa, pensando talvez em Moceanu, afastada do pódio pelas lesões e atormentada pela dureza e crueldade do técnico Béla Károlyi, contrapõe: “Se calhar não teria uma carreira tão longa nem teria sido tão feliz”.
Ana Filipa da Silva Martins
Cargo: Ginasta
Nascimento: 09/01/1996 (25 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Porto)