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Como comemorar o aniversário dos filhos?

Patrícia Pereira com a filha Maria, que teve direito a uma celebração com o tema da Rapunzel na Charneca da Caparica, e o mais novo, Manuel (Foto: Carlos Pimentel/Global Imagens)

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Como comemorar o aniversário dos filhos? Quem convidar? O que fazer? Três famílias partilham como celebram este ritual pleno de significado.

No recinto, é privilegiado o contacto com Natureza e animais. Tem um espaço com casinhas de bonecas, uma zona de pintura e desenho e uma discoteca infantil. No exterior, há insufláveis e áreas distintas para diferentes atividades. Foi no Clube da Brincadeira, situado na Aroeira, Charneca de Caparica, que Maria Moreira festejou o 5.º aniversário, no dia 26 de abril de 2019, com bolo e decoração alusivos à princesa Rapunzel. O pretendido não era celebrar num espaço “onde decorrem ‘mil festas’ em simultâneo e as crianças andam aos pulos enquanto os adultos estão a observar no exterior”, explica a mãe da aniversariante, Patrícia Moreira, consultora de Comunicação, de 42 anos. O pai, Túlio Moreira, 39 anos e oficial da Marinha Mercante, explica que queriam que miúdos e graúdos “tivessem espaços distintos e ao mesmo tempo unificados”.

A versatilidade do local, assim como a seletividade e segurança, foram os fatores que motivaram este casal da Amora. “Decorrem apenas duas festas em simultâneo. Não entram pessoas estranhas”, salienta Patrícia, ao recordar as comemorações da sua mocidade, feitas em casa, junto de familiares, amigos e vizinhos. “Quisemos transportar o sentido de união entre família e amigos”, comenta, frisando que não tem espaço em casa para receber os convidados que facilmente “ascendem a 50”.

A celebração do aniversário é um ritual marcante na nossa cultura, que reforça o papel da criança e a identidade familiar, sustenta Marisa Alves, psicóloga clínica de crianças e adolescentes na consulta de ansiedade do PIN – Progresso Infantil. Porém, “cada família tem a possibilidade de reinventar os seus rituais”.

Para Maria João Senos, educadora de infância na Santa Casa da Misericórdia de Ílhavo, é importante assinalar o aniversário, “nem que seja no jardim de infância, onde estão presentes todos os amiguinhos”. A forma como a criança encara o próprio aniversário vai mudando com o tempo. “A cada ano que passa, apercebe-se mais que aquele dia é especial. Sente-se a pessoa mais importante do Mundo.”

Não há muita investigação sobre a compreensão e o impacto das festas de aniversário em crianças. Os poucos estudos mostram haver maior compreensão sobre a intencionalidade da festa a partir dos três anos, segundo Marisa Alves. Deverá ser nesta idade que parecem associar a festividade ao próprio conceito de maturação e passagem do tempo. “Nos dois primeiros anos, a compreensão da criança parece limitada à perceção de que existe um comportamento diferente do habitual, que tanto lhe pode gerar contentamento, como espanto ou medo, por exemplo, quando se cantam os parabéns”, explica. Após os quatro anos, os aniversários tornam-se em momentos de celebração e de interação social.

Adequar a celebração à idade e às circunstâncias

A quem endereçar o convite? Nos mais novos, “o ideal é convidar todas as crianças da turma”, responde Maria João Senos, ressalvando, porém, que nem sempre o orçamento familiar o permite. Nestes casos, aconselha os pais perguntarem aos filhos quem são os amiguinhos mais chegados e revela uma forma de não se ferir suscetibilidades: “Pedimos para os pais entregarem os convites pessoalmente ou trocarem contactos, para que o resto da turma não se aperceba”.

As educadoras também podem ajudar a identificar quem tem maior proximidade ao aniversariante. Uma questão que já não se coloca nas crianças mais crescidas. Catarina Moreira, 35 anos, e Ricardo Benedito, 41, sempre tentaram assinalar o aniversário de Guilherme Benedito “em contexto de sala de aula”. Isto porque, era uma forma de ter presente a “maior parte dos amigos”, explica a mãe, delegada de informação médica. “Em Lisboa, já poucas escolas permitem que os pais cantem lá os parabéns, as nossas casas não permitem receber muitas crianças e os filhos vão ficando ‘mais exigentes’”, justifica Catarina a opção de celebrar os aniversários do filho em espaços específicos. A 15 de junho de 2019, precisamente no dia do 7.º aniversário, a comemoração foi no Jardim Zoológico de Lisboa, com 14 convidados. “Perguntei ao Guilherme quais os amigos que gostaria convidar”, conta a mãe que queria o filho “feliz e confortável com quem considera importante”.

Na opinião de Marisa Alves, é fundamental “os pais adequarem a festa de aniversário a cada faixa etária, às características individuais da criança e às próprias limitações, sejam económicas, de espaço ou de disponibilidade emocional”. Não existem “fórmulas universais”, mas “se os pais se lembrarem do que sabem sobre os filhos, encaixarem nos limites da realidade e celebrarem verdadeiramente aquele dia, então, não pode existir melhor aniversário”. O mais importante é “o foco na criança e no amor e alegria que passou a existir desde que chegou à família e ao Mundo daqueles com quem criou ligações de proximidade”.

Catarina Moreira organizou a festa do 7.º aniversário de Guilherme no Jardim Zoológico de Lisboa, com 14 convidados
(Foto: Carlos Pimentel/Global Imagens)

Quando Catarina soube que festejar o aniversário no Jardim Zoológico de Lisboa dava a oportunidade de tocar num golfinho nem pensou duas vezes em concretizar o sonho do Guilherme. “O bolo não foi alusivo a animais, mas, sim, à seleção nacional, com o número do ídolo dele, o Cristiano Ronaldo. Também recebeu o equipamento da Juventus como presente.”

Esta festa, que incluiu uma visita guiada com dois monitores de três horas e uma hora para o lanche, custou 300 euros. O bolo e as recordações para os amigos rondaram os cem euros. Um valor que Catarina e Ricardo conseguiram suportar. Algo que poderá não acontecer com outras famílias. Por isso, Maria João Senos considera importante não ceder a todos os pedidos dos filhos. “Muitas vezes, vão além das possibilidades financeiras.”

Patrícia Moreira admite que a festa custou “uma renda”, mas “a Maria fica feliz” e os pais também. Além de terem pago 150 euros pelo aluguer do espaço, houve custos com o bolo de aniversário (cerca de 20 euros), comida e bebida (aproximadamente 300 euros), pratos, copos e decoração com balões e cenário para fotografias (no máximo 30 euros) e máscaras (média de 20 euros). Como “olham sempre a gastos”, com mais um filho – o Manuel que fez dois anos no dia 21 de maio -, passaram a “equacionar e racionar as opções”.

Ideais, expectativas e orçamentos

Decidir como e onde celebrar aniversários deve ir ao encontro de ideais, expectativas e orçamentos. As festas de charme, por exemplo, “são pensadas e preparadas com um fio condutor muito bem definido. Trabalhamos cores, temas, texturas, flores ou catering como se uma história se tratasse”, define Patrícia Carrilho, fundadora e CEO da Menta Dourada, de Lisboa. Dependendo do que o cliente pretende e do número de convidados, “a base parte dos 600 euros para a mesa do bolo totalmente personalizada”. As festas de aniversário são procuradas por “famílias preocupadas com o lado estético da vida e que valorizam estarem ‘livres’ para aproveitarem o dia”.

Para Carina Ferreira e Joaquim Neves, de Vila Real, “uma boa festa tem de decorrer num ambiente bonito, confortável e agradável”. Neste sentido, a psicóloga de 36 anos, e o farmacêutico, de 38, referem ser “necessário reunir condições, de espaço e de conceptualização, que permitam proporcionar tempo de qualidade a todos os convidados, desde os mais novos aos avós”. Pretenderam, assim, oferecer momentos especiais ao Valentim na comemoração dos aniversários.

O conceito de festa charme “é que nos encontrou”, diz Carina, recordando a festa “de casamento perfeita”, que contrastou com a do batizado do filho. “Tivemos uma desilusão enorme com o espaço, sobretudo pela decoração que não correspondeu às expectativas”. Na comemoração do 1.º ano do Valentim, a 7 de outubro de 2018, deram preferência à decoração. “A Casa da Prensa foi o local escolhido por reunir todos os fatores que julgámos necessários”, conta a mãe a quem recomendaram a Peculiar Comunicação para a decoração personalizada da mesa do bolo (’sweet table’). “O tema ‘Little Man’ ficou logo definido, com base na troca de ideias”, conta Carina que repetiu o conceito no segundo aniversário de Valentim, com o tema animais da selva e, no terceiro, assinalado em casa com um número muito restrito de convidados, dedicado ao tema dinossauros.

Joaquim Neves e Carina Ferreira, de Vila Real, pretendem continuar a oferecer festas de charme a Valentim
(Foto: Rui Manuel Ferreira/Global Imagens)

Cláudia Gomes é de Vila Nova de Gaia, criou a Peculiar Comunicação há quatro anos após ter feito “várias formações de party stylling com profissionais de renome internacional” e especializou-se em festas de charme. Executa festas completas, com decoração, cake design, lanche, animação, insufláveis e fotógrafo, ou apenas a ‘sweet table’. “O grande fator diferenciador é a qualidade dos materiais que utilizamos e a relação de proximidade e exclusividade com os nossos clientes”, salienta a decoradora.

Independentemente do tipo de festa, o bolo de aniversário é obrigatório. Cátia Rocha é madeirense do Funchal, vive na Amadora, queria ser chef de cozinha e fez formação na Escola de Hotelaria e Turismo do Estoril, sem nunca desistir do cake design. Se inicialmente fazia bolos para familiares e amigos, hoje recusa muitas encomendas, por já não ter agenda, através da empresa familiar Cake It Easy. Não consegue quantificar o tempo que demora a fazer um bolo artístico nem calcular um valor médio. “Depende da complexidade da decoração, técnicas utilizadas, doses pedidas, tipo de cobertura, estrutura, material ou ingredientes”, exemplifica a profissional, cujos temas dos bolos infantis mais comuns são os da “Disney, animais da selva ou panda”.

Carina e Joaquim pretendem continuar a oferecer festas de charme ao Valentim. Devido às restrições ditada pela pandemia, Guilherme não comemorou o 8.º aniversário, mas os nove anos foram recebidos num espaço próprio para aniversários com amigos da escola. O tema da festa dos seis anos de Maria seria as LOL, mas foi à janela com os vizinhos e alguns familiares e amigos a assistir virtualmente. No sétimo aniversário já foi possível juntar familiares e amigos mais próximos num piquenique.