Augusto Santos Silva: o político

Augusto Santos Silva é ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros (Ilustração: Mafalda Neves)

É o homem que os líderes socialistas gostam de ter por perto. Amigos explicam tal apego: “Inteligência superior e capacidade de sintetizar”. Mas está longe de ser consensual. Dado a polémicas, há quem o considere arrogante e veja nele tiques “trotskistas”.

Chegou à governação pela mão de António Guterres, que depressa viu nele alguém a manter por perto, de José Sócrates foi mentor e apoio inestimável e, hoje, sentado à direita de António Costa, é um dos mais influentes do XXII Governo, o homem responsável pelo dossiê da presidência portuguesa da União Europeia. E de novo há de vir. Sempre que houver um governo PS e ele queira. Ou não estivesse presente, já lá vão duas décadas, em todos os executivos dos socialistas. Tutelou a Educação e a Cultura, os Assuntos Parlamentares e a Defesa. É agora ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros.

O que explica tal apego dos líderes ao sociólogo? “O Augusto é uma inteligência superior, adapta-se com facilidade aos cargos e tem a enorme capacidade de sintetizar. Ouve os lados, não escolhe trincheiras, registando muito bem o essencial dos debates, por muito complexos que sejam”, justifica José António Vieira da Silva, amigo e companheiro de vários governos.

E um ministro político, força que lhe permite diversificar experiências, assumir ministérios pesados. Na Defesa, de onde saiu incapaz de distinguir uma corveta de uma fragata (“Público”, 2015) continua lembrado. “Atrevo-me a dizer que foi um bom ministro”, ouve-se a um homem de um mundo pouco dado a elogios rasgados. O general José Duarte da Costa, presidente da Autoridade Nacional de Proteção Civil, foi seu adjunto para as relações externas da defesa (2009/2011). “Nas reuniões de trabalho teve sempre uma abordagem muito pragmática.” Sobretudo na análise das “várias modalidades de ação”. Para depois escolher a melhor. “Tem a capacidade fantástica de apanhar, perceber, escalpelizar.”

As preocupações não interferem “com a atitude calma”. Nem com o sentido de humor. Nem com os prazeres diários. A música clássica é uma constante dos gabinetes por onde passa. José Luís Carneiro, atual vice-presidente da bancada parlamentar do PS, foi seu secretário de Estado. Recorda também o “gosto pela escrita e pela leitura”. Sobretudo poesia. Da “Obra Poética” de Fernando Pessoa, presente materno no 14.º aniversário (DN, 2008), aos gregos. “Sólida base que leva para conversas, para a discussão e para o debate”, diz Vieira da Silva. E para as viagens. Duarte da Costa conheceu a poesia de Konstantínos Kaváfis (Alexandria, 1863-1933) na voz do ministro diseur, viajavam para Alexandria. “Foi um prazer imenso.”

Está longe de ser consensual. Dentro e fora do PS salta a palavra arrogância. Dado a polémicas, à esquerda do partido continua lembrada a frase icónica: “Eu cá gosto é de malhar na Direita e com especial prazer nesses que se situam de facto à direita do PS e são das forças mais conservadoras e reacionárias que conheço e que gostam de se dizer de esquerda plebeia ou chique, estou-me a referir ao PCP e ao Bloco de Esquerda”, afirmou, era ministro dos Assuntos Parlamentares. Recordada é também a comparação da Concertação Social a uma feira de gado e a exclusão de Cunhal da luta pela liberdade. “Tiques autoritários dos tempos do trotskismo” de que foi militante, dizem alguns.

“Católico de esquerda”, fez a formação política no contexto das lutas estudantis contra a ditadura. Vieira da Silva explica os anticorpos, lembrando a truculência do amigo no combate parlamentar: “O Augusto não sendo vaidoso não esconde a superioridade intelectual e exerce-a”. Continua: “Depois, nunca foi de grupos e essa independência e individualismo na política tem um preço”.

A polivalência do amigo volta à conversa. “Dá-se em todas as dimensões, mas dimensão reflexiva é aquela que lhe é mais natural.” Um homem “com sentido de Estado”, garantem antigos colaboradores. Trabalhador e atento aos pormenores. Muito reservado na vida privada – é casado, tem três filhos e três netos – mesmo ministro nunca desleixou o tempo familiar passado no Porto. De onde traz com frequência, para os colaboradores, uma caixa de chocolates da Arcádia.

Augusto Ernesto dos Santos Silva
Cargo: Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros
Nascimento: 20/08/1956 (64 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Porto)