Apneia obstrutiva do sono, o ressonar e a sensação de asfixia

Em tempos de pandemia, nota-se uma maior incidência de perturbações de sono

É um distúrbio respiratório crónico. Os colapsos intermitentes e repetidos das vias aéreas superiores provocam uma respiração irregular e despertares constantes. O Dia Mundial do Sono é assinalado a 19 de março.

O sono, esse descanso imprescindível para o corpo e para a cabeça, pode ter altos e baixos. Com sérias repercussões para a saúde. A apneia obstrutiva do sono é um dos exemplos do que pode correr mal nesse tempo que deveria ser para repousar e recarregar energias. Mas nem sempre assim é. A apneia obstrutiva do sono é um distúrbio respiratório crónico com colapsos intermitentes e repetidos das vias aéreas superiores que levam a uma respiração irregular e a uma fragmentação do sono. Hoje, sexta-feira, é Dia Mundial do Sono. “Sono normal, futuro saudável” é o tema que a Sociedade Mundial do Sono escolheu para assinalar a data.

A apneia não deixa o sono ser uma linha contínua sem grandes sobressaltos. Nada disso. Provoca despertares quando o corpo devia estar em silêncio. É um distúrbio grave porque pode provocar sonolência diurna excessiva e prejudicar a capacidade de raciocínio e de avaliação, aumentando o risco de acidentes. A literatura científica sugere que a apneia obstrutiva do sono aumenta o risco de pressão arterial elevada que, por sua vez, aumenta o risco de incidência de enfarte agudo do miocárdio ou acidente vascular cerebral.

A prevalência de apneia obstrutiva do sono é maior nos homens (1,47%) e na população entre os 65 e os 74 anos (2,35%), segundo a Direção-Geral da Saúde

Segundo dados publicados no Journal Sleep Medicine Reviews, doentes que sofrem deste problema apresentam um risco significativamente mais elevado de morrer ou de internamento hospitalar após contrair o novo coronavírus SARS-CoV-2. Um risco que aumenta porque, muitas vezes, quem sofre de apneia padece de outras patologias como diabetes, obesidade e pressão arterial alta. Estas comorbilidades aumentam o risco de morte pelo novo coronavírus, enquadrando-se nos grupos de risco.

É um problema que, segundo Vítor Fonseca, coordenador de Pneumologia do Hospital Dr. José de Almeida e Hospital CUF Cascais, está associado “sobretudo a obesidade e às doenças cardiovasculares, fatores de risco em comum com a atual pandemia, colocando desta forma os doentes com apneia do sono em maior risco de evolução desfavorável em caso de infeção com o SARS-COV-2.”

O típico ressonar e a sensação de asfixia são sinais comuns da apneia. Os episódios repetitivos de paragens respiratórias e do sono não reparador, devido à fragmentação, levam a uma fadiga. É possível adormecer com muita facilidade a meio de uma conversa, no local de trabalho ou a conduzir. Em tempos de pandemia, nota-se uma maior incidência de perturbações de sono.

O risco de acidentes de viação é duas a 12 vezes superior nestes doentes, um grave problema de saúde pública

“A síndrome da apneia obstrutiva do sono é uma doença muito subdiagnosticada e subtratada em Portugal, com necessidade urgente de medidas para incrementar a acessibilidade dos doentes ao seu diagnóstico e tratamento, uma vez que apresenta um aumento significativo de mortalidade para os doentes”, sublinha Vítor Fonseca. “Este subdiagnóstico tem importantes consequências tanto a nível das despesas em saúde bem como a nível de saúde pública, com um aumento significativo em doenças do foro cardiovasculares (enfartes) e acidentes cerebrovasculares (AVC), duas das causas principais de morte em Portugal”, acrescenta o especialista.

Dormir bem reforça as defesas do sistema imunitário. O tratamento depende de vários fatores, como a gravidade da doença, o número e duração das paragens respiratórias, outras patologias, e as características morfológicas do doente. Atualmente, nos casos moderados a graves, a ventilação por pressão positiva contínua, denominada de CPAP, é o tratamento mais indicado e necessita de avaliação, diagnóstico e prescrição médica. Consiste na aplicação de pressão positiva de ar através de um equipamento (gerador de pressão) e de uma máscara colocada no nariz, que previne o encerramento da via aérea superior durante o sono, corrigindo assim as paragens respiratórias.

Além de ser um equipamento fácil de usar e transportar, é bastante silencioso, tem uma grande variedade de máscaras nasais, bem como a possibilidade de humedecer ou aquecer o ar, permitindo encontrar uma solução ajustada à necessidade e preferência de cada doente. O tratamento não só reduz a sonolência e o cansaço diurno, como diminui o risco de acidentes de viação, bem como o de doenças cardiovasculares.