A nostalgia da fotografia analógica

O dono da Câmaras e Companhia, no Porto, destaca o ressurgimento da fotografia analógica nos últimos anos

Tal como o vinil ou a rádio, a fotografia analógica foi sentenciada a uma morte anunciada. Mas o filme voltou a estar na moda e as marcas até estão a fazer novos lançamentos ou reedições.

Abrir o compartimento do rolo e colocá-lo. Click! Ligar a máquina. Ponderar o ângulo, a luz e o enquadramento. Carregar no obturador, grande e barulhento. Puxar a alavanca e apreciar o som do filme a avançar. O resultado só está disponível após um complexo processo de revelação. Segundo os amantes da fotografia, trabalhar com analógico vai muito para lá da imagem. “Na fotografia digital não há movimento ou som, mas com o filme temos uma experiência sensorial completa”, relata João Gonçalves.

O jovem bracarense aproveitou o confinamento para lançar um projeto que já andava há muito no papel. Depois de anos a acompanhar o panorama estrangeiro de redes sociais dedicadas à fotografia analógica, e perante a falta de oferta em Portugal, criou o Holograin, uma página de Instagram e um canal de YouTube, onde partilha a sua paixão por fotografar com filme. Tem tutorais, dicas e revisão de produtos.

João não é caso único. O dono da Câmaras e Companhia, no Porto, destaca o ressurgimento da fotografia analógica nos últimos anos. No verão de 2020, a loja voltou a ter uma média de “20 filmes por dia” para revelar, bastante mais do que antes de 2019. Raul Sá Dantas salienta a curiosidade de a média de idades dos seus clientes de analógica rondar os 25 anos. “São pessoas jovens que já nasceram a ser fotografadas em digital” e, por isso, acredita que o crescimento do método analógico e deve ao que chama “nostalgia emprestada” de pais e avós. “A maioria dos clientes descobriu o analógico porque encontrou uma câmara em casa.”

“Com as câmaras digitais há uma certa falta de memórias”, lamenta João Gonçalves, “mas fotografando com película há sempre a prova física”. Raul Dantas distingue os dois métodos pelas características. “Não há melhor ou pior, mas a analógica é diferente porque tem o grão, o preto e branco especial, as imperfeições e os defeitos.”O proprietário da loja portuense conta que muitos clientes procuram na analógica “uma aleatoriedade que não há no digital”.

Raul Dantas crê que a fotografia analógica não voltará ao “mainstream”, mas sublinha que também não tem uma sentença de morte, como muitos anunciam, pois, “ainda há muito por onde crescer”. Depois de anos a abandonar a fotografia analógica, as principais marcas voltaram a apostar no método, com novos produtos ou relançamentos. O problema é a inflação que o mercado sofreu. “Pode afastar algum público novo pelos preços”, sentencia João Gonçalves.

Para quem quer entrar no mundo da fotografia analógica, o conselho do jovem fotógrafo é “procurar com avós, pais e tios por câmaras analógicas antigas”. Depois é seguir à base “da experimentação e da diversão”. A recomendação de Raul Dantas para os iniciantes é começar com uma “point and shoot”, máquinas mais simples e automatizadas, “para ver se acham mesmo graça” antes de fazer investimentos maiores.

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