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Cancro do intestino. O sangue oculto, o cansaço, a perda de apetite

Fotos: Freepik

Dor abdominal recorrente é um dos sintomas que deve motivar consulta médica

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No ano passado, em Portugal, foi o cancro com maior incidência e a segunda causa de morte por doença oncológica. Os sinais são, muitas vezes, invisíveis e impercetíveis. O tratamento deu um enorme pulo com a cirurgia robótica e minimamente invasiva.

O cancro colorretal provoca perdas de sangue no intestino que nem sempre são visíveis. Por isso, os doentes podem ter apenas queixas vagas de cansaço por causa da anemia. A perda de sangue nas fezes, a alteração do padrão habitual de funcionamento do intestino, com prisão de ventre ou diarreia, a perda de peso, o desconforto abdominal e falsas vontades para evacuar são os sintomas mais comuns.

É um dos cancros mais frequentes no nosso país e com elevada taxa de mortalidade. Só em 2020, surgiram 10.270 novos casos e foi a segunda causa de morte por doença oncológica (4275 óbitos), logo a seguir ao cancro do pulmão. É o segundo cancro mais frequente no homem, depois do da próstata, e na mulher, depois do da mama.

O rastreio do cancro colorretal permite um diagnóstico precoce e tem impacto na redução da incidência e mortalidade. O rastreio na população assintomática e na ausência de fatores de risco deve ser iniciado até aos 50 anos de idade. O primeiro teste é a pesquisa de sangue oculto nas fezes. Se for positivo, deverá ser complementado com a colonoscopia. Nelson Silva, cirurgião geral na CUF Infante Santo Hospital, em Lisboa, adianta que há dados fidedignos que indicam que a colonoscopia total é o melhor exame para o rastreio e diagnóstico precoces. “Sempre que existem fatores de risco, como antecedentes familiares ou pessoais de poliposes intestinais, doença inflamatória intestinal ou neoplasias malignas, a estratégia é diferente e, habitualmente, começa mais precocemente”, refere.

O rastreio deste tumor deve ser feito a partir dos 50 anos, com a pesquisa de sangue oculto nas fezes

Sangue misturado com as fezes, dor abdominal recorrente, alteração da forma e consistência das fezes, obstipação ou prisão de ventre, perda de apetite e emagrecimento, cansaço e anemia. Qualquer um destes sintomas deve motivar consulta médica.

“O diagnóstico é feito através da colonoscopia e da biópsia. Este diagnóstico obriga a que o doente seja encaminhado e orientado para a consulta de cirurgia oncológica ou oncologia médica, onde será efetuada a avaliação da extensão da doença, o denominado estadiamento oncológico, habitualmente, através de exames de imagem.”

O tratamento do cancro do intestino grosso ou colorretal depende da sua localização e extensão da doença. Atualmente, as opções terapêuticas podem ser a cirurgia, a quimioterapia e ou a radioterapia. “Nos últimos anos, as decisões relativamente às propostas de tratamento têm sido regulamentadas por linhas de orientação terapêutica, ‘guidelines’, providas das reuniões de decisão multidisciplinar, que envolvem diversas especialidades do conhecimento médico-cirúrgico”, sublinha o cirurgião.

Um diagnóstico precoce permite um tratamento minimamente invasivo e evitar uma abordagem de cuidados paliativos

Segundo Nelson Silva, a cirurgia é a opção terapêutica com intenção de tratamento curativo. O objetivo é eliminar a doença, removendo parcial ou totalmente o cólon/reto, os gânglios adequados e, por vezes, as metástases. “Nos últimos 25 a 30 anos, o desenvolvimento tecnológico, com a melhoria da ótica através da visão tridimensional, HD ou 4K, e a engenharia robótica permitiram a introdução e o crescimento da cirurgia minimamente invasiva laparoscópica e da cirurgia robótica aplicada ao tratamento do cancro colorretal”, adianta.

A cirurgia minimamente invasiva tem vantagens para os doentes, uma vez que permite alcançar resultados terapêuticos tão bons ou melhores do que a cirurgia convencional aberta. Os internamentos hospitalares são mais reduzidos, a recuperação é mais rápida e com menor dor no pós-operatório, menos feridas e menor probabilidade de complicações infeciosas. “Tem ainda vantagens para a sociedade, permitindo o regresso mais rápido da pessoa ao meio familiar, social e à atividade profissional.”

A cirurgia robótica é totalmente controlada pelo cirurgião, articulando os instrumentos que simulam o movimento da mão, com gestos rigorosos e sem tremores. “No nosso país, a cirurgia robótica ainda está atualmente limitada a poucos centros cirúrgicos e envolve custos económicos e financeiros mais elevados, o que será a real desvantagem desta extraordinária opção técnica.” Mesmo assim, Nelson Silva reforça que a cirurgia assistida pela robótica permite a realização de procedimentos cirúrgicos mais complexos com uma maior precisão. “Dá então lugar a intervenções mais confiáveis e eficazes do que a cirurgia laparoscópica, permitindo mesmo superar algumas das dificuldades técnicas.”