Usar ou não usar sutiã? Eis a questão

Não há uma regra formal instituída e a ciência não obriga. Tudo depende do conforto e do suporte que cada mulher quer e precisa. Seja como for, o tamanho importa.

Sutiã vem do francês soutien, que significa suporte, apoio. A peça de roupa feminina serve para sustentar e proteger o peito, as duas coisas ao mesmo tempo, contrariando a lei da gravidade. Na Grécia Antiga, dois mil anos antes de Cristo nascer, as mulheres usavam tiras de pano para modelar os seios e algum tempo depois passaram a enrolar o tecido junto ao peito para evitar o desconforto de balanço atrás de balanço. No início do século XX, a americana Mary Phelps Jacob juntava dois lenços de seda, um cordão e fitas cor-de-rosa. E o sutiã ganhou forma. Torna-se símbolo de feminilidade, da luta das mulheres, objeto de sedução.

Há quem não viva sem ele colado à pele, há quem o dispense da rotina sem qualquer peso na consciência. Trata-se de roupa interior, não visível na primeira camada de vestuário. Um acessório que ganhou poder e seduziu o mercado. Todavia, cientificamente falando, não há uma diretiva mundial que torne o seu uso obrigatório, que coloque benefícios para a saúde de um lado e prejuízos do outro. Também não há uma idade estipulada para começar e deixar de usar. Há indicações, conselhos, situações, precauções. Usar ou não usar sutiã? A resposta está no peito das mulheres. E, em certa medida, no tamanho também.

Cada caso é um caso. As mamas não são todas iguais, como se sabe. As mulheres idem aspas. “O uso do sutiã tem muito a ver com o conforto da mulher”, adianta Ana Correia Oliveira, médica de Medicina Geral e Familiar no Hospital Lusíadas do Porto. “A mulher pode usar ou não, clinicamente não temos indicações precisas.”

A ciência não obriga todas a usar sutiã, mas há situações em que não se deve facilitar. A bem de outras partes do corpo. Mulheres de peito pequeno podem ou não colocá-lo, mulheres de peito grande não o devem dispensar. Por uma questão de postura. Um peito maior pode interferir no bem-estar da coluna. “Com a curvatura das costas, há reduções mamárias feitas por causa disso”, especifica a médica. Peso à frente, costas curvadas.

Previne, não salva

As mamas não são um músculo. Estão, isso sim, sobre o músculo peitoral. São uma parte do corpo constituída por três tipos de tecido: adiposo, conectivo e glândulas mamárias, que produzem o leite que é conduzido até aos mamilos. As glândulas andam por todo o seio, distribuem-se pelo espaço que ocupam. O peito prolonga-se na vertical, geralmente a partir do nível da segunda costela até à sexta ou sétima. Um seio jovem tem, em média, 21 centímetros contados entre a parte superior do mamilo e a base do esterno. O peito tem gordura, tem nervo, tem vasos sanguíneos. É um pedaço de pele delicado e sensível, com alto potencial erógeno.

As mamas nascem, crescem, e sofrem transformações ao longo da vida da mulher. Despontam na puberdade, mais tarde ou mais cedo na vida de uma adolescente, não há uma idade fixa, e o crescimento é estimulado pelas hormonas sexuais – por isso, crescem nas mulheres e não crescem nos homens. Aumentam durante a gravidez, e o estrogénio e a progesterona são responsáveis por isso porque sobem nos seus níveis, e durante a amamentação produzem leite. Usar ou não usar sutiã é uma questão de conforto, de postura, e também cultural. Se todas usam é porque é para usar. “Também é uma questão de contexto social”, comenta Ana Correia Oliveira.

Cada mama tem a sua forma e feitio. O seu uso pode ser uma questão estética? Também, mas não só. As mulheres que praticam desporto não devem facilitar. O sutiã protege de múltiplas e sucessivas movimentações do corpo, de impactos inesperados, com ou sem bola. Segundo Ana Correia Oliveira, o sutiã deve fazer parte da roupa interior de quem pratica desporto, sobretudo de alto impacto, por quem corre, por quem salta. Até porque quando os pés batem no chão, as mamas sentem.

António Conde, cirurgião plástico, coordenador dessa área no Hospital Lusíadas do Porto, concorda. “As mulheres que praticam desporto devem usar sutiã de contenção que impede as oscilações violentas das mamas”, frisa. Na sua opinião, o sutiã é “um utensílio fundamental.” Peito grande exige sutiã. “Quanto maior for a mama mais suporte precisa”, sublinha. Mas na maior parte das mamas pequenas e médias, o uso é dispensável, não é preciso contrariar a lei da gravidade e os benefícios não são confirmados pela ciência.

Na maior parte das mamas pequenas e médias o uso é dispensável. Não é preciso contrariar a lei da gravidade e os benefícios não são confirmados pela ciência

O sutiã segura a mama e define a sua forma. Sabe-se e sente-se. No aumento e redução mamária, o seu uso é obrigatório pelo menos durante as primeiras semanas depois da cirurgia. Depois disso, também convém. “Para readquirir a forma ideal”, explica o cirurgião plástico. E dormir com ou sem? Em condições normais, sem. Na horizontal, a lei da gravidade não se aplica. Salvo alguma indicação médica.

Por último, e talvez o mais importante. O sutiã contraria a flacidez dos seios? Sim e não. Previne, mas não salva. “A flacidez da mama tem sobretudo a ver com a idade da mulher”, refere Ana Correia Oliveira. “O sutiã previne a ptose, o cair da mama”, diz António Conde. Principalmente em tamanhos consideráveis. Seja como for, a flacidez da mama é inevitável com o passar dos anos – a partir de determinada idade é complicado contrariar a lei da natureza, a lei da gravidade.

De qualquer forma, o sutiã (e hoje há tanta oferta para todos os gostos e ocasiões, copas com várias letras, etiquetas com vários números, com ou sem esponja, com ou sem aros) dá aquele toque de peito firme e hirto em qualquer momento. Em cores diversas e tecidos diferentes. O importante é escolher o que melhor se adequa ao tamanho e ao feitio.

A ciência não é taxativa nesta área em concreto. O uso do sutiã democratizou-se e tornou-se uma espécie de norma instituída. Com alguns benefícios à mistura.