O sonho de transformar tapeçaria em arte torna-se realidade na garagem de casa, em Famalicão, onde cria objetos para chão e parede com os tecidos da avó. Outros olhares, novas perspetivas.
No final de 2019, Ana Miguel Silva terminou o mestrado em Design Integrado, depois da licenciatura em Design de Produto, enviou currículos, foi a algumas entrevistas, nenhuma resposta. Entretanto, com a pandemia, juntou-se à mãe, Sílvia Gonçalves, ligada à decoração de interiores, para fazer máscaras reutilizáveis e, com as sobras, carteiras e almofadas. Fizeram uma limpeza aos armários.
Em agosto do ano passado, o namorado quis oferecer-lhe um tapete no aniversário. Pesquisa atrás de pesquisa, o que gostava era caro, e a pergunta acabou por surgir. “Porque não fazemos nós o tapete?” Dito e feito. A partir de então, Ana Miguel nunca mais parou de fazer tapetes à mão, seja através da sua linha com desenhos mais abstratos, seja à medida e gosto do cliente na vertente personalizada. As encomendas podem ser feitas na sua página de Instagram (amiguel_textil). É artesã de tapetes, ora decorativos para qualquer parede, ora utilitários para o chão. A sua ideia passa também por abrir horizontes. “Para que olhem para a tapeçaria com outros olhos.”
“O meu sonho era transformar a tapeçaria em arte”, revela. E é o que acontece. A garagem de casa, em Vila Nova de Famalicão, é o ateliê criativo onde encontrou tecido da avó Maria Bertila que encaixa na perfeição no que queria fazer, um pano tipo quadrilé, só que mais grosso e maleável. Pediu ao pai para construir um tear, onde estica o tecido, projeta os desenhos dos tapetes, traça linhas e contornos. Comprou lãs e encomendou uma máquina pesada, uma espécie de pistola, com a qual preenche com cores os espaços brancos. Uma máquina que aprendeu a domesticar para criar os seus tapetes fora da caixa com preços a partir dos 80 euros, dependendo do formato e da dificuldade do desenho.
“No fundo, são ideias transformadas em tapete”, resume. A inspiração para a conjugação de cores e alguns formatos vem do Memphis Design, grupo de designers e arquitetos de Milão. Na vertente de produto, o artista israelita Ron Arad, designer e arquiteto, tem sido uma referência.
Desde muito nova que Ana Miguel sentia que a arte fazia parte da sua vida, gostava imenso de desenhar. “Queria ser tudo e não me via a fazer sempre a mesma coisa.” Cresceu e nunca se viu a trabalhar num escritório, fechada oito horas, ou a ter um emprego para a vida toda. Ana Miguel tem 25 anos, uma mão cheia de sonhos, e uma ideia que não a larga. “Ter um espaço de arte onde qualquer pessoa possa frequentar workshops para fazer coisas com as próprias mãos, um espaço para todos, para todas as gerações.” O objetivo é claro: “Despertar dons. Todos temos um bocadinho de arte dentro de nós”.