
Restaurar móveis é tendência e transforma peças de família ou resgatadas da rua em objetos à imagem da atualidade. Com as ferramentas certas e as técnicas adequadas, o “faça você mesmo” pode ser terapêutico.
Ensinar “a transformar monos em exemplares únicos e originais” é o objetivo da Oficina Monstros – Associação de Artes e Ofícios, em Lisboa, onde Guida Costa Santos fomenta a paixão de dar nova vida a móveis tirados da rua ou resgatados a familiares. Restaurar é uma tendência com muitos adeptos em Portugal e, segundo quem sabe, basta começar para se gostar do ofício.
Foi assim que Guida se deixou conquistar, depois de fazer um curso de restauro. Na altura, ainda trabalhava na área da Comunicação, mas não tardou a reformar todos os móveis herdados do avô, até fundar, há 12 anos, a oficina sem fins lucrativos que em breve se mudará de Arroios para a Ajuda, à boleia do projeto Ripas. Uma iniciativa da Câmara Municipal de Lisboa em prol da economia circular e sustentabilidade, com espaço para ações de formação regulares, capacitando as pessoas para a reparação autónoma do seu próprio mobiliário. Sob orientação de Guida Costa Santos, para quem “um workshop funciona como terapia”, pois ajuda a desligar e a descontrair.
Workshops para aprender
Na Oficina Monstros, podem experimentar-se workshops, com quatro ou cinco participantes e duração de 12 horas, por 160 euros. Os próximos estão marcados para os dias 19, 20, 26 e 27 de junho. Também é possível trabalhar por horas. Lixas, primários, esmalte, verniz e betume estão entre os materiais a ter sempre à mão em profícuas jornadas.
Na Rua de Santa Catarina, Porto, o espaço Bicho da Madeira tem o próximo encontro marcado com quem queira pôr mãos à obra no dia 26 de junho. Neste workshop, por 50 euros, “a ideia é conhecer os conceitos básicos, experimentar cores, sempre com tintas naturais, e técnicas numa base de madeira”, adianta a responsável, Alexandra Magalhães, uma educadora de infância que também se deixou apaixonar após uma formação de restauro em que o mote era a “chalk paint” (tinta de giz), que continua a motivar as suas iniciativas. Quem quiser transformar um móvel com orientação, uma vez por semana, pode optar por pagar uma mensalidade (60 euros).
Margem para arriscar
O primeiro passo é sempre limpar bem o móvel com produtos adequados e esponja/pano, lixar se necessário ou decapar. Aplicar betume ou massas especiais é também fundamental para tapar buracos ou corrigir imperfeições com recurso a uma espátula. Só depois é que se deve passar aos primários e tintas, que se aplicarão com pincéis apropriados ou rolos (para as partes lisas) na direção certa. Por fim, pode usar-se verniz brilhante ou mate.
Estes passos foram seguidos, em parte, por Raquel Fontes, uma profissional na área dos seguros que se lançou no “faça você mesmo” durante os confinamentos. Encontrado um aparador antigo, lixou-o e depois aplicou um “banho com produto adequado para o bicho da madeira, antes de pintar com tinta de giz e, no final, uma cera”. “No tampo, ainda apliquei um verniz incolor e mate”, acrescenta, orgulhosa do resultado final, que exibe também umas ferragens mais modernas do que as originais.
Autodidata, apanhou “uma dica aqui, outra acolá” e avançou, reconhecendo não ser difícil, mas, sim, “trabalhoso”. Explica que os “tempos entre os vários processos são morosos” e que teve de recorrer à ajuda do marido na hora de manusear a peça. Mas nada que a tenha impedido de dar “nova vida a uma peça de família” e de já planear “alterar outras”, confirmando que o mais difícil é decidir experimentar. Calculados os riscos, vale a pena arriscar nos dotes manuais e na criatividade em prol da reciclagem.