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Crianças-estrelas: quando o talento tem pressa

António Casalinho treina seis horas por dia, seis dias por semana, em Leiria. Venceu uma bolsa para entrar numa companhia profissional (Foto: Leonardo Negrão/Global Imagens)

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Têm palmo e meio e já dão cartas no mundo artístico, como gente grande. São atores, bailarinos, cantores, modelos. Alguns a correr mundo. Milhares de seguidores nas redes sociais. Crianças-estrelas atrás do sonho, a desdobrar-se entre escola, trabalho, ensaios. Debaixo dos holofotes da fama e da pressão do sucesso. Têm a cabeça no lugar, sabem o que querem. Mas há riscos? Há lucidez entre as luzes da ribalta?

Em imagens dignas de modelo para quase 200 mil seguidores no Instagram – mais ainda no TikTok -, a atitude encaixada na pele pálida e imaculada e os cabelos escuros quase lhe mascaram a idade. Dá ares de adulta. São 15 anos e desde os dez a entrar pela caixa mágica dentro. É filha dos atores Paulo Pires e Sara Prata na próxima novela da TVI. É ela quem diz: “Não tenho plano B. O meu plano B é voltar a tentar o plano A”. O plano é ser atriz, para sempre. Na verdade, Madalena Aragão já o é, ou melhor, sempre foi, mesmo quando andava mascarada na rua, a despistar os olhares de esguelha, e quando se metia em teatros na escola.

Os pais ligavam pouco ao talento dela. A mãe, Maria Vivas, tentou ignorar-lhe a vontade até a inscrever num casting para “Rainha das Flores”, novela da SIC. De tão catraia, só via desenhos animados, mal conhecia os atores que enchem capas de revista. Da “miúda distraída e louca” saltou a dedicação quase insana. Uma novela atrás de outra. Curtas, um filme estrangeiro, uma série, teatro. Há semanas a mil à hora em gravações intercaladas com aulas. A produção vai buscá-la à escola e deixa-a em casa no final. Por ela, ficava a dormir no estúdio. Os pais chamam-na à Terra quando têm de pôr travão na ambição. E é muita. “Nunca incentivámos nada, mas também não dissemos que não”, assegura Maria.

Os 16 a bater à porta e a meninice deixa-a voar: quer estudar representação em Londres ou Nova Iorque. Madie, como os amigos lhe chamam, aponta para o céu. É desenvolta. Não faz ideia de quanto ganha, nem quer. A regra é dos pais, está numa conta-poupança. É a única de três irmãs nestas lides. De cada vez que vence um casting enche a casa de gritaria de felicidade. Também perde, conhece a frustração. Liga pouco ou nada à fama.

Nasceu para representar, acredita piamente. A escola não fica para trás. Se as notas baixam, a produção reduz-lhe o trabalho. Está no 10.º ano, ser atriz não enche as conversas com os amigos. Nem há truques. “Com dificuldade, mas giro tudo. Estudo com mais antecedência, tive que ganhar disciplina.” Nunca falta às aulas, acelera nos trabalhos, para lhe sobrar tempo para séries, livros. Uma raridade. A mãe sabe, “não é tudo cor-de-rosa, há dias loucos, às vezes, ela tem vontade de estar mais tempo com os amigos”. São férias de verão que não tem, campos de férias que perde. Só que quem corre por gosto não cansa. E os muros de proteção erguem-se sempre que a agência e os pais sentem que se está a exigir de mais, como quando disseram não a uma campanha publicitária.

Tem a leveza da família que lhe dá pouco palco. Já fez papéis pesados, quer “chegar onde nenhum português chegou”. “Há momentos em que me apetecia ter uma vida mais normal, quando não posso sair para estudar textos. Mas não trocava o que faço por nada.”

São atores, bailarinos, cantores, modelos. Crianças atiradas às feras atrás do sonho. Menores que se desdobram entre a escola, o trabalho, entrevistas. Pequenas estrelas. Mas há lucidez no meio das luzes da ribalta? “Os talentos, seja para matemática, dança ou futebol, devem ser incentivados, desde que não perturbem a escola, as regras em casa, o desenvolvimento.” Pedro Monteiro, pedopsiquiatra, teme mais o deslumbramento dos pais, o narcisismo em relação ao sucesso dos filhos. “Por pensarem que têm ali um campeão, não podem tornar o filho escravo do talento e esquecer tudo o resto.” É preciso manter os olhos no futuro, alguns são para toda a vida, mas não raras vezes os talentos são fugazes.

Madalena Aragão estuda para os testes nas gravações. Faz novelas desde os dez anos. E só tem um plano: ser atriz
(Foto: Leonardo Negrão/Global Imagens)

Ainda se lembra de quando os pais de um ator lhe pediram uma justificação para o seu mau comportamento na escola, por andar pressionado. “As crianças não podem ficar com a ideia de superioridade, de que não têm que obedecer aos professores, e os pais não podem ficar ofuscados com a fama e descurar a educação, os valores.” A resposta é o bom senso. Quererem ser os melhores, mesmo em miúdos, “não é pressão negativa, a rivalidade sempre houve”.

Bailarino à conquista do Mundo

É mesmo para ser o melhor que António Casalinho treina seis horas por dia, seis dias por semana. Passam dois meses desde aquele dia em fevereiro em que conquistou o primeiro prémio do Grand Prix de Lausanne, um dos mais prestigiados concursos de dança para jovens bailarinos. O sonho a virar realidade, a bolsa para entrar numa companhia profissional de ballet já em 2022. Uma porta, e das grandes, a abrir. A bússola aponta para Londres, o que sempre quis. Já foi contactado por companhias pelo Mundo fora, ainda não se decidiu. Está no Conservatório Internacional de Ballet e Dança Annarella Sanchez, em Leiria. A roupa colada à pele, a preto e branco, é avessa ao arco-íris que lhe vai lá dentro.

Aos 17 anos, as costas direitas, o discurso escorreito, o foco comovente. Tinha oito quando duas amigas da escola o empurraram para aulas de ballet. Era Annarella a professora, acabou a sê-lo pela vida fora. Era só mais uma atividade, um bocado como a natação, mas o monstro do talento caiu-lhe no corpo sem pedir licença. Talvez venha do lado do pai músico. Aos dez, já palmilhava Mundo. Paris, Nova Iorque. Venceu o Youth America Grand Prix. “Lembro-me de ficar deslumbrado. De repente, tinha 12 anos e viajava quase todos os meses. Falava de viagens de avião quase como se fosse apanhar o autocarro.” Foi acumulando prémios. Depressa fez as contas, podia fazer vida disto. Em 2017, o concurso televisivo “Got Talent Portugal” – venceu, a catapulta para a fama. Milhares de seguidores no Instagram. “Isso deu muita visibilidade ao ballet. Até saí num manual do 6.º ano de Português.”

O país a aplaudi-lo, antes era mais conhecido fora de portas. Não mergulhou no mar de elogios. O ballet é exigente, “é preciso ser persistente, traz muitas frustrações, nem toda a gente aguenta”. Também o é financeiramente. Os pais não lhe amainaram o voo. Tem estatuto de aluno de alto rendimento, está no ensino articulado, 12.º ano. Entre as disciplinas corriqueiras, só tem Matemática e Português. A média total? Dezoito valores. O tempo é contado ao segundo. “Para ser bom bailarino, também é preciso ser bom aluno.” Teve uma adolescência diferente, ele sabe-o. Os amigos são os da dança. A alimentação regrada. Sente a pressão. “A partir do momento em que o nosso nome é mais ouvido, as pessoas esperam mais de nós, mas não me limito a isso. Acho é que cada vez posso ser melhor e melhor. Sou perfeccionista. Só fico satisfeito quando recebo aplausos.”

O que diz a lei

Em Portugal, é válido o contrato de trabalho celebrado com menores, desde que tenham 16 anos ou mais e concluído o ensino obrigatório – uma contradição – ou estejam na escola. Antes disso, depende da autorização dos pais. Mas a participação em espetáculos, atividades culturais, artísticas ou publicitárias tem uma lei especial, que difere em muita coisa. “Um exemplo, pelas regras previstas no Código do Trabalho, o menor não pode trabalhar mais de oito horas por dia. Já esta lei estipula que o tempo varia consoante a idade”, explica Sara Palminhas, especialista em Direito do Trabalho. Vai desde duas horas por semana para menores de três anos até quatro horas por dia e 12 por semana para crianças entre os 12 e os 16. E o trabalho não pode coincidir com as aulas.

É a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) a decidir se autoriza a participação, salvaguardando a segurança, a saúde, o desenvolvimento físico, psíquico e moral do menor. A mãe da atriz Madalena Aragão sabe-o bem: “A cada projeto, temos que mandar imensa informação. Não pode chumbar e tem que ter boas notas”.

Em 2019, as CPCJ deram 151 autorizações a nível nacional. Em 2020, fruto da pandemia, o número caiu para 38. “São raros os casos em que a resposta é negativa”, diz Maria João Fernandes, vice-presidente da Comissão Nacional. “A lei é de 2009, mas não se pretende privar. Pelo contrário, é promover, cumprindo as necessidades e direitos da criança.” O pedido de autorização inclui, entre muitos requisitos, parecer de um médico a atestar a capacidade física e psíquica. “E a CPCJ ouve sempre a criança, a escola, analisa o número de horas e se a atividade não prejudica o menor.” Até para evitar casos de excesso de trabalho. Maria João Fernandes sublinha, contudo, que não se trata de uma situação de perigo, mas apenas do cumprimento da lei. A Comissão “só dá autorização e define prazo de validade”. A fiscalização cabe à Autoridade para as Condições de Trabalho, que é informada.

A lei não acautela uma retribuição mínima mensal para menores e no que toca à gestão do dinheiro, diz Sara Palminhas, “o Código Civil prevê que é aos pais quem compete administrar os bens dos filhos menores”. A especialista reconhece o esforço do legislador, mas admite que o regime é “complexo” e “confuso, na dicotomia maior/menor de 16, escolaridade obrigatória cumprida ou não”.

Rita Rola, especialista em Direito de Menores, concorda. “Há lacunas. A gestão do dinheiro depende do bom senso dos progenitores. Não há nada legalmente que garanta que os pais não o usem.” A advogada acredita ainda que falta tempo à criança para ser isso mesmo: criança. “Há um trabalho intelectual que é difícil de medir. Enquanto atores, quantas horas demoram a preparar a cena? Quando vão para casa, em vez de estarem a brincar, estão a decorar textos.” E levanta a questão do direito à imagem: “Já nos habituamos a ver na televisão e em campanhas publicitárias miúdos e nem pensamos no que está por trás. Estamos a usar a imagem das crianças, até que ponto os pais têm legitimidade para o decidir?”.

Maria Miguel: a moda e a vida em Paris

A maria-rapaz que gostava de futebol e virou modelo cresceu. Já tem 20 anos. Vive em Paris, sozinha. Lembra-se bem, foi quando venceu o Globo de Ouro de Melhor Modelo Feminino, 17 anos. “A única altura da minha vida em que me senti deslumbrada. Nunca tinha tido tanta atenção. Todos os dias, recebia mensagens. Pediam-me para tirar fotos. Fiquei a achar-me a maior. Tinha de continuar para parecer cada vez melhor aos olhos dos outros.” Passou-lhe rápido, é descontraída. O corrupio que foi a vida tem dedo nisso. Nasceu em Braga, aos seis anos embarcou para Angola. Da antiga colónia para Inglaterra, aos 13. Um ano num colégio interno. Depois, dois anos no Porto até ser descoberta e a moda a levar para fora, ainda menor e com a mãe atrás para amparar. “Sou do Mundo. Mas o Porto é a minha casa.”

Desfila nas maiores passarelas do Mundo para marcas como a Chanel. Maria Miguel já tem 20 anos, vive sozinha em Paris (Foto: DR)

Era um palito andante, caminhar de homem, diz dela. Constantemente a ser abordada em centros comerciais, na rua. Tinha 15 anos quando entrou pela primeira vez na L’Agence, sabia nada de moda. Aulas para desfilar, sessões fotográficas, venceu o concurso Go Top Model aos 16. “Era um bebé.” Pouco depois, aterrou em Londres, nas férias de verão, era suposto ficar só um mês. E a vida deu uma cambalhota. Não houve tempo para pensar, mandaram-na logo para Paris. Um casting para a Yves Saint Laurent e a modelo a construir-se. Estava no 10.º ano, nunca mais foi às aulas, fez tudo online. “Era eu a abrir livros e a estudar sozinha. Só ia aos exames no final do ano letivo em Portugal.”

A mãe, empresária, não largou a filha, foi com ela. Ainda hoje, Maria não quer gerir a conta bancária. Já sabe quanto ganha, mas continua a ser a mãe a dar-lhe mesada. Por altura das semanas de moda, num mês, chega a desfilar em Paris, Milão, Londres e Nova Iorque. Aguenta o jet lag e nunca desliga de casa, para manter os pés assentes. Estar ao lado de figuras internacionais não a fascina, “são pessoas como nós”. Representa marcas de topo, não pensa muito nisso. É de riso fácil. Já gosta mais de viver em Paris, foi fazendo amigos. E aprendeu a cozinhar. Mas volta sempre que pode, mais do que uma vez por mês. Tem cá as melhores amigas. Antes dos 18, não ir às festas “parecia o fim do Mundo”. “Estava a perder a minha adolescência, hoje olho para trás e sinto que não perdi assim tanto.” No meio de uma autêntica esquizofrenia, não consegue parar de projetar o futuro, é assim a morena de olhos expressivos. Tem um plano B: Gestão. “Sei que isto não é para sempre.”

O mediatismo, a necessidade de corresponder

Serão as crianças das novas gerações mais precoces? “De certa forma, sim. Estão expostas a uma quantidade de estímulos muito superior e parecem desenvolver competências mais cedo.” Sofia Ramalho, especialista em Psicologia da Educação, acredita que a exposição mediática que vem a reboque dos talentos é que pode trazer riscos. Põe a maturidade na balança. “A criança está em fase de desenvolvimento, de construção da personalidade, e nem sempre depois, se mudar de ideias, fica fácil voltar atrás.”

Com a fama vem a pressão social, da imprensa e da família, “mesmo que não seja explícita”. “Os pais nem sempre conseguem antecipar tudo. Isso pode ter impactos positivos ou negativos, conforme a criança e o envolvimento que teve na decisão.” Os fãs a multiplicarem-se nas redes sociais mostram bem isso. “A criança sente que tem que agir em função de obter um determinado número de gostos ou seguidores. Há uma necessidade de corresponder.” E há pressa de vencer, com “os jovens muito focados na excelência, em serem excelentes a tudo”. Cortar as asas aos sonhos não é opção, mas há regras-chave. “Tem que ser uma decisão co-construída entre pais e criança. E têm que estar atentos às consequências da exposição, tentar perceber, ao longo do tempo, se é de facto esse o caminho que o filho quer, se mantém essa vontade. E manter o mais possível experiências normativas, como brincar.”

A mãe de Maria Inês Saraiva bem tentou prepará-la para o impacto mediático, só que é difícil antecipar fenómenos como o “The Voice Kids”, da RTP. Mal começou a soar “Fly me to the moon”, de Frank Sinatra, a voz era a da pequena Maria Inês, agarrada a um ukulele com vestido e bandolete azul, tão menina como os 11 anos que conta. Virou as quatro cadeiras, quase nem parecia estar em “pânico”. A mentora Marisa Liz foi a primeira: “Não é possível”. A prova cega foi uma avalanche. “Foi muito intenso. Mensagens, telefonemas. É uma máquina que se põe a andar e não dá para voltar atrás. Isto não vem com um manual”, comenta a mãe, Patrícia Saraiva.

Maria Inês Saraiva começou a cantar aos cinco, dois anos depois foi para uma escola de jazz e agora está a ter grande sucesso no “The Voice Kids”
(Foto: Leonardo Negrão/Global Imagens)

Um recuo no tempo. Em casa, a ver televisão, a gala de Natal do “The Voice” estava a acabar, um anúncio para a versão Kids, o histerismo de Maria Inês. Insistiu tanto que os pais cederam. Um contrato assinado com a produtora para uso de imagem. Para quem começou a cantar aos cinco anos, em cima da caixa de uma casa de bonecas, para um público feito de avós, o sonho começava a ganhar forma. Está na Escola de Jazz do Barreiro desde os sete. Aulas de piano, canto. Somou-lhes, agora, o ukulele. Leva-o para todo o lado.

É articulada, espontânea, a miúda apaixonada por gatos que engana a mocidade. “É difícil gerir tudo, é muito cansaço, mas fico muito feliz a fazer isto.” Tem aulas de música todos os dias da semana, menos à segunda. Está no 6.º ano, já venceu o prémio de melhor aluna da escola. No dia seguinte à prova cega passar na televisão, as palmas à entrada da escola e os amigos a invejar-lhe ter estado ao lado dos ídolos Fernando Daniel e Carolina Deslandes. A mãe criou-lhe o Instagram, gere-o. “Faz-me aflição porque quero responder a todas as mensagens e não consigo”, atira a pequena. Já quis ser astrofísica, hoje olha para a música como hipótese. Mas é coisa “muito importante decidir o que se vai fazer para o resto da vida”. Tem cabeça e tempo.

Agora, os fins de semana são a treinar para os espetáculos em direto, no estúdio da RTP. Com um vocal coach e a mentora, Marisa Liz. Na última gala, encheu o palco com o clássico “La vie en rose”. A cantora de palmo e meio gosta de fazer as coisas bem. “Quanto mais críticas leio, mais obcecada fico.” Se vencer, há de gravar um álbum.

De filho da Rita Pereira para a fama

Isaac Carvalho, de Vila Franca de Xira, é descontraído. O cabelo afro carregado de caracóis conquistou os telespetadores. Fala pelos cotovelos. É conhecido por ter sido Júnior, filho de Rita Pereira na novela “A Única Mulher”, TVI. Nem sabia o que era ser ator, “que era profissão”, quando a beleza o empurrou para um casting. Ficou. Tinha sete anos. Arranjava tempo, no meio das gravações, para andar de skate. “Aprendi muito. Mas nunca faltei à escola para ir gravar. Às vezes, fazia os trabalhos de casa lá.” Na escola, fazia mais sucesso entre professoras. “Os colegas comentavam e depois íamos jogar futebol.” Descomplica.

A mãe, Sofia Carvalho, acompanhou o “piolho”, estava grávida de Dennis, de baixa. “Eu era mais ansiosa. Mas ele chegava lá e ainda decorava as falas dos outros.” A vida deu uma reviravolta com a projeção. Não conseguia nem ir ao supermercado. “As pessoas queriam fotos com ele, faziam perguntas. Foi de loucos.” Sofia foi bailarina durante 15 anos, conhece o mundo do espetáculo, mas nem ela estava preparada. Tentou gerir. “Filho, agora és o Júnior, toda a gente te adora, mas daqui a uns tempos já ninguém se lembra.” O pequeno ator gosta de “ser reconhecido”. Não é competitivo. “Não tenho aquela coisa de querer ser o melhor.” É mais de esfolar joelhos em brincadeiras. Os cem mil seguidores no Instagram não o impressionam. Aos 11 anos, já leva ficção, dobragens, teatro no currículo. E um “não” a uma novela. Queriam obrigá-lo a cortar o cabelo. Isaac ficou lavado em lágrimas, a mãe não deixou, rasgou o contrato.

Aos sete anos, Isaac Carvalho foi atropelado pela fama ao fazer uma novela na TVI, o papel de mais destaque do pequeno ator
(Foto: Leonardo Negrão/Global Imagens)

Foi preciso um mapa gigante colado no frigorífico para gerir os horários. Ele até subiu as notas desde que a representação bateu à porta. A CPCJ teve de autorizar. Sofia não achou graça ao início. “Dava a sensação que o estávamos a obrigar ou a fazer mal. Mas queria protegê-lo, falei com psicólogos e até me deram os parabéns.” A mãe-galinha não facilita, o artista tem de arrumar o quarto, fazer a cama, ter boas notas. “As regras têm que ser cumpridas. Há tempo para jogar, estudar, brincar com os amigos.”

Isaac torce o nariz, tem o coração na boca. “Os meus pais adoram ver-me e incentivam-me. Gosto mais disto do que da escola. Estou no 8.º ano, se for preciso estudo nas gravações.” A mãe fica babada. Vê-se no filho, “nas ambições que tinha na idade dele”. Isaac é agitado, tem a quem sair. O dinheiro está numa conta-poupança. A mãe ganha o ordenado mínimo. “Só vamos à conta dele quando pede ténis caros. Já tem o suficiente para entrar na universidade. É uma segurança.” E ele já congemina planos. Gosta de rap. Quer música ou representação. Vai entrar na novela “A Serra”, da SIC. A mãe reza para ter “um papel à maneira”. E ele ri: “Vou ser o Zezito, não posso contar mais”.