Alexandre trabalhava num centro de dia antes de se dedicar ao Just For Fans

Os sonhos da geração anterior são sempre os instintos da geração que vem a seguir. Tornamo-nos naquilo que pensamos, melhor, naquilo que os nossos avós só puderam pensar sem alcançar. Por isso a masturbação é hoje uma ideia descomplexificada. É o que está a dizer Alexandre Claro, 40 anos, brasileiro há dois anos em Lisboa, e que daqui a cinco minutos se vai despir subitamente, e muito naturalmente, à frente da equipa de produção que naquela tarde foi a sua casa realizar um conteúdo que ele publicará na sua página Just For Fans, a plataforma gémea da outra, concorrencial. Mas antes ele quer mostrar um vídeo e uma fiada de fotografias.

a carregar vídeo

Imagem e edição de Sofia Marvão

Ele folheia as fotos no ecrã do tablet, está suspenso numa floresta fascinada, pendurado por tiras enlaçadas de celofane, uma ideia muito engenhosa, e o seu corpo pende nu de uma árvore alta balançante salgueiro-chorão. Fiapos de neblina entornam a imagem, há tufos vivos, ele olha cheio de sede, a floresta transpira realismo fabular, a pele coberta de sol, sem marca de calção. São as fotos de que gosta mais na sua página que supera 100 publicações – “mas estava um frio de zimbrar”, diz ele a rir, “e eu nu, estão a entender?”. No vídeo, muito estiloso, preto e branco “neo noir” limpo e contrastado, ele também está nu e começa em câmara lenta a masturbar-se. É o vídeo com mais saída que tem. E ele diz: “Graça a Deus eu nasci agora neste tempo, imagina se nascia no tempo dos meus avós!”, exclama num riso agudo de satisfação. “Sou uma pessoa na contramão do moralismo social. É onde gosto de estar.”

É um “escort boy”, faz encontros sexuais, devido ao seu biótipo, está entre o “daddy” e o jovial, e ainda há um ano trabalhava num centro de dia como auxiliar de ação de idosos. “E adorava, e era adorado, sou muito carinhoso, tenho jeito, é”, diz ele a afirmar a melancolia com a cabeça. “Mas depois veio a pandemia.” E a pandemia foi a sua emancipação. Mas só um bocadinho mais.

“Eu já tinha Twitter fetichista e exibicionista, no Instagram também, sempre gostei, sou um gajo da noite, das festas, gosto de rolar, mas depois percebi que podia monetizar”, isto é, transformar em dinheiro os seus nus, e entrou para o Just For Fans, onde se chama AlexClaroXXX. Entrou com tudo. “É, fui estratégico para ganhar logo fãs, apostei forte em eróticos e sensuais mas todos de conteúdo pornográfico. Vendo bem, mais vídeos do que fotos, as pessoas hoje gostam mais daquilo que é real, hoje é misterioso aquilo que é verdadeiro, é curioso isso, né? Hoje, com o excesso de informação e de imagens, é tanta a saturação que podemos perder a imaginação”, diz Alexandre muito certo, a devanear.

Somos todos mutantes, não somos sequer a mesma pessoa ao longo da vida, evoluímos da pele sobre a pele, somos outros múltiplos de nós. E Alexandre diz isto: “Sou um ex-hétero, há oito anos que sou homossexual. Já fui casado, duas vezes lá no Brasil, tenho um filho de 17 anos, mas desde que dormi com homem nunca mais me deitei com mulher”. Sustenta-se só com sexo, Alexandre, e vive bem na parte alta central da capital. Gosta muito de Portugal, sou ‘winter boy’”, diz ele, “fujo do sol”. Começa a tirar a camisola, revela-se uma frase gloriosa de Horácio que lhe enche o peito tatuado com a ode do gladiador imortal: “Nom Omnis Moriar”. Ele explica: “Não morrerei todo, não morrerei completamente, estou sempre pronto a renascer”. E depois põe-se então de repente todo nu e a produção vai começar.

Leia a reportagem completa aqui