Mónica tinha quase 38 semanas. Maria Leonor 40 semanas e três dias. Martim 40 semanas. Tomás 36. Os seus corações pararam na barriga das mães. Morte fetal. Uma dor que rasga a alma. Uma culpa que se entranha. Uma ferida que não fecha. Como se sobrevive a um berço vazio?
Mónica foi a enterrar no dia em que devia ter nascido. 11 de janeiro de 2006. Uma semana antes, o mundo desabou quando o seu coração parou na barriga da mãe. Nenhum batimento cardíaco, nenhuma explicação. Morte fetal às 37 semanas e meia. Passaram-se 14 anos e está tudo tão presente. Sempre esteve, sempre estará. Mónica nunca será esquecida porque faz parte da família. O irmão sabe que a mana é uma borboleta branca que voa na terra e dorme no céu. “Na nossa casa, batem três corações, mas somos quatro.” “É a minha dor que a faz viva”, diz Sandra Almeida, mãe de Mónica.
Sandra queria ser mãe, já tinha passado dos 30, estava numa boa fase a nível profissional, havia sintonia com o marido. Demorou ano e meio a engravidar e a boa-nova chegou em maio de 2005, no mês do seu aniversário. “Fiz tudo certinho e direitinho antes de engravidar”, conta Sandra, 47 anos, auxiliar de ação educativa.
“A Mónica veio com o kit completo.” Sandra engordou quase 40 quilos, enjoos nos primeiros meses, até enjoou o amarelo. A gravidez corria bem, acompanhada por duas médicas, parto previsto para 11 de janeiro de 2006, antes das 40 semanas, por causa do excesso de peso da mãe. Na última ecografia, três dias depois do Natal, a bebé tinha baixado de percentil, de 50 para 25, mexia-se pouco. Disseram-lhe que estava tudo bem. “Eu, mãe de primeira viagem, se me dizem que está tudo, está tudo bem.” Mas não estava.
A cardiotocografia seguinte, exame que avalia o bem-estar fetal, estava marcada para 4 de janeiro, disseram-lhe para não ir sem comer. Assim fez. Maquilhou-se antes de sair de casa, coisa rara em si, telefonou à mãe perto da ponte Vasco da Gama, conversou com a sogra, foi buscar o marido ao trabalho. “Estava muito feliz, ia ter a Mónica em casa.” E sempre que alguém lhe perguntava se estava tudo bem, respondia feliz: “Os bebés estão sempre bem na barriga da mãe”.
Deitou-se na marquesa, tentaram encontrar o foco cardíaco, nada, tinha de ir para o hospital mais próximo. E, depois, aquela frase da médica: “Não lhe posso garantir que a sua filha esteja viva”. Sandra e o marido gelaram. Foram para o Hospital de Santa Maria, em Lisboa, Sandra dizia que sentia a filha mexer dentro de si. Entrada nas urgências, exames, um silêncio brutal, e a frase: a sua filha morreu. “Não há outra forma de dizer isso, pode ser mais dura ou mais simpática, mas não há outra forma de dizer isto.” Pediu para chamarem o marido. “Ali, de repente, perdi o chão. Estava há 37 semanas e meia a projetar um futuro. O momento do parto, as noites em que a minha filha não me ia deixar dormir, que ia ter o feitio da mãe, o primeiro dia na creche. E a vida deu-me zero. De repente, já não tinha futuro, não conhecia o meu futuro sem ela.”
Tainá Ornelas, 37 anos, administrativa, passou por três abortos espontâneos antes dos três meses. À quarta vez, no início, não quis contar a ninguém, a perda podia repetir-se. Às 24 semanas, a tensão arterial subiu, as análises tinham detetado proteína na urina, a médica não achou relevante. No final de janeiro, Maria Leonor tinha dois quilos, deveria nascer a 30 de março de 2014. Às 36 semanas, nova ecografia, marcaram uma outra para as 39, seria a quarta. Foi difícil encontrar o foco do coração, Tainá sentia que a bebé não se mexia há alguns dias. Disseram-lhe que era normal, a bebé era grande, faltava-lhe espaço. Uma ecografia que não durou cinco minutos e a garantia de que tudo estava ótimo.
A 29 de março, véspera do parto, Tainá sentiu uma dor no baixo-ventre, fez a vida normal, ao final da tarde ligou à mãe e foi quando sentiu a filha mexer-se para o lado esquerdo, viu um alto na barriga, que a magoou, e a bebé voltou ao lugar. Depois do jantar, Tainá sentia que Maria Leonor estava demasiado quieta. Não era normal, mexia-se quase sempre depois das refeições, o pai falou com ela, não reagiu à sua voz, o que não era habitual, não reagiu à música, nem ao barulho dos gatos. Nada. “Antes pecar por excesso.”
Foram para o Hospital de Cascais. Tainá percebeu que a luz do coração no ecógrafo não estava a piscar. “Não conseguiam ouvir o coração dela.” Tainá percebeu e pediu o marido. “A bebé já não tinha batimento cardíaco, não tinha vida.” Não conseguia chorar, o marido ficou desesperado, uma avalanche de emoções, ligar à família, aos amigos, ao tio padrinho que tinha vindo do Canadá. Tainá a preparar-se para um parto normal. Nada fazia sentido, um absurdo, e uma dor que a esmagava por dentro: “Não quero mais filhos, não nasci para ser mãe”. Maria Leonor tinha 40 semanas e três dias.
Martim tinha 40 semanas. Era a segunda gravidez de Gabriela Guedes, já era mãe de um menino de oito anos, até aos seis meses foi acompanhada no privado, passou para o público, na reta final detetaram que tinha pouco líquido amniótico, que o bebé tinha de nascer o quanto antes. Um dia no centro de saúde, outro dia no Hospital de São João, no Porto, imenso tempo em ecografias, marcação de uma cesariana que tinha de ser autorizada, cesariana recusada, indução de parto normal, e a vida parou no último exame. “Já não tinha batimento cardíaco, o mundo desabou”, lembra Gabriela, de 44 anos, gestora de programas. Pediu para chamarem o marido que vinha com as malas e a máquina fotográfica nas mãos. Deixou cair tudo ao chão. “Como era possível se andei uma semana inteira no hospital?”, era a pergunta repetida ao limite. Martim morreu com falta de oxigénio. Foi há oito anos e nove meses.
“Estás a gozar com a mãe, não estás?”
Naquele 4 de janeiro de 2006, Sandra queria deixar-se ir, nada fazia sentido, uma culpa apertava-lhe o coração. O marido a sofrer tanto quanto ela. Enquanto ele ligava à família e aos amigos, ela entraria em trabalho de parto, à espera que o seu corpo fizesse o que tinha de ser feito. Pensou em tudo, que queria voltar a ficar grávida, que tinha perdido uma batalha, mas não a guerra, que os médicos podiam estar enganados. “A ser verdade, queria que tudo terminasse rapidamente, arrumar numa caixinha, e seguir em frente.”
Foram 38 horas em trabalho de parto, Mónica nasceu a 6 de janeiro às 8.45 horas. Ouviu o médico dizer o peso, 2,715 gramas, ouviu um bebé chorar no bloco ao lado, disse para si mesma, ainda bem que ali estava uma vida, que iria voltar, que ia correr tudo bem. Mas, naquele momento, achou que merecia o castigo de não ver a filha e pediu para a levarem. Do corredor, ouviu a voz de dor do marido que queria ver Mónica que já tinha sido levada para a morgue.
Naquele dia, o mais difícil da sua vida, Tainá estava desperta, não conseguia chorar, não conseguia dormir, olhava para a barriga e pensava “estás a gozar com a mãe, não estás?”. Pesquisou na Internet, percebeu que havia casos iguais, pensou que havia um longo caminho a percorrer e que ia voltar a ser feliz, não completamente depois de tão enorme perda. A bolsa de águas rebentou e Tainá viu o líquido amniótico escuro. Quase 20 horas depois, desabou, descontrolou-se, dores de parto, gritou que não era capaz, queria fugir dali, desaparecer. Uma enfermeira de olhos azuis acalmou-a, a força para a bebé sair tinha de ser feita apenas com a sua ajuda. Maria Leonor saiu, Tainá sentiu-a, ao de leve, na sua pele. Pesava quatro quilos, media 52 centímetros. O casal já tinha decidido não a ver. Tainá foi para o quarto e chorou, chorou, chorou. “O meu maior medo era sonhar com ela.” Teve alta, chegou a casa, ficou sem chão. “O quarto estava todo preparado, fui lá, e chorei. Senti-me a pior mãe do Mundo.” Tinha tido um bebé e chegava a casa de braços vazios.
Morte fetal. Como se explica a morte dentro do útero? “Há múltiplas causas para as mortes fetais, mas na grande maioria não se chega à razão pela qual acontece”, responde Nuno Clode, obstetra, presidente da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Medicina Materno-Fetal. Pode ser a placenta que descola totalmente, uma diabetes descontrolada, tensão arterial elevada, restrições no crescimento, uma hemorragia maciça. “Nunca se deve penalizar uma mãe por uma situação destas.”
Nuno Clode adianta que o parto vaginal, mesmo nestes casos, é o melhor para a mãe. Melhor recuperação, melhor para futuras gestações. Emocionalmente é terrível. “É muito doloroso passar por tudo e não ter nada, ir para casa completamente vazia.”
No ano passado, segundo o Instituto Nacional de Estatística, morreram 303 bebés com 28 ou mais semanas de gestação e com menos de sete dias de idade. São os óbitos perinatais. Em 2018, foram 374, no ano anterior 286. Na última década, estes números nunca chegaram aos 400, o mais elevado foi 383 em 2012, o mais baixo de 285 em 2013.
“Era o momento para o conhecer, não para o perder”
Sandra queria fazer o luto rapidamente, mostrar que estava bem, mas, por dentro, completamente destruída. Tentava meter na cabeça “sou uma pedra, sou uma pedra”. Não era. Viu o seu pai chorar pela primeira vez na vida. Teve alta, o marido a tratar das burocracias do funeral, de madrugada, para que Sandra não se apercebesse. Arrepiou-se quando soube que diziam que a sua filha não tinha nome, não tinha pai. Foi a agência funerária que reconheceu quem era o pai. E a certidão de óbito tinha o nome de certidão de depósito fetal. Ficou indignada.
Antes da autópsia, o casal foi à morgue. Mónica estava numa marquesa de alumínio, embrulhada numa manta. Tinha muito cabelo que lhe tapava as orelhas. O marido fez-lhe uma festa, Sandra congelou. “Tinha muita vergonha, achava que tinha sido eu, sentia-me culpabilíssima.” Arrepende-se de não ter pegado na filha, de não lhe ter tirado uma foto. Na quarta-feira, 11 de janeiro, dia para que o parto estava marcado, foi o funeral no lote dos fetos, como lhe chamam. O coveiro chorou. “Estava a enterrar o meu futuro, um bocado de mim morreu ali. O berço branco da minha filha foi um caixão.”
Gabriela viu o filho no dia do funeral, na igreja, caixão aberto para a família e amigos chegados. Pensa que devia ter pegado no filho ao colo quando nasceu, que devia ter tirado uma foto, se calhar facilitava um luto que custa a fazer. São pensamentos que vão e voltam. Sente que esqueceu o rosto, queria ter algo para olhar, para recordar. “Era um bebé, era o meu filho.”
Maria Leonor foi cremada. A explicação da morte foi dada com uma trombose nos três vasos do cordão umbilical e um descolamento da placenta sem hemorragia.
Sofia Alves é enfermeira, estudou a perda perinatal na sua tese de mestrado, apresentada no início de 2018 na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra. Ouviu a dor de quem perde um filho antes de nascer, percebeu que as redes de apoio são essenciais para o luto, que esta perda inesperada e traumatizante não é valorizada pela sociedade, que os profissionais de saúde têm dificuldade em lidar com a situação e com os pais. Sofia dedicou o seu trabalho de mestrado ao filho Tomás que às 36 semanas não sobreviveu a um parto por cesariana. “Era o momento para o conhecer, não era o momento para o perder.”
Há pouca literatura sobre o assunto, Sofia estava a acabar a especialidade em saúde materna, estava grávida. Foi há quatro anos. Tinha placenta prévia, houve um descolamento abrupto no momento do nascimento. Foi a 10 de junho de 2016, Portugal tinha acabado de vencer a França no Europeu. Lá fora, apitos, buzinas, euforia. Foi nesse clima que entrou na sala de partos. “Ia conhecer o meu campeão naquele dia.” Quando acordou, deram-lhe Tomás adormecido para os braços. O contraste com a alegria lá fora e uma dor dilacerante lá dentro. “Ver o Tomás foi dos melhores e piores momentos da minha vida”, confessa.
O marido passou a noite na maternidade, a segunda já não deixaram. E os porquês constantes. “Será que foi o meu corpo que me atraiçoou? Será que devia ter feito alguma coisa diferente?” Chegou a casa e nada fazia sentido.
Sofia perdeu a conta às vezes que ouviu “tens de te levantar, tens de te erguer”. “Ninguém valoriza muito a dor que uma pessoa está a sentir, como a sociedade não viu, não vivenciou, não reconhece. É um filho gerado no nosso útero, é nosso, é uma dor que vai ficar para sempre.”
Na tese de mestrado, Sofia fala das emoções dos casais que entrevistou. Tristeza, culpa, raiva, choque, desespero, desamparo, choro. A culpa é a manifestação mais evidente e há diferentes formas de fazer o luto. As mães exteriorizam mais, os pais refugiam-se no silêncio. Sofrem ambos. “O casal pode superar o luto de formas diferentes. O sofrimento não é só da mãe, também é do pai. É fundamental a valorização da dor do casal. A dor e o sofrimento vão estar sempre, há um vazio independentemente de haver um outro filhote.” Há dez meses, Sofia voltou a ser mãe de um menino.
A culpa, a saudade, o colo vazio
Sandra é teimosa, obstinada, falar da Mónica é o que a salva. Foram precisas muitas muletas para se manter de pé. O pior momento era quando ia tomar banho. “Toda eu era mãe e não tinha a minha filha.” Não conseguia estar sozinha em casa. E, não, não era preciso ouvir que tinha de seguir em frente. “Não me digam para esquecer alguém que amo muito.” Não lhe digam para não chorar, não lhe digam para não se lembrar, não lhe digam que já passou. Procurou os porquês da morte da Mónica, ficou sem resposta, não havia motivo no relatório da autópsia. Morte súbita no útero, sem causas conhecidas. Em agosto de 2006, Sandra estava grávida novamente, sentiu que tudo ia correr mal, que ia passar por tudo outra vez, andava a lamber feridas. Aos sete meses da nova gravidez foi capaz de arrumar o que era da Mónica. Desenhou a filha, colocou-a numa moldura, colocou uma ecografia na mesinha de cabeceira. E o seu filho nasceu bem e saudável em abril de 2007.
Tainá voltou a ser mãe de um menino em junho de 2015. Gravidez vigiada, parto rápido, nascimento às 37 semanas. Há datas que doem, aqueles pensamentos de como seria – o aniversário, a entrada na escola. É no braço do marido que chora sempre que precisa. “Há dias que são muito maus, aprendi a viver com esta falta constante.” Falar ajuda muito. “O caminho é enorme e vai doer, vai doer o resto da vida. Mas as pessoas não nos dão direito a sofrer. Se não conseguem lidar, ao menos que nos respeitem.”
Gabriela passou muito tempo na cama, quando voltou ao trabalho acabou por ser despedida, reconhece que com razão. “Apaguei para o Mundo, a vida das outras pessoas continuava e a minha parou.”
Porquê? Porquê? Porquê? “Foi muito difícil, sempre que falava do Martim, fazia-se um silêncio, e as pessoas ficavam congeladas.” Engolir comentários “já passou” ou “foi melhor assim” doíam imenso. “Uma coisa é ter o corpo estragado, uma cicatriz, o peito inchado, e ter ali o nosso bebé, é uma sensação de conforto. Outra coisa é ter um colo vazio.” A ausência de memórias remói vezes sem conta. Os médicos falaram-lhe em falta de líquido amniótico, que o bebé tinha duas circulares à volta do pescoço, um rim dilatado. Martim tinha de nascer. Com ou sem problemas. “Quem tinha de lidar com essa situação era eu e o meu marido. Éramos nós, mais ninguém.” O casal avançou com um processo na justiça por negligência. O caso foi arquivado. “Fiquei de consciência tranquila, estas coisas não podem voltar a acontecer.”
E um dia foram acampar com uns amigos, cruzaram-se com um cão esquelético, trouxeram-no para casa. “Foi ele que me salvou, que me obrigou a sair de casa, a passear, a falar com outras pessoas.” “Aos poucos, comecei a sair do meu casulo”, suspira Gabriela. Nunca se recupera, nunca se resolve uma dor assim, jamais se esquece.
Sandra Cunha é psicóloga e presidente da Associação Artémis, que surgiu em 2005 para dar apoio a quem perde um filho na gravidez, com sede em Braga. Não se fala muito deste assunto e esse é um tabu que não tem sido fácil quebrar. As mulheres sentem que ninguém as entende, que falam uma língua diferente. “As pessoas querem falar, sem qualquer tipo de juízo de valor, não fazer de conta que o bebé não existiu. Existiu e vamos falar dele.” Mas há ainda muita dificuldade em procurar ajuda. “O homem não se permite exteriorizar, o pai vê-se na obrigação de não poder quebrar”, sublinha.
Os depoimentos de figuras públicas ajudam. No início de outubro, a modelo Chrissy Teigen e o cantor John Legend perderam Jack, o terceiro filho, durante o parto. O casal partilhou a dor com imagens abraçado ao bebé. Beyoncé já havia partilhado que tinha tido dois abortos espontâneos, Ivete Sangalo também passou pela mesma experiência e falou do assunto. Nesta semana, Meghan Markle revelou que sofreu um aborto no verão passado. A duquesa de Sussex e o príncipe Harry perderam o segundo filho.
Em 15 anos da Artémis, Sandra Cunha refere que o sistema não mudou assim tanto. Só depois de três perdas é que se faz uma avaliação genética, a luta que foi para que estas mães não fossem para as enfermarias das parturientes – mesmo assim ainda há hospitais que colocam a mulher onde há cama disponível. A vertente humanista dos profissionais de saúde, a sensibilidade de quem está ao lado do casal, o timing das perguntas, as palavras de conforto, o segurar na mão. “Mostrar empatia e respeito. Um abraço não faz de um médico menos médico.”
A Artémis, neste momento, não tem protocolo com nenhum hospital para prestar apoio psicológico, de forma voluntária, a estes casais. E as tentativas foram muitas. “Noventa e nove por cento dos hospitais nem sequer nos respondem. Entendemos as necessidades dos hospitais, mas não podem ficar indiferentes a estes pais. O apoio psicológico continua a ser muito pouco, a psicóloga mostra-se disponível, mas depois fica por ali, marca-se uma consulta passado meio ano e não há continuidade.” A Artémis já tentou que 15 de outubro fosse o Dia para a Sensibilização da Perda Gestacional, recolheu assinaturas, apresentou uma petição na Assembleia da República. A vontade foi chumbada. “Não seria para amenizar a dor dos pais, não era esse o objetivo, mas para se falar do assunto.”
As mães não se calam. Sandra, Tainá, Sofia. Gabriela falará do seu Martim para sempre. “Tenho dois filhos, um na terra e um no céu. Falo do meu Martim sempre que quero, sempre que preciso. Ele existiu, cresceu dentro de mim, vou continuar a falar dele sempre. O Martim faz parte de mim.” Para sempre.