António Nunes: da água e do fogo

António Nunes é o presidente eleito da Liga dos Bombeiros Portugueses

Lisboeta, filho de funcionários públicos, cresceu em Alcântara, bairro em que ainda hoje mantém amizades. Em miúdo queria ser polícia, engenheiro, juiz. E, claro, bombeiro. Ao fogo, que combate, junta a água, que o liberta. É patrão de alto mar.

Gosta de velejar. Tem carta de patrão de alto mar e um veleiro que o leva para fora de pé, navegador solitário ou em companhia de amigos. Gosta de ler, sobretudo revistas. Os livros são técnicos, versam as áreas a que está ligado há mais de 30 anos – da viação à ASAE, passando pela Proteção Civil. Gosta de desportos motorizados. Durante anos, andou de mota e teve várias. Agora, é dono de um Mercedes coupé, e de um Smart “para andar na cidade”. Admira mais a destreza do que a velocidade. Traço de personalidade, prefere a novidade do todo-o-terreno à monotonia dos circuitos de Fórmula 1.

Foi Rui Pereira quem o convidou para diretor-geral de Viação, corria o ano 2000. O então secretário de Estado da Administração Interna (mais tarde ministro) de António Guterres estava decidido a combater a sinistralidade, cujo balanço era trágico: dos anos 1980 e 90 herdara mais de 2500 mortes anuais. António Numes afigurou-se-lhe a pessoa certa. “Recordo-me que ele tinha um cargo de topo na Proteção Civil. Reconheci-lhe espírito prático e grande capacidade de ação”, sublinha o jurista.

O agora eleito presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses cumpriu os objetivos. “Tento fixar-me nas metas e na maneira de as atingir, sem distrações”, frisa. Gosta de trabalhar. Quase tanto quanto odeia favas, enguias, traição e deslealdade. “Quando me zango, nem queira saber. Não se ponham à frente.” Reage muito mal. “Reajo como um leão”, ilustra (esclarecendo desde logo que é do Belenenses, clube em que praticou karaté). Em adversidade, porém, comporta-se com “calma e tranquilamente”. Diz que dá a volta ao menos bom “aproveitando os ventos”, lição aprendida na vela.

Sucessor do ex-dirigente sportinguista e antigo autarca Jaime Marta Soares, figura propensa a mediatismo, pretende marcar o mandato com “uma mudança de estilo”: alterar “os procedimentos”, reduzir “as tensões”, promover “a humanização dos bombeiros” e a sua “identidade”, em proximidade com os “seus homens”. Mudança que “não é contra ninguém”, realça. Primeira atitude: “Abraçar o comandante dos Bombeiros Voluntários de Pedrógão Grande”, Augusto Arnaut, arguido no processo judicial em que se apura a responsabilidade nas operações de socorro, nos trágicos incêndios de 2017.

Lisboeta, filho de funcionários públicos, cresceu em Alcântara, bairro em que ainda hoje mantém amizades. “Tão antigas” que preferem não prestar depoimento. Rapazes que não puderam estudar: “Eu era uma exceção. Felizmente pude tirar um curso, embora tivesse começado a trabalhar muito cedo – oficial administrativo nas Forças Armadas -, porque havia grande preocupação com o meu futuro, agravada pelo facto de ser filho único de pais velhos”. Fez o liceu no D. João de Castro, “adolescente educado com muita disciplina, rigidez e sem luxos”. Naqueles anos – meados da década de 1950 -, a televisão a preto e branco era rara. A diversão passava pelos matraquilhos e pelo snooker. Já mais velho, por uma ida ao cinema, de vez em quando. Bailaricos animavam os fins de semana. “O que a gente dançava ‘Je t’aime moi non plus’”, de Serge Gainsbourg, na voz de Jane Birkin (1967).

Bom aluno a Geografia, História e Matemática, foi para Economia (ISEG) por acidente. Ao interesse pela economia política juntou um mestrado em Direito e Segurança, estando a preparar o doutoramento em Ciência Política.

Tem dois filhos, um rapaz e uma rapariga, com quem partilha o amor pelos quatro schnauzer: Bernardo, Niki, Hadji e Trinitá, todos de apelido Piruças.

Em miúdo, queria ser polícia, engenheiro, juiz. E, claro, bombeiro. Ao fogo, que combate, junta a água, que o liberta. Tem planeada uma aventura marítima há muito desejada: Lisboa-Açores-Madeira-Canárias-Algarve. Sozinho ou acompanhado, “logo se verá”. “No mar sinto-me completamente livre.”

António Manuel Marques Nunes
Cargo:
presidente eleito da Liga dos Bombeiros Portugueses
Nascimento: 10/08/1954 (67 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Lisboa)