Três primas juntam-se e criam uma marca de roupa feminina slow-fashion, versátil e personalizada. Sustentável e solidária. O batismo do projeto é uma homenagem ao bisavô António e ao avô Arlindo.
Eva e Vanessa Silva são irmãs, Ângela Ferreira é prima delas. Eva é engenheira de materiais, Vanessa é modelista, Ângela médica-veterinária, profissões que exercem a tempo inteiro. Nas horas que lhes sobram, dedicam-se à marca que nasceu com biquínis para usar dos dois lados no verão do ano passado. Cartola nasceu no confinamento com as mãos de Vanessa, as ideias de Ângela, o cérebro de Eva. Um projeto que amadureceu devagar e que quer crescer de forma orgânica.
Todas as peças são reversíveis ou conversíveis. “Criar uma marca igual às demais não fazia sentido, queríamos posicionar-nos no mercado de forma distinta”, conta Ângela. “Compra-se um casaco e fica-se com dois porque pode ser usado de um lado ou do outro”, refere Eva. Um vestido que é uma blusa e um casaco, com ou sem bolsos, uma camisola com ou sem mangas, biquínis e fatos de banho para usar dos dois lados. Ter cinta L e anca S não é um problema, a altura também não, mais larga em cima, mais estreita em baixo, ou vice-versa, não são questões, muito menos o comprimento de uma saia. Tudo se muda, tudo se altera, tudo tem solução. O modelo, a cor, o visual.
Ângela fala de moda inclusiva, uma coleção base, moldes testados e aperfeiçoados. “Criamos a peça de base com o tamanho personalizável para cada cliente.” E a cliente é soberana nas escolhas. O conceito dá trabalho, são costuras para esconder, botões que não se podem ver, etiquetas que não devem aparecer. Tudo feito à mão, por costureiras locais, compras também feitas no negócio local de Vila Nova de Famalicão, sobretudo excedentes de coleções de fábricas da zona.
Por vezes, o processo criativo leva uma volta. Ângela explica. “Compramos um tecido e depois é que pensamos no que vamos fazer com ele.” É uma marca sustentável, amiga do ambiente, que produz consoante as encomendas. “Não trabalhamos com stocks, o nosso desperdício é muito baixo”, observa Ângela. E não há estações do ano. “Não faz sentido fomentar o uso sazonal das peças”, acrescenta.
O batismo tem uma história. O bisavô António andava pelas festas da aldeia trajado a rigor e com uma cartola, a alcunha ficou e passou de geração. As primas são conhecidas como as netas do Cartola, nome que passou para o avô Arlindo. É uma homenagem à família, a uma herança comum.
A Cartola também é solidária. No ano passado, com os poucos restos que sobram sempre, as três primas fizeram pensos higiénicos reutilizáveis que entregaram à HumanitAVE, associação famalicense, que os enviou para a Guiné. Este ano, a camisola solidária, para usar no Natal e fora dele, custa 32 euros e dois euros são entregues à Operação Nariz Vermelho.
A montra é online no site e nas redes sociais. “Apostamos num crescimento orgânico para dar resposta aos pedidos”, diz Eva. “Temos uma carteira de clientes interessante, satisfeita e fidelizada”, adianta Ângela. As peças andam entre os 27 euros, de uma t-shirt, e os 85 de um casaco reversível de ganga e pelo.