Desfeita. As malas de tricô de Maria

Maria Mira é bailarina e faz malas com uma máquina de tricô num projeto que criou e que se chama Desfeita

Nenhum modelo é igual ao outro, a frente é diferente da parte de trás, o forro sai e ganha outra vida. Feitas com lãs portuguesas e uma máquina com mais de 200 agulhas comprada em Chaves.

Maria Mira é bailarina da Companhia Portuguesa de Bailado Contemporâneo, em Lisboa. Ao fim de semana, está em Proença-a-Nova, à volta das malas que faz com lãs nacionais. A ideia marinou algum tempo, enquanto matutava em como ocupar as pausas entre ensaios e durante o confinamento. Focou-se no tricô, comprou agulhas e um novelo de lã numa retrosaria, pesquisou na Internet como fazer uma camisola com as próprias mãos. A dúvida surgiu. Como unir as mangas à camisola? Mudança de planos e a Desfeita viu a luz do dia com malas cheias de cor.

“Decidi criar uma coisa que não precisasse de unir, uma coisa que fosse desfeita e que se pudesse construir. Uma coisa que se pode transformar em várias”, conta. Interessava-lhe o desmanchar, o desconstruir. Daí o batismo e os forros de algodão que podem ser segunda mala, presos com botões para facilitar uma outra vida.

A pesquisa foi apurada. Mergulhou no mundo das máquinas de tricô, horas na net, percebeu que já não se fabricavam aparelhos para a sua arte. Mais navegações, descobriu uma senhora em França com várias máquinas, enviou-lhe um email, recebeu como resposta indicações do melhor equipamento para o seu projeto. Mais pesquisas e esbarrou numa máquina à venda na net, de 1975, com todos os extras, como nova, em Chaves. Rumou a norte para levar a máquina com mais de 200 agulhas e dois metros que agora não tem sossego. “Fui experimentando, percebendo como funcionava, se conseguia amanhar-me sozinha.” Conseguiu, avançou, explorando texturas, cores, possibilidades, todo um mundo de descobertas.

Mala a mala, 200 voltas na máquina para a frente e para trás. Nenhuma é igual a outra. O lado da frente não é igual ao de trás, as alças também não condizem uma com a outra. Tudo o que é para coser é feito à mão. Cada desfeita é modelo único, exclusivo. “O que é giro é essa construção, com riscas, sem riscas, juntar cores. A criatividade vai muito além do que apenas fazer malas.”A ideia é não haver nenhum modelo igual. “Há todo um mundo para explorar em cores e texturas.”. À venda online, no Instagram (desfeita.pt), a partir de 32 euros.