DPOC, a doença respiratória crónica. Os seus sinais. E um livro para perceber tudo

Atuar o mais cedo possível é fundamental

A Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) atinge cerca de 750 mil portugueses. O tabagismo é o principal fator de risco. O Serviço de Pneumologia do Centro Hospitalar do Baixo Vouga, em Aveiro, lançou um livro que é um guia para novos e antigos doentes.

A DPOC é uma doença respiratória cada vez mais frequente. Em todo o Mundo, há 210 milhões de pessoas que padecem desta doença incurável e crónica, que se caracteriza por uma inflamação com obstrução progressiva e persistente na passagem do ar pelas vias respiratórias. O que faz com que haja uma dificuldade em expirar o ar que foi inspirado, dificultando o processo da respiração. A inflamação pode levar à destruição dos alvéolos e conduzir a problemas na oxigenação do sangue. É um problema de saúde sério que se agrava progressivamente.

No início, esta patologia pode manter-se assintomática e sem provocar queixas, o que faz com que, muitas vezes, passe despercebida. Algumas pessoas convivem com vários sintomas típicos da doença, sem associar imediatamente à DPOC. Como consequência, a procura tardia por ajuda médica poderá dificultar o retardar da evolução da patologia, caso já tenha uma gravidade considerável.

O Serviço de Pneumologia do Centro Hospitalar do Baixo Vouga, em Aveiro, publicou um livro gratuito sobre a DPOC, que se complementa com um site (www.dpoc.pt), dirigido a doentes. “Saiba mais sobre DPOC” é um pequeno guia para novos e antigos doentes com DPOC, para que compreendam melhor a sua doença, os seus perigos, cuidados e tratamentos.

“A literacia sobre a doença ajudará doentes, familiares e os próprios profissionais de saúde a gerir e a controlar melhor a doença”, adianta João Cravo, especialista em Pneumologia no Serviço de Pneumologia do Centro Hospitalar do Baixo Vouga, e coordenador do livro.

Tosse, expetoração crónica, cansaço frequente, sensação de falta de ar, respiração mais ruidosa, são os principais sintomas

O tabagismo é o fator de risco mais relevante. “Noventa por cento dos doentes com DPOC foram ou são fumadores. Outros grupos de risco são os trabalhadores em contacto com fumos ou poeiras que não usem proteção adequada. Também estão em risco pessoas que utilizem de forma recorrente fogões de lenha ou estejam expostos a fumo vindo de lareiras, em ambiente não ventilados”, refere João Cravo. Há ainda um risco genético, ainda que raro, nomeadamente em pessoas com défice em alfa1-antitripsina.

Neste momento, há alarmes a tocar. No atual contexto de pandemia, os resultados de alguns estudos parecem demonstrar que a DPOC está associada a um risco significativo, mais de cinco vezes superior, de infeção grave pelo novo coronavírus. “Se já era difícil que normalmente se desse relevância sobre a DPOC, numa época marcada por uma pandemia causada por um vírus isso ainda é mais complicado”, alerta o especialista em Pneumologia.

João Cravo, especialista em Pneumologia no Serviço de Pneumologia do Centro Hospitalar do Baixo Vouga

Os sintomas podem ser ligeiros e, por isso, facilmente desvalorizados. No entanto, em muitos casos evoluem para queixas mais frequentes e mais graves. Tosse e expetoração crónica quase diária e cansaço frequente, que se traduz em sensação de falta de ar, são alguns dos sinais. Uma respiração mais ruidosa também é preocupante.

A DPOC limita progressivamente a qualidade de vida dos doentes que se sentem mais cansados e diminuem a sua atividade

O diagnóstico necessita da conjugação da presença de sintomas e fatores de risco compatíveis com a realização de um exame, a espirometria, uma avaliação simples da função pulmonar, com critérios compatíveis com a DPOC. Segundo João Cravo, “a maioria dos doentes vive toda a sua vida com doença ligeira a moderada, que se pode manter estabilizada se as pessoas aderirem a um programa de tratamento diário com inaladores, prevenção de infeções respiratórias e mantiverem exercício físico.”

A DPOC limita progressivamente a qualidade de vida dos doentes. À medida que as pessoas se vão sentindo mais cansadas, sem darem conta, vão diminuindo cada vez mais a sua atividade. “Ninguém gosta de estar sempre a tossir, junto dos amigos, nomeadamente nos dias em que vivemos. As infeções respiratórias são mais frequentes, agravam a DPOC e outras doenças pré-existentes, com grande impacto a nível da saúde mental e vida social das pessoas”, repara o especialista.

Os inaladores são o principal tratamento de controlo da doença. Há de vários tipos e devem ser prescritos pelo médico, uma vez que nem todos são adequados a todos os doentes. Até porque não varia só o dispositivo, mas também as moléculas que estão no seu interior, que são, no fundo, o medicamento. “A via inalatória é importante porque permite ao medicamento atuar diretamente onde é preciso.”

A DPOC é uma das doenças na qual o transplante pulmonar pode ser útil. É uma operação extremamente complexa em que o pulmão do doente é substituído por o de um dador compatível. Por isso, é a última linha de tratamento e apenas utilizada em casos muito selecionados.

É imperioso deixar de fumar. Ponto final. É igualmente fundamental a participação em programas de reabilitação respiratória e recomenda-se a vacinação contra a gripe e alguns agentes que provocam pneumonia bacteriana. Além disso, ter um estilo de vida saudável é bastante importante para manter o melhor nível de saúde possível.