A psoríase, o sofrimento crónico, e o papel da família

A psoríase não tem cura, no entanto, um controlo e um acompanhamento correto podem ajudar a melhorar as dificuldades.

É uma doença inflamatória crónica, sem cura, que se manifesta sobretudo na pele. O impacto físico e psicológico é tremendo e quem está próximo é quem mais pode ajudar. A 15 de maio celebra-se o Dia Internacional da Família.

A psoríase é uma doença inflamatória crónica, considerada uma patologia sistémica, associada a múltiplas comorbilidades, incluindo cardiovasculares (diabetes, obesidade, hipertensão arterial e doença cardiovascular), articulares (artrite psoriática) e psicológicas (depressão e ansiedade). É como se a pele estivesse a descamar e manifesta-se sobretudo nos cotovelos, nos joelhos, na região lombo-sagrada e no couro cabeludo, associando-se frequentemente a prurido. É uma “erupção” complicada, mas não é contagiosa.

É uma patologia multifatorial com influência de vários fatores genéticos, ambientais e autoimunes. Embora seja desencadeada for fatores externos, como infeções, toma de medicamentos, lesões e stress, pode manifestar-se em vários membros da família, tendo uma base genética comum. E a família é essencial para ajudar quem padece da doença, estando perto, disponível, compreendendo e ajudando no que for necessário.

Estima-se que a psoríase afete cerca de 250 mil portugueses e 2 a 3% da população mundial

Segundo Tiago Torres, dermatologista, professor assistente do departamento de Dermatologia do Centro Hospitalar Universitário do Porto, do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, investigador do Instituto Médico de Estudos Imunológicos, no Porto, esta doença está associada a um grande impacto físico e psicológico e consequentemente à diminuição da qualidade de vida. O impacto da psoríase na qualidade de vida é, aliás, como sublinha, “superior ao de muitas outras patologias habitualmente consideradas mais graves, como o cancro, a diabetes ou a doença cardiovascular”.

“A psoríase não só se associa a uma diminuição da qualidade de vida e a uma maior mortalidade como também à diminuição da produtividade laboral e aumento da utilização dos sistemas de saúde, com consequente impacto económico e social”, realça.

O sofrimento crónico afeta cerca de 63,1% dos doentes com repercussões diretas na sua vida, limitações no acesso ao mercado de trabalho, discriminação nas escolas e no emprego, na própria gestão de tempo. “Adicionalmente, a psoríase tem ainda um grande impacto a nível familiar, à semelhança de outras doenças crónicas: acompanhamento a tratamentos, implicações em atividades de lazer, limitações na realização de atividades diárias e, na vida de casal, alterações a nível de intimidade. Uma adaptação que, muitas vezes, vai além dos recursos que a própria família dispõe.”

A psoríase implica alterações no seio familiar: encargos domésticos, acompanhamento a tratamentos, implicações na vida de casal

A psoríase não tem cura, no entanto, um controlo e um acompanhamento correto podem ajudar a melhorar as dificuldades no seio familiar e aliviar tanto o sofrimento do doente como o da família, nas formas mais graves da doença. “Felizmente, hoje em dia, estão disponíveis várias terapêuticas muito eficazes, capazes de resolver por completo ou quase por completo as lesões de psoríase, devolvendo ao doente e à sua família a qualidade a vida perdida com a doença”, adianta Tiago Torres.

Apesar de surgir em qualquer fase da vida, a psoríase é mais frequente entre os 20 e os 30 e os 50 e 60 anos. “Clinicamente, manifesta-se por placas eritemato-descamativas”, explica o dermatologista. Há vários subtipos: a psoríase crónica em placas, a psoríase guttata, a psoríase pustulosa, a psoríase eritrodérmica e a psoríase inversa.

Cerca de 30% dos doentes desenvolvem uma forma de espondiloartropatia, denominada de artrite psoriática

“A psoríase crónica em placas representa cerca de 70% dos casos e caracteriza-se por pápulas ou placas eritematosas recobertas por descamação prateada, que se localizam essencialmente nos cotovelos, joelhos, região lombo-sagrada e couro cabeludo. Apesar desta distribuição clássica, as lesões podem estar localizadas às pregas, ao nível das axilas, virilhas, períneo, região peitoral e umbilical, denominando-se de psoríase inversa”, adianta Tiago Torres.

A psoríase guttata é uma variante comum nas crianças e pode ser a primeira manifestação da doença, em que cerca de 2/3 dos doentes têm uma história de infeção do trato respiratório superior, uma a três semanas antes do aparecimento da erupção. Segundo o médico, “caracteriza-se ainda pelo aparecimento de lesões arredondadas ou ovaladas, de dois milímetros a um centímetro de diâmetro, distribuídas de forma simétrica pelo tronco e extremidades”. A psoríase pustulosa e a psoríase eritrodérmica, que envolvem mais de 90% da superfície corporal, são formas menos comuns, mas graves, que normalmente necessitam de internamento hospitalar.