Aquela máquina de costura, ponto a ponto

A máquina de costura criada por Isaac Singer, em 1851, a primeira com pedal, está em exposição no Museu Nacional de História Americana, em Washington

Dois alfaiates obstinados, um francês e outro americano, abriram caminho, deram corpo às ideias, mas a vida não lhes correu bem. Até que Isaac Singer entrou em cena e revolucionou os arranjos de costura caseira e a técnica da indústria da moda.

As agulhas com duas pontas apareceram no mercado, o alfaiate francês Barthélemy Thimonnier viu ali uma oportunidade e engendrou um mecanismo com uma agulha de ponta dupla que unia pano através de uma alavanca que movimentava uma roda. O ano era 1830. Antes disso, algumas ideias e esboços, poucos projetos e aparelhos, nada de muito prático.

O negócio prosperou, o Exército francês era cliente dessa forma rápida de costurar uniformes militares, a inveja profissional estalou, a fábrica ardeu em circunstâncias estranhas. Thimonnier fez as malas, mudou-se para Inglaterra, o plano era conquistar o mercado americano, não resultou, voltou a França com as mãos a abanar, mas com uma máquina que dava 200 pontos por minuto. A partir daí a costura só poderia evoluir. E foi o que aconteceu.

Thimonnier não era o único às voltas de um engenho que facilitasse os trabalhos de corte e cose das costureiras. Nos Estados Unidos, Walter Hunt, pelo ano de 1834, desenhou uma máquina de pesponto, mas, sem dinheiro, o projeto não saiu do papel. Dois anos depois, Elias Howe, norte-americano, sabia que a moda precisava de um engenho que ajudasse a arte, tinha capacidade financeira, patenteou uma máquina com lançadeira sincronizada com a agulha.

Até que o empresário-engenheiro-inventor Isaac Singer, também norte-americano, entrou na História com a sua invenção: a primeira máquina de costura com pedal, que deixava as duas mãos livres, agulha na vertical, calcador para segurar o tecido. Criou a empresa Singer, avançou com um sistema de venda a prestações, colocou a máquina de costura nas montras do Mundo. Corria o ano de 1851.

Melhoria a melhoria, ponto a ponto, a Singer tornava-se uma empresa gigante, em 1910 já fabricava máquinas de costura elétricas em série, tinha o mercado a seus pés. Uma doméstica chegava aos 1500 pontos por minuto, as industriais aos sete mil. Uma revolução na costura caseira, uma revolução na especializada indústria de vestuário, abrindo portas a produções em grande escala.

Os anos passaram, as máquinas que unem tecidos, ou outros materiais como o couro do calçado, foram ficando cada vez mais práticas, mais intuitivas, encolheram de tamanho, ficaram mais tecnológicas. Agora há máquinas para diversos gostos e feitios, elétricas, portáteis, de bolso que parecem agrafadores, silenciosas, com diferentes ângulos de costura e ajustes do comprimento dos pontos. Capazes de tudo, ajudar nos cortes e acabamentos, costurar panos delicados que exigem habilidade manual, costurar tecidos mais rijos e com pouca elasticidade, pregar botões e outros acessórios. E não tem de ser sempre a direito porque esta máquina abre asas à criatividade com um mundo de possibilidades. A moda agradece.