
Foi um jovem estudante extrovertido, com facilidade de comunicação, interessado na vida associativa, que se destacava nas assembleias gerais do ISEG. Quando aceitou ser presidente da ANACOM, sabia que estava a entrar numa “zona de guerra”. Tinha razão.
Quando aceitou o convite sabia que o esperava “uma zona de guerra”, palavras suas, proferidas em dezembro de 2017, quatro meses após ter tomado posse, à revista “Comunicações”, da APDC.
Estava certo, o presidente da Autoridade Nacional das Comunicações (ANACOM). Dureza na crítica não tem faltado aos líderes das operadoras nacionais que a entidade regula. “Alguém à frente do regulador está chateado com a vida. É completamente autista. Estamos perante um regulador que não tem visão estratégica”, disse recentemente Alexandre Fonseca, presidente executivo da Altice Portugal, um dos mais inflamados críticos da presidência de Cadete de Matos. Não está sozinho.
Em causa, um número e uma letra: 5G. Quer dizer, padrão de tecnologia de quinta geração para redes móveis e de banda larga. Contestam o leilão, “interminável”, regulamentos com medidas “ilegais e discriminatórias”, interpelam um processo que envolve já ações judiciais e providências cautelares.
Como reage João Cadete de Matos, lisboeta de sangue ribatejano? “Com muita calma. Ele sabe que num cargo público a possibilidade de ser criticado é muito forte”, responde Manuel Sebastião, ex-administrador do Banco de Portugal. “Não se pense que o incomodam”, diz o amigo, que realça, do economista, “o conhecimento dos dossiês, a organização, o sentido de equipa e um respeito inabalável pelo cumprimento dos prazos”.
Nos anos em que trabalharam juntos, viu “alguém capaz de tomar a iniciativa, sempre muito preocupado com a produtividade do departamento que comandava” – o departamento de estatística do Banco de Portugal, lugar em que ganhou visibilidade e destaque no meio.
José António Cortez e Cadete de Matos cruzaram-se no ISEG, em meados dos anos 1970. Ambos alunos, Cortez, agora professor, lembra um jovem “muito extrovertido e com grande facilidade de comunicação”. Um estudante interessado na vida associativa, “muito interventivo, que se destacava nas assembleias gerais do ISEG”.
Mais tarde, do então professor assistente, salienta “a grande capacidade pedagógica”. Descreve-o “um homem convicto, com a coragem necessária para passar das proclamações aos atos”. Com exemplos. “Foi preciso muita coragem para enfrentar e afrontar quem na altura dominava a escola, aceitando organizar uma lista de professores assistentes e com ela concorrer à assembleia de representantes, convicto que estava de que a escola precisa de ser reformulada”, recorda.
Nos anos 1950, a família, com raízes em solo ribatejano, procurou na capital melhores condições de vida e foi em Lisboa que nasceu. Aos 15 anos, estudante do carismático Liceu Camões, viveu o 25 de Abril, tomou consciência política e social, que o levaria à JS, integrando “o primeiro grupo da Juventude Socialista já organizado, no pós-revolução”, de acordo com José António Cortez.
Os anos de Banco de Portugal deram-lhe um conhecimento aprofundado da economia portuguesa. Conhece bem Portugal. Estende o “carinho” de Abrantes a Trás-os-Montes e aos Açores. É na casa do Parque Natural de Montesinho que repousa, nos fins de semana. Mas também gosta de viagens de grande porte. Para longe: América, Austrália, Nova Zelândia.
Volte-se às palavras duras de Alexandre Fonseca que lhe são dirigidas: “Autista e chateado com a vida”. A resposta fora dada muito antes, na entrevista já citada, pegando no exemplo de vida dos pais: “Estou aqui para ser feliz”.
João António Cadete de Matos
Cargo: presidente da ANACOM
Nascimento: 14/04/1959 (62 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Lisboa)