Os ventiladores são primordiais nestes tempos negros em que a Covid-19 modificou os dias. Ajudam a salvar doentes, dando-lhes o suporte que o corpo recusa.
Inspirar e expirar. Dois verbos essenciais ao corpo humano, que os pulmões transformam em movimento natural quando funcionam de forma perfeita. Mas quando um elemento nocivo como um vírus impede que as funções naturais se desenvolvam, entra em campo um aparelho vital que permite retomar o que foi interrompido e salvar o que parecia perdido: o ventilador, autêntica máquina salvadora que faz respirar quem perdeu momentaneamente a capacidade de o fazer.
Utilizados sempre que uma anestesia geral é administrada num paciente ou em doentes internados em unidades de Cuidados Intensivos, os ventiladores controlam o volume de ar que circula nas vias pulmonares e os movimentos respiratórios. São precisos no detalhe, podem ser adaptados a cada situação, consoante a gravidade da pessoa em risco e têm a particularidade de ir fornecendo em tempo real todas as indicações sobre o estado respiratório.
Resumindo, graças à tecnologia, os ventiladores permitem manter vital o que seria praticamente impossível ao corpo humano fazê-lo. Como? Controlando a pressão e o tempo do fluxo de inspiração de ar e impedindo que a expelição não seja exagerada nem escassa. Respirando por quem já não o consegue fazer, portanto.
Apesar de reduzidos, os riscos de doenças associadas ao uso de ventilador também existem. Nomeadamente, o desenvolvimento de casos de pneumotórax ou de lesões nos delicados alvéolos pulmonares.
O pai da ventilação mecânica, no século XVI, foi Andreas Vesalius, médico nascido na atual Bélgica, a quem foram atribuídos os primeiros estudos aprofundados sobre a anatomia humana e que desenhou os princípios mecânicos de um aparelho que poderia permitir auxiliar a manter artificialmente as operações vitais do corpo humano. A partir desses estudos, outros clínicos desenvolveram a ideia.
Foi preciso esperar até à primeira metade do século XX para que surgisse um ventilador capaz, de forma segura, de assegurar as funções originais para o qual foi pensado. Em 1928, nos Estados Unidos, era dada a conhecer uma máquina revolucionária que assegurava por via mecânica a respiração de um ser humano. Ficou conhecida como Iron Lung (Pulmão de Ferro) e tornou-se preciosa numa altura em que doenças como a tuberculose ou poliomielite eram bastante frequentes. Hoje olhado como rudimentar, o Iron Lung foi a base de um processo que a tecnologia computorizada veio ajudar a desenvolver, sobretudo a partir da década de 1980. Os ventiladores tornaram-se mais pequenos, mais eficazes e mais seguros. Tornaram-se mais vida, quantas mais vidas ajudaram a salvar.
Made in Portugal
Quando em março a pandemia de Covid-19 começou a grassar no país, existiam pouco mais do que mil ventiladores nos hospitais públicos e privados. Apesar de então ter garantido não haver “nenhuma carência”, o primeiro-ministro, António Costa, abriu portas à aquisição de mais equipamentos.” Na semana passada semana, António Lacerda Sales, secretário de Estado da Saúde, anunciou que Portugal recebeu 500 novos ventiladores e que “depois da Páscoa vão chegar outros tantos”.
A nível privado e científico, a produção começou também a ser reforçada. Uma parceria entre o Centro de Engenharia e Desenvolvimento (CEiiA), com sede em Matosinhos, e várias empresas do ramo industrial vai resultar brevemente no lançamento de mais 100 ventiladores, os primeiros exclusivamente fabricados em Portugal. Também o Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas, de Coimbra, criou em tempo recorde máquinas idênticas. E outras empresas nacionais estudam seguir o mesmo caminho.