Alfredo Casimiro: o teimoso

Alfredo Casimiro é presidente da Groundorce

“Empresário pouco fiável”, para uns, chegou ao fim dos seus dias na Groundforce. Hipercompetitivo, terra a terra e polémico, gosta de ler sagas familiares. Acompanhado pelo perdigueiro Bingo, caminha diariamente oito quilómetros.

“Um não é o princípio de um sim”, costuma dizer e, por isso, nunca desiste. “Insisto e insisto até atingir os objetivos a que me proponho, com muita resiliência e teimosia”, explica. Se uma das ambições fica pelo caminho – dá o exemplo da batalha perdida na privatização dos Correios de Portugal, projeto que “o teria catapultado para um patamar empresarial superior” -, fica largo tempo a pensar no que correu mal e porquê. Dececionado, tem “ataques de mau génio” iniciais. “Depois arrefeço e tento controlar o problema.”

Para o problema chamado Groundforce, com salários em atraso e trabalhadores em greve, não teve solução. Quarta-feira ainda se afirmava “presidente e maior acionista” da empresa de handling. Mas já então o tribunal declarara improcedente a providência cautelar que apresentara para travar a venda das ações da empresa pelo Montepio, que as penhorara por dívida do empresário. Alfredo Casimiro sabia-se prestes a chegar ao fim da linha.

Neste contexto, não é fácil encontrar quem queira depor sobre a personalidade do empresário. Em off, fontes ligadas ao processo que o colocou em colisão com o ministro da tutela, Pedro Nuno Santos, consideram “reveladores de pouca fiabilidade” dois episódios: “Deu a entender que podia dispor de ações da empresa quando as sabia penhoradas ao Montepio” e “considerou nulo um contrato celebrado com a TAP depois de ter recebido o dinheiro acordado”.

Alfredo Casimiro, que gravou e divulgou publicamente uma conversa com o ministro, levando Pedro Nuno Santos a agir judicialmente, não é apanhado de surpresa pelas críticas: “É sabido que choquei e choco com este Governo, em particular com o ministro das Infraestruturas. Porque nos foi negado uma ajuda estatal que a empresa merecia”. O “sentimento de frustração” não o impede de garantir: “Não me arrependo de ter entrado na empresa. Fi-lo quando estava destruída. Depois, passou a funcionar bem. Até que veio a covid e a ausência de apoios devidos”.

André Teives, líder do Sindicato dos Técnicos de Handling de Aeroportos (STHA), o mais representativo da classe, define o empresário como “uma pessoa terra a terra, até de fácil trato, que teve o seu mérito, mas que desde fevereiro tem-se mostrado muito obstinado e impulsivo, passando a fazer parte do problema e não da solução”.

Alfredo Casimiro tornou-se acionista maioritário da Groundforce em 2011, num processo desde logo contestado pela Comissão e Trabalhadores. Fernando Henriques, coordenador do Sitava – Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos, pertencia a essa comissão. “Percebemos na hora que o negócio não estava bem explicado.” Apesar da recuperação da empresa, a partir de fevereiro “virou os trabalhadores contra ele”, acrescenta.

Alfredo Casimiro, “apreciador da lealdade”, ainda mais neste contexto, cedo percebeu a importância de se cruzar com as pessoas certas e o esforço deu frutos, passando a fazer parte das comitivas empresarias que acompanhavam alguns ministros do Governo de Passos Coelho em viagens de Estado.

Aos 14 anos, aluno do curso de Rádio Montador da Casa Pia, António Alfredo escolheu o segundo nome: “Pareceu-me que tinha uma fonética mais interessante. Percebi que assinando Alfredo tinha uma vantagem competitiva. E eu sou hipercompetitivo”. Alfredo fora também nome de uma figura central na vida do empresário, o avô paterno, pequeno agricultor de Alenquer que vivia da venda de hortícolas, de quem herdou “a sensibilidade para os negócios”.

Quer agora, fora da Groundforce, continuar “o trabalho” na Urbanos, marca importante do setor da logística e do expresso, empresa que lhe deu fortuna, e com o projeto Novo Futuro, “uma pequena Casa Pia”, com cerca de 70 crianças e jovens.

Viaja acompanhado de jazz e de bossa nova. Gosta de caçar as perdizes que executa depois em várias receitas. Acompanhado pelo perdigueiro Bingo, caminha diariamente oito quilómetros. Lê e relê sagas familiares. Tem três filhas. lm

António Alfredo Duarte Casimiro
Cargo:
presidente da Groundorce
Nascimento: 23/07/1966 (55 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Lisboa)