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A tristeza que esmaga antes e depois do parto. As hormonas, os medos, a ansiedade

Fotos: Freepik

Convém estar atento a vários sinais

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A depressão é um distúrbio de humor que pode afetar as mulheres durante a gravidez e depois do nascimento do bebé. A história pessoal e a instabilidade a vários níveis são algumas das razões possíveis para este estado de alma.

Mulheres deprimidas durante a gravidez e depois do parto. É mais comum do que parece, ocorre com mais frequência do que se imagina. Durante a gravidez é depressão pré-parto, após a gravidez é depressão pós-parto. Depressão perinatal é o termo usado para designar o tempo antes e após o nascimento do bebé.

Estima-se que entre 10 e 20% das mulheres sofram de depressão após o parto. Estas percentagens variam e podem ser superiores quando se consideram outros fatores associados, como a pobreza ou a adolescência. “Para muitas mães, a experiência da gravidez e do parto pode ser acompanhada de tristeza, medo e ansiedade. Muitas mulheres nesta fase sentem dificuldade em encontrar energia para cuidar de si e dos outros, incluindo o seu bebé, o que pode ser sintoma de depressão”, adianta Clementina Almeida, psicóloga clínica especialista em bebés.

A gravidez é um turbilhão de emoções e de desafios pela frente na vida de uma mulher. Novas responsabilidades, pressão para ser uma boa mãe, algum sentimento de perda em relação à vida antes de estar grávida, alterações constantes no corpo. Tudo isso pode ser a combinação perfeita para uma depressão.

A saúde mental tende a não ser tão valorizada como a saúde física durante a gravidez

“Na verdade, a depressão perinatal é das complicações mais comuns da gravidez e é o transtorno de humor mais comum na população em geral. Muitas vezes, passa despercebida, pois alguns sintomas de depressão, incluindo alterações no sono, níveis mais baixos de energia geral, perda de apetite e diminuição da líbido, são também eles semelhantes aos sintomas da gravidez, ou seja, os sintomas muitas vezes são atribuídos à gravidez e não a uma depressão”, refere a psicóloga, também profissional das “Conversas com Barriguinhas” e fundadora da “ForBabiesBrain by Clementina.”

O corpo passa por diversas mudanças hormonais que alteram a química cerebral e podem causar depressão e ansiedade. “O aumento da produção de estrogénio e progesterona, que ocorre durante a gravidez, diminui rapidamente para níveis normais nas 24 horas após o parto, o que, por si, pode gerar os estados depressivos.” E a diminuição das hormonas da tiroide, que ajudam a regular a forma como o corpo utiliza a energia, complica a situação.

Há grávidas com maior probabilidade de depressão perinatal do que outras e há fatores de risco para desenvolver a patologia. A história pessoal de depressão ou outra doença mental da mãe é o principal fator. Há outros como um passado familiar de depressão ou outra doença mental, falta de apoio da família e amigos, o transtorno disfórico pré-menstrual, complicações na gravidez, parto ou amamentação.

Complicações na gravidez, no parto e na amamentação são fatores de risco para uma depressão neste momento tão especial da vida

Há outros aspetos a ter em consideração como a instabilidade financeira e conjugal, uma gravidez em idade jovem, uma mudança ou perda recente na vida, mães com vários filhos, mães que passaram por tratamentos de infertilidade, mulheres com desequilíbrio da tiroide, mulheres com qualquer forma de diabetes, transtornos por uso de substâncias.

Clementina Almeida chama a atenção para os sinais e sintomas de depressão perinatal. Um humor triste ou ansioso ou aquela sensação de vazio constante. Irritabilidade ou sentimento de inquietude. Sentimentos de culpa, inutilidade ou desamparo. Perda de interesse ou prazer em hobbies e atividades. Fadiga ou diminuição anormal de energia. Dificuldade de concentração, de memória ou na tomada de decisões.

“Se não receber ajuda, a depressão pode causar problemas para a mulher, mas também para o bebé”, refere Clementina Almeida, psicóloga clínica especialista em bebés

 

Há outros sinais. Dificuldades em dormir, mesmo quando o bebé dorme, acordar demasiado cedo ou ter necessidade de dormir demais. Alterações no apetite e no peso ou em ambos. Dores, dores de cabeça, cãibras ou problemas digestivos sem aparente causa física. Dificuldade em ligar-se ao bebé. Dúvidas constantes acerca da capacidade para cuidar do novo bebé. Pensamentos sobre a morte, o suicídio ou o causar dano a si mesma ou ao bebé.

“Estes sintomas não têm necessariamente que estar todos presentes, nem são comuns a todas as mulheres que sofrem de depressão perinatal. Estes estados depressivos são temporários e tratáveis com a ajuda de um profissional de saúde”, acrescenta. É importante procurar ajuda especializada de um psicólogo ou um médico. “Por outro lado, é também importante que, se possível, conversem acerca do que estão a sentir com familiares e amigos. Com o tratamento adequado, a maior parte das grávidas e recém-mamãs passa a sentir-se melhor.”

Depressão perinatal é a mesma coisa que “Baby Blues”? Clementina Almeida esclarece a dúvida. “O ‘baby blues’ é uma forma mais suave de depressão pós-parto que muitas mães experimentam. Geralmente, começa um a três dias após o nascimento e pode durar de dez dias a algumas semanas. No chamado ‘baby blues’, muitas mulheres experimentam alterações de humor muito frequentes e intensas – podem estar felizes agora e daqui a pouco cobertas em lágrimas”, explica a psicóloga clínica.