Jorge Manuel Lopes

A lenda dos outros Nirvana

Jorge Manuel Lopes, editor-adjunto da Cultura do Jornal de Notícias (Foto: Artur Machado/Global Imagens)

Escolhas musicais de Jorge Manuel Lopes.

Quando o grunge e os Nirvana explodiram no início da década de 1990, lia-se em jornais e revistas sobre a existência de uma banda britânica com o mesmo nome que atravessara parte dos anos 1960 e 1970 sem deixar especial marca. É certo que compilações dos primeiros Nirvana começaram a brotar logo na senda do êxito de “Smells like teen spirit”, do trio liderado por Kurt Cobain, mas só com a propagação da música online já neste século é que a sua obra ficou à mão de semear – e não, não há forma de confundir o som das duas bandas.

Os Nirvana nasceram em Londres em 1965. No epicentro, uma dupla de compositores e músicos que chegaram à capital britânica vindos da República da Irlanda (Patrick Campbell-Lyons) e da Grécia (Alex Spyropoulos). Assinaram contrato com a Island e foi o patrão da editora, Chris Blackwell, que produziu os dois álbuns ali lançados: a obra conceptual “The story of Simon Simopath”, em 1967, e um ano depois “The existence of chance is everything and nothing whilst the greatest achievement is the living of life and so say ALL OF US”, em que reside o single que mais fez por arrancar o grupo do anonimato, “Rainbow chaser”, num registo psicadélico mais leve do que a generalidade do seu repertório. Sem impacto comercial de relevo, a dupla ainda lança “Dedicated to Markos III” em 1970, separando-se um ano depois. Por conta própria, Campbell-Lyons prolongou a vida dos Nirvana por mais um par de álbuns, “Local anaesthetic” (1971) e “Songs of love and praise” (1972). Todas as décadas subsequentes tiveram direito a pelo menos uma compilação e punhados de raridades do grupo, e 2021 já tem para apresentar “Songlife 1967-1972”, caixa com seis álbuns em vinil que junta à mão cheia de registos originais o disco “Secrets”, com material para um musical que não chegou a tomar forma.

Se na base a pop dos Nirvana ainda seguia pelo trilho melódico dos Beatles, o pendor orquestral empurra-os mais para os lados dos Moody Blues, mais qualquer coisa de Procol Harum ou Manfred Mann. São canções adultas, espreitando o movimento progressivo, adquirindo formas mais soltas e ambiciosas com o correr do tempo.