Voltar à terra: a saudade não se contraria

João Magalhães e Andreia Valente lamentam a quebra na faturação. A rulote de farturas estará a ter mais de 50% de prejuízo (Foto: Miguel Pereira/Global Imagens)

Há os que vêm e os que ficam. Os que se fazem à estrada e os que têm medo. A pandemia trocou as voltas aos emigrantes. Menos viagens, festas canceladas, praças e comércios com pouca gente, famílias desencontradas. Este querido mês de agosto tem um travo amargo.

Alberto Coelho estava a dar em doido. Dois meses confinado em casa, na periferia de Paris, oficina de reparação de calçado fechada, a consumição de não poder ver os netos, ali tão perto e tão longe, tirou toda a relva do quintal para plantar tomates e alfaces. A saudade explodia-lhe no peito. Nunca como antes. Em março, a pandemia estragou-lhe os planos. Era o aniversário da irmã em Portugal, festa surpresa combinada em segredo, tudo anulado por causa das circunstâncias, aviões em terra, fronteiras fechadas, o mundo a reagir a um vírus. Há três semanas aterrou no Porto, o cunhado foi buscá-lo ao aeroporto, pouco depois estava na terra natal, na Póvoa de Lanhoso. “Tinha de vir, não podia ser de outra maneira, estava a ficar maluco, preso em casa. Este ano foi o ano em que senti mesmo saudades de voltar a Portugal”, conta. As saudades remoíam-lhe as entranhas. Mais intensas e mais pesadas, elevadas ao expoente máximo se houvesse um aparelho para as medir. A mulher, a filha, o genro e os dois netos chegaram no dia 2 de agosto, a outra filha no dia 10. Não vê a hora de ter a família junto de si na terra que o viu nascer. São 38 anos de emigrante em França, 57 de vida. Há uma semana andava a trabalhar os campos dos pais, agora é mais descanso e aproveitar o tempo até voltar a França. Há pormenores que não lhe escapam. “Veem-se poucos carros suíços, este ano vai haver menos emigrantes, toda esta situação não vai ajudar a economia portuguesa”, observa.

Casimiro Pereira e Elvira Pereira chegaram à Póvoa de Lanhoso há pouco mais de um mês. Moram a 60 quilómetros de Paris, apanharam um avião em Orly “mais do que cheio”, mediram a temperatura, preencheram um inquérito, aterraram no Porto, apanharam um táxi, respiraram o ar que tão bem conhecem. Em França, ficaram as três filhas, os nove netos, uma bisneta, todos nascidos lá. Este ano, ao contrário do habitual, nenhum vem à Póvoa de Lanhoso. É a pandemia e o medo. Há dias, Elvira recebeu um telefonema da neta morenita de 19 anos, pediu-lhe para contar como estava a Póvoa e, pelo meio, disse-lhe que não compreendia por que não podia ir de férias a Portugal. Elvira ficou com o coração pequenino. Sente tanta falta dos abraços e beijos que se emociona com essa ausência de afeto imposta pela pandemia, responsável por um agosto com a família dividida. “Quem for de muito carinho é muito complicado. Sinto mesmo saudades de não ter alguém para dar um abraço, um beijo”, desabafa.

Casimiro Pereira e Elvira Pereira são emigrantes em França e moram a 60 quilómetros de Paris
(Foto: Miguel Pereira/Global Imagens)

Casimiro é mais pragmático nestas questões e anda um pouco assustado. “Isto é muito perigoso e não fazem cuidadinho nenhum.” Praticamente não sai de casa. Há quase 50 anos que estão em França, agora, na reforma, vêm mais amiúde. Casaram-se em 1971. Ele tinha 29, ela 21, ela trabalhava nos campos, ele já estava emigrado em França, levou-a consigo. Ela fez limpezas, ele trabalhou numa fábrica de motores, foi motorista, fez biscates. Todos os anos, vêm à terra mais do que uma vez.

Do alto do castelo, vê-se a vila, o Gerês ao longe. Elvira aponta as diferenças. “A nossa Póvoa é muito bonita, está sempre cheia, as pessoas vêm muito, e foi bonita a festa no ano passado, não cabia mais gente na praça. Agora não há nada, está muito vazia para o costume, está muito mal para o comércio.”

Paulina de Oliveira, Jean Marc, o marido, e Adrien, o filho mais novo, vieram de Paris de carro, uma chatice num posto de combustível em Espanha por causa do põe e tira máscara, tudo tranquilo na fronteira em Chaves, mais uma hora de viagem até casa em Travassós, Fafe. Os pais já cá estavam, deixaram Paris no início de julho. Paulina nasceu cá, tinha oito anos quando os pais a levaram para França. Trabalha em seguros de saúde, não parou, esteve em teletrabalho, voltou à companhia, entrou de férias, regressou ao país. “A atração por Portugal é mais forte. Gosto muito do mês de agosto em Portugal.”

Paulina de Oliveira, Jean Marc, o marido, e Adrien, o filho mais novo, são emigrantes em Paris
(Foto: Miguel Pereira/Global Imagens)

Chegaram num domingo e no dia seguinte deram um passeio pela barragem da Queimadela, praia fluvial, passadiços que ligam pedaços de areia, bancos e mesas à sombra de árvores, sol, calor, gente esticada em toalhas. “Portugal é pequeno e tem tanto para ver, para descobrir.” Os planos estão mais ou menos traçados. Uma semana com os pais, duas semanas mais para sul, Alcobaça e Tomar andam debaixo de olho. Antes disso, chegará a filha que vem dos Estados Unidos e dois filhos de França, um de avião, outro de carro. A família toda reunida em Portugal. “O que me preocupava era que não nos deixassem vir e que as fronteiras fechassem”, suspira. De qualquer forma, acreditava que seria possível voltar respeitando as regras de segurança e de saúde. Assim foi e assim será no regresso marcado para dia 17. Paulina sabe que este agosto tem um travo diferente. “Sabia que não ia ser igual, que não iam ser as mesmas férias.” Seja como for, o seu coração bate forte sempre que vê placas com o nome do seu país na autoestrada a anunciar que mais uns quilómetros e finalmente estará na sua terra.

Sem todos não são férias

A família Ferreira chegou a Fafe às pinguinhas. Primeiro veio José Ferreira, o patriarca, 67 anos, há 30 em França, reformado do trabalho na construção civil a assentar tijoleira e azulejos. Depois a mulher, Fátima, 60 anos, doméstica, com os quatro netos, de avião. Há poucas semanas, chegou Frederico, o filho do meio, de carro. Há dias, chegaram Natalie, a filha mais velha, e Nelson, o mais novo. A família mora toda perto, nos arredores de Paris, a 40 quilómetros de Versalhes. “Se não estamos todos não são férias”, resume Frederico, engenheiro da indústria automóvel numa empresa com 14 mil trabalhadores, em teletrabalho desde março. A viagem pela estrada decorreu sem sobressaltos, pouco trânsito, cruzou-se com algumas matrículas inglesas.

Fátima meteu-se no avião com os quatro netos. “O avião vinha cheiinho, mediram a febre, todos com máscara, todos bem protegidos. Foi tranquilo, mas não foi como o costume, preenchemos uma ficha no avião para darmos ao Governo.” A família, bastante unida, não podia passar um verão sem estar junta na terra do pai, ver o avô de 90 anos, dar mergulhos na piscina, fazer assados e grelhados, comer a vitela à moda de Fafe. Fátima confessa: “Já tinha muitas saudades”. “Era impossível estar lá mais tempo, era triste não nos vermos uns aos outros”, acrescenta Frederico, que não esconde o orgulho da maneira como Portugal lidou e tem lidado com a pandemia – as medidas, o confinamento, a gestão das máscaras.

Fátima e José Ferreira são emigrantes em França, tal como os filhos
(Foto: Miguel Pereira/Global Imagens)

As férias são mais por casa, menos idas ao café, compras mais pensadas e planeadas, sol e piscina, muito convívio. A cidade está diferente. “Este ano, está menos gente do que o costume”, diz José. Fátima concorda. “O ambiente de festa não está cá.”

Márcia Gonçalves está há 18 anos na Suíça, trabalha numa empresa alimentar, chegou há duas semanas a Vieira do Minho com o cunhado Jonathan Henrique, e mais família. Nunca parou de trabalhar, a pandemia mostrou-lhe um Mundo estranho, de máscaras na cara. “Estivemos na dúvida em vir devido à doença”, admite. Lá, na Suíça, sempre atentos às notícias, à abertura de fronteiras, aos países de risco. A família acabou por se meter no carro e fazer-se à estrada. “Portugal não estava na lista dos países de risco, tivemos sorte, viemos.” As saudades da mãe, dos tios e sobrinhos eram mais do que muitas. Márcia deverá regressar dentro de uma semana. Até lá, são dias de rio, de praia, a matar saudades da família.

À segunda é dia de feira em Vieira do Minho, há movimento na estrada, poucos lugares para estacionar, gente que contorna a praça a pé, vai pelas traseiras da câmara, desce escadas. Lá em baixo, bancas e tendas com legumes, frutas, roupas, plantas, cestos de palha, de tudo um pouco. Deolinda Fernandes, de Vila Verde, anda de feira em feira a vender doces e broas com chouriço, uvas e nozes. Vieira do Minho às segundas, Prado às terças, Arcos às quartas, Barcelos às quintas, Guimarães às sextas. “Sabe como é, está tudo muito parado, penso que ainda virão mais alguns emigrantes.” O prejuízo será de monta pelas suas contas de cabeça, a receita não chegará nem a metade do que era costume. “Temos de fazer como as galinhas, esgravatar, se não esgravatamos, não sai nada.”

Márcia Gonçalves chegou há duas semanas a Vieira do Minho com o cunhado Jonathan Henrique, e mais família
(Foto: Miguel Pereira/Global Imagens)

Ali perto, Carlos Barbosa vende fumeiro tradicional, chouriços, presuntos, torresmos, azeite, queijos, mel. Também se queixa do negócio. “Há muito menos gente, há muito menos emigrantes, está muito fraco, quebras de 90% ou mais”, constata. Haverá mais emigrantes em agosto? “Esperemos que sim, se não vêm então é que estamos bem perdidos.”

Gerir os dias, pensamento positivo

As estimativas indicam que apenas metade dos emigrantes virá a Portugal nestas férias de verão. Nas primeiras três semanas de julho, contaram-se cerca de 40 mil carros com matrícula estrangeira em Vilar Formoso, o que significa uma quebra a rondar os 40% em comparação com o ano passado. Este fim de semana, o primeiro de agosto, é o que marca o regresso da maior parte dos emigrantes e todas as dúvidas serão desfeitas.

Não muito longe do centro da Póvoa de Lanhoso, Daniel Trancoso prepara mais um dia no seu restaurante, “O Trancoso”, de cozinha tradicional portuguesa. O cabrito, a vitela e o polvo à lagareiro em forno a lenha são especialidades da casa. São quase 11 horas da manhã, a lenha já arde, os fornos a postos, Daniel prepara a grelha para assar frangos. Notou mais movimento no último fim de semana, mais emigrantes, o take-away é um hábito que veio para ficar, parece-lhe. Mesmo assim, o negócio quebrou. É tudo junto: os efeitos da pandemia, menos festas, menos emigrantes na vila. “Temos uma redução de 60%, principalmente durante a semana, que é quando se nota mais.” De 130 diárias passou para 50 ou 60, comprava cinco quilos de café todas as semanas e passou a comprá-los de 15 em 15 dias. Os emigrantes são sempre uma ajuda para o negócio no tempo de verão. Daniel mete os frangos a assar, verifica as assadeiras no forno a lenha, não pára. “Temos de ter pensamento positivo e gerir bem os dias.”

A praça no centro da vila tem estado mais vazia, as ruas ao redor não serão fechadas para a Festa do Emigrante, a 15 de agosto, como de costume. No ano passado, houve folclore, animação, produtos regionais, bolo com sardinha, bola de carne, e José Figueiras. Paulo Silva, presidente da Junta da Póvoa de Lanhoso, espera pelo início de setembro para perceber o impacto de menos emigrantes, mas nota que a restauração está a sofrer. “Vivemos muito de festa e este ano foi tudo por água abaixo. Os emigrantes vêm assustados, muitos nem vêm, e vêm com menos capital.” De qualquer forma, o autarca garante que a vila não quer deixar cair as tradições e, por isso, uma carrinha circula pelas ruas com música e animação ao fim de semana. Mas não é a mesma coisa.

Deolinda Fernandes anda de feira em feira a vender doces e broas, mas o negócio está “muito parado”
(Foto: Miguel Pereira/Global Imagens)

Vieira do Minho também é terra de emigrantes, todos os anos, em agosto, a Festa do Emigrante enche a praça da vila durante uma semana com noites temáticas no programa, festival de folclore, para homenagear os vieirenses que regressam para visitar família, amigos, desfrutar de férias juntos dos seus. A câmara assume a festa como um momento de convívio, confraternização, reencontro. Este ano, não há festa, não há palco montado, a praça continua a ser ponto de encontro, repuxos de água a funcionar, música ambiente.

O último espetáculo da Sociedade Filarmónica de Vieira do Minho foi em janeiro, desde então cancelaram-lhe 28 concertos. A banda com 55 elementos é presença assídua na Festa do Emigrante da vila, é acarinhada pelos emigrantes ao vivo e a cores e no feedback às publicações no Facebook, nos comentários dos filhos da terra espalhados por vários países.

“A vila tem menos gente. Em anos anteriores, nesta altura, já se sentia mais azáfama, mais carros de matrículas estrangeiras nas estradas”, nota Hélder Ribeiro, o maestro da banda. Mesmo que chegue mais gente, nunca será como em anos anteriores. Tem reservas quanto ao futuro. “Olho para isto tudo com bastante receio.”

António Cardoso, presidente da Câmara de Vieira do Minho, gosta de ter os emigrantes no verão, mas percebe o receio das viagens, as quarentenas no regresso, as informações que se atualizam dia a dia, as dúvidas hora a hora. Ainda é tudo incerto, a redução do número de emigrantes poderá chegar aos 40%, as atividades programadas para a comunidade foram suspensas, como tudo o resto. “Tem algum impacto, mas não muito.” Na perspetiva do autarca, o impacto social será maior do que o económico, 5 a 10% na quebra de receita no comércio local, restauração sobretudo. Este ano, verifica, o turismo está em força em Vieira do Minho e a balança equilibra-se. Menos emigrantes, mais turistas, negócios a bulir. “O aumento da capacidade instalada e turística é compensado pelo aumento de turistas em Vieira do Minho, com oferta variada e muita procura”. Uma procura que, pelos seus cálculos, chegará aos 20%.

Farturas, churros, vinho branco

Está calor em Fafe, as esplanadas estão com gente, festas e romarias foram canceladas, Festa do Emigrante inclusive. Andreia Valente e João Magalhães estacionam a rulote de farturas no centro da cidade, andavam de festa em festa pela região, agora o plano é estar nos mesmos sítios, só que sem arraiais e sem romarias, na esperança de continuar a vender farturas, churros, bebidas, vinho branco, café. Não tem sido bem assim. Este ano, não tiveram autorização para montar a esplanada, o negócio não vai muito bem para a J. Magalhães que se veste com as cores de Portugal, bandeiras do país e guarda-roupa a condizer, t-shirts vermelhas com beira verde nas mangas, avental verde com rebordo vermelho.

Andreia fala em quebra de mais de metade, mais de 50% de prejuízo. “Este ano, vai-se indo, vai dando para o dia a dia, mas nada como a gente esperava, não tem nada a ver com os anos anteriores”, confidencia. “Há emigrantes, mas não tanto como de costume, a cidade está muito parada. Há emigrantes que têm medo de vir de férias, mas os que têm possibilidades de vir, vêm na mesma.”

A Festa do Emigrante de Fafe do ano passado foi a 9 de agosto com um jantar no parque da cidade, vitela assada à moda de Fafe na ementa, e um concerto a fechar a noite. Este ano, a festa de boas-vindas aos emigrantes estava planeada, mas nada tinha sido contratualizado. É uma terra de emigrantes, sobretudo para o Brasil na segunda metade do século XIX, e para França, Alemanha, Suíça e Luxemburgo na década de 1960. Tem o Museu da Emigração e das Comunidades na Casa da Cultura e numa plataforma virtual. Mesmo sem festa, há animação na praça ao fim de semana.

Alberto Coelho, emigrante em França há 38 anos, estava ansioso por voltar à Póvoa de Lanhoso, depois de dois meses confinado em casa, nos arredores de Paris
(Foto: Miguel Pereira/Global Imagens)

O Município sofre com o impacto da covid-19 e com menos emigrantes. Raúl Cunha, presidente da Câmara de Fafe, sabe que assim é. “Fafe é um dos concelhos em que se nota a diferença de julho e agosto para os outros meses, a população quase duplica, há dificuldade em estacionar, em circular.” Este ano, não está assim. O trânsito está mais calmo.

O Governo não quantifica o número de emigrantes que todos os anos passam férias no país, mas admite que é uma realidade que lhe interessa medir. O portal do Governo e das Comunidades Portuguesas tem um folheto com conselhos para as viagens dos emigrantes, atualizado sempre que se justifique. A cada nova decisão é feito mais um ajuste. Há conselhos para a deslocação a Portugal, informações para as viagens por via aérea, via terrestre, via marítima e ferroviária.

“Muitos emigrantes não virão por causa do medo e por informações que estão sempre a mudar por decisões unilaterais dos governos”, assinala Berta Nunes, secretária de Estado das Comunidades Portuguesas, que critica a descoordenação que está a criar problemas à vida das pessoas, económicos e sociais. Na opinião da governante, é necessário menos confusão e mais solidariedade. “Era possível articular melhor as posições e tomar as medidas necessárias e suficientes nas devidas proporções.”

No entender de Berta Nunes, o mais importante para os emigrantes não são as festas populares, canceladas devido à pandemia, até porque há aldeias, vilas e cidades que arranjam formas de adaptar atividades e refazer programas para homenagear os filhos que partiram e regressam. “O mais importante é visitar as famílias e ver os amigos.” No entanto, este ano é diferente. Há o impacto social para quem não vem e para quem cá está, os desencontros forçados. E há o impacto económico, das quebras de consumo no comércio local, das compras que não são feitas, que será negativo para muitas regiões portuguesas. “Os emigrantes são importantes de muitas formas e esta é mais uma delas.”

Este ano, o Minho está mais deserto de emigrantes e o Turismo do Porto e Norte de Portugal anunciou que vai avançar com campanhas promocionais para convidar os portugueses que vivem no estrangeiro a virem passar férias na região. É uma forma de combater a crise no setor turístico causada pela pandemia e de, pelo lado mais emocional, juntar famílias separadas durante o ano. Seja como for, este querido mês de agosto tem um sabor menos doce. De norte a sul de Portugal.