Escolhas culturais do escritor Afonso Reis Cabral.
A Lady of a Certain Age
Neil Hannon (The Divine Comedy) é tão genial quanto despreocupado: adora contar histórias, ironiza, diverte-se com a voz. “To die a virgin”, outra pérola, começa com um diálogo divertido e segue nesse ritmo, como se o cantor dissesse: “Ouçam-me, mas tapem os ouvidos”. Este “A lady of a certain age”, do álbum “Victory for the comic muse”, é inexcedível. Em cinco minutos, narra a vida de uma socialite inglesa de 70 anos que vai rejuvenescendo sempre que indica a sua idade aos homens que conhece nos bares. Esta canção é uma obra literária da envergadura de um romance. Uma música que é um livro.
Marble Machine X
Apresento-vos Martin Molin: 38 anos, músico de folktronic, louco, original. Em 2016, apresentou a Marble Machine, uma engenhoca imaginada por si: dando à manivela, o sistema encaminhava centenas de berlindes de metal para instrumentos de percussão. Fez-se música. Mas foi máquina de pouca dura. Tendo tocado apenas uma vez, Martin desmontou-a por não corresponder ao seu ideal. Desde então, em vídeos semanais no canal de YouTube Wintergatan, constrói a nova engenhoca, a Marble Machine X – maior, mais perfeita, mais obsessiva. Depois do último teste com 30 mil berlindes, está prestes a fazer música.
The Conjuring 3
James Wan, autor do “Universo Conjuring” – agora no terceiro filme mas com vários spinoffs pelo caminho -, habituou-nos a uma dose paliativa de terror. Os filmes não são excecionais como outros do género, mas conseguem contar eficazmente uma história. As demandas de Ed e Lorraine Warren perturbam na medida certa, o suficiente para o mínimo de catarse. E divertem. Nada como uma boa possessão demoníaca para descansar a cabeça.
