Apesar de afetar 2% da população, a psoríase ainda é alvo de desinformação e mitos. O Dia Mundial da Psoríase tem a função de lembrar que esta doença não é contagiosa e que os tratamentos avançados permitem uma vida normal.
Manchas na pele, avermelhadas e com relevo. Escamas que se agarram a tudo. Comichão e até dor, mas, principalmente, desconforto físico e psicológico. Viver com psoríase vai muito para lá das marcas visíveis, chamadas placas, afetando toda a vida do doente. O Dia Mundial da Psoríase assinala-se a 29 de outubro e é marcado por querer quebrar preconceitos e desinformação.
Pedro Mendes Bastos afirma que “ninguém tem de sofrer com psoríase”. O médico dermatologista destaca os avanços nos tratamentos, que permitem um controlo significativo dos sintomas. “Mesmo os casos mais graves conseguem esquecer que têm psoríase e fazem uma vida praticamente normal.”
Nas situações mais ligeiras, o tratamento passa, na maioria das vezes, por produtos tópicos. Já em formas mais moderadas a graves é necessário, para além dos cuidados da pele, medicação sistémica, como comprimidos, injeções ou fototerapia. Há várias opções de tratamento, que devem ser adaptadas caso a caso à vida do doente, lembra o médico e investigador.
A psoríase é uma doença imunomediada, ou seja, que resulta de um erro do sistema imunitário. “Manifesta-se fundamentalmente na pele, mas tem outras expressões.” Pedro Mendes Bastos explica que uma das consequências a reter é o desconforto psicossocial, com os doentes com esta condição a terem maior probabilidade de depressão e ansiedade. “O público em geral não gosta de ver doenças de pele, que são olhadas e questionadas. O que leva os pacientes a esconderem-se.” Apesar de a psoríase não ser contagiosa, o médico salienta as dificuldades na vida pessoal, sexual e até profissional, devido ao estigma social.
Nos casos moderados a graves de psoríase, a doença implica já uma inflamação sistémica. Ou seja, “a disfunção do sistema imunitário e as placas de psoríase produzem químicos que estão no organismo e causam inflamação.” Por consequência podem ainda surgir complicações de artrite psoriática ou cardiovasculares, como o aumento do risco de enfarte e AVC.
Sabe-se que a psoríase resulta de um erro no sistema imunitário, mas as causas para a desencadear são ainda uma incógnita. O dermatologista aponta fatores genéticos ou ambientais – infeções, stress ou efeito medicamentoso, por exemplo – como algumas das possibilidades já levantadas.
É uma doença sem idade. Pode afetar qualquer faixa etária, mas Pedro Mendes Bastos indica dois picos para o aparecimento dos primeiros sinais: a casa dos 20 e dos 50 anos de idade. Por isso, reforça, “afeta as pessoas quando estão na fase mais ativa da vida”, exacerbando as consequências.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, a psoríase atinge cerca de 2% da população. Em Portugal, estima-se que sejam perto de 200 mil os pacientes, mas nem todos com o acompanhamento necessário. Para Pedro Mendes Bastos, esse é o principal desafio. “A maior dificuldade é entre o diagnóstico e o tratamento. Podem já saber da doença, mas não chegam a ser tratados eficazmente.”
O especialista em dermatologia e venereolgia assinala o papel fundamental e autónomo dos médicos de família para o diagnóstico da psoríase. No entanto, refere que, quando se tratam de casos mais graves, há ainda situações de “sub-tratamento”, pois muitos doentes não chegam a ser vistos por um especialista. “A grande questão é ultrapassar o estigma e ter acesso a um dermatologista”, que pode ser dificultado por tempos de espera no serviço público ou por desconhecimento e desvalorização da doença por parte do paciente. Apesar de ainda não haver cura, o médico destaca a importância, segurança e eficácia dos tratamentos.
Apontando para o futuro, o dermatologista acredita que o conhecimento científico da doença “vive dias fantásticos”. Pedro Mendes Bastos espera que os próximos avanços alcancem o “silenciar permanente” da doença e impeçam precocemente as comorbidades associadas à psoríase.